terça-feira, janeiro 14, 2014

MIGUEL SOUSA TAVARES - FRACA HOMENAGEM

1- Se o Benfica- FC Porto era para ser o último acto das homenagens públicas a Eusébio, foi uma fraca homenagem. Eu estava à espera, sei lá, de ver o Benfica todo equipado de negro e o Porto de branco, de ver os jogadores de ambas as equipas irem curvar-se diante da bandeira gigante com a cara de Eusébio, enfim, qualquer coisa de verdadeiramente diferente e marcante - que não houve.

Se a homenagem era para ser o próprio jogo, pois foi uma mau jogo de futebol por mais que a euforia de alguns críticos profissionais com a vitória do Benfica lhes tenha ofuscado a lucidez. Se bom futebol é aquilo, já devem ter esquecido o que é um bom jogo. Nenhuma das equipas se safou e a pior ainda foi a de arbitragem (como, aliás, é crónico com Artur Soares Dias, um árbitro que promete sempre muito e raramente cumpre).

Para homenagear Eusébio, restou assim ao Benfica a vitória sobre o FC Porto, que muitos benfiquistas já haviam preconizado como a verdadeira homenagem. Fraco consolo, digo-lhes eu. O Benfica que homenageou Eusébio jogou sem um único português, o que não deixaria o king particularmente feliz. E jogou como eu nunca o tinha visto jogar na Luz: com dez homens atrás da linha da bola desde o primeiro ao último minuto, antes mesmo de ver o primeiro golo, logo aos 13 minutos, cair-lhe do céu sem nada ter feito que o justificasse, e mesmo depois de estar a ganhar por 2-0 com o adversário reduzido a dez jogadores. Nenhum lateral ultrapassou, uma vez que tosse, a linha do meio campo e o ponta-de-lança praticamente não tocou na bola. Jogou sempre à defesa, recolhido atrás e apostando no contra- ataque (hoje, esta táctica tem um nome mais fino: diz-se que «jogou com o bloco baixo e transições rápidas»). Logicamente, criou mais oportunidades de golo (mas só depois do 2-0, quando teve duas), pois é mais fácil tê-las quando o adversário está todo lançado para a frente e abre espaços na sua retaguarda.

Mas, quem não tem cão caça com gato e, por isso, só posso reconhecer mérito a Jorge Jesus. Não teve vergonha de mostrar que tinha medo do jogo e do FC Porto e o jogo mostrou que tinha razão para temer: apesar de todos os habituais erros de casting e de estratégia de Paulo Fonseca, ficou-me a impressão que o futebol que o Benfica actualmente joga consegue ainda ser mais medíocre do que o do FC Porto. Onde, por comparação com o treinador portista, Jesus mostrou coragem foi na escolheu do guarda-redes: Artur andava há muito a dar sinais de instabilidade, enquanto que Oblak parecia dar garantias de não comprometer. E ele atreveu-se então a fazer aquilo que os treinadores portugueses detestam fazer, sobretudo na baliza, que é tirar o consagrado, por mais que ele falhe, para dar lugar ao novato, por mais que ele prometa e justifique.

Já Paulo Fonseca foi fiel à sua filosofia, que há-de levar até à derrota final: a terra move-se, mas ele não. Depois de esta época ter visto Helton voltar a falhar em vários jogos decisivos, depois de ter visto Fabiano corresponder quando é chamado, como em Alvalade na semana passada, ei-lo que a) dá o seu aval à renovação do contrato de Helton, até aos 38 anos, e b) volta a remeter Fabiano para o banco de suplentes. Calcula-se o entusiasmo e a motivação do jovem guarda-redes! Quanto ao bom do Helton, lá voltou a mostrar que, independentemente das suas reconhecidas qualidades entre postes, faltam-lhe outras três que são absolutamente imprescindíveis quando se guarda a baliza de uma equipa com altas aspirações: saber jogar com os pés, dominar o jogo aéreo e não falhar nos grandes jogos. Anteontem, Helton lá voltou a lançar o pânico entre os seus, com um daqueles desastrados pontapés de reposição directamente para o ataque adversário; lá voltou a sair em falso a um cruzamento na pequena área, escancarando a baliza para o golo de Garay, e repetindo a graça depois a favor de Matic, que não aproveitou; e assim lá voltou a falhar num jogo onde tal não lhe era consentido.

E se Helton ofereceu o segundo golo ao Benfica, Lucho ofereceu o primeiro, actuando na função de pivot defensivo, que Paulo Fonseca lhe inventou. Já perdi a conta aos golos que o FC Porto ofereceu esta época aos seus adversários. Cedo, aliás, se percebeu (e vem percebendo) que Lucho não está em forma, entrou no ocaso da carreira: também vai renovar. De fora, ficou um jogador que há muito Paulo Fonseca riscou e tenta destruir, um fora-de-série, capaz de resolver jogos como o da Luz: Juan Quintero, mais um que se vai perder para o estrangeiro. Mas quando um treinador prefere o Varela ao Iturbe e o Licá ao Kelvin, não é de esperar que ele jamais aposte em novos jogadores e que revele um mínimo de lógica ou de justiça nas suas escolhas. O problema, como já o disse várias vezes, não é só o que a equipa perde momentaneamente: é o que o clube desperdiça de património.

O melhor do FC Porto, aquilo que ainda resta de três épocas de má orientação, é a atitude dos seus jogadores, aquele ADN de campeões que está lá dentro e que às vezes até consegue resistir ao próprio treinador. Em campo, os jogadores mostraram uma atitude de inconformismo e de revolta, às vezes desespero, que nem a expulsão de Danilo desarmou. De facto, resistiram a quase tudo: aos erros próprios, aos erros do banco e à contribuição de Soares Dias para a homenagem a Eusébio.

Pelos critérios em vigor entre nós. Soares Dias perdoou um penalty a Mangala. Mesmo tendo sido bola contra o braço e cabeceada à queima-roupa, pela doutrina dominante (que não é a minha) tinha sido penalty. Mas erro sem influência no jogo, porque, na sequência da jogada, Helton corrigiu o erro do árbitro. Antes também escapou ao liner o off-side de Jackson, mas de novo sem consequências no jogo. Mas consequências, sim, e graves, tiveram os três erros subsequentes de Soares Dias, e todos contra o FC Porto. A interrupção do jogo, em benefício do infractor, quando Jackson entrava na área isolado e pelo centro, é um erro técnico grave e imperdoável, que representou, pelo menos, meio golo roubado ao FC Porto. O empurrão por trás de Garay a Quaresma aos 74 minutos, é penalty e expulsão, de Vladivostok à Terra do Fogo. No mesmo minuto, novo empurrão por trás de Garay, desta vez a Danilo, foi transformado em expulsão do defesa portista. Concedo que aqui se pode discutir a intensidade do empurrão, mas a suposta simulação de Danilo, essa só existiu para disfarçar a má consciência do árbitro. Sem o primeiro erro, Jackson teria, muito provavelmente reduzido para 1-2. Com qualquer um dos dois penalties assinalados, o Porto poderia ter empatado, continuaria a jogar com 11 e o Benfica com 10 e ainda com 18 minutos pela frente. A história do jogo poderia ter sido outra e, em lugar de se concluir pela justíssima vitória do Benfica porque marcou dois golos e o Porto nenhum, estariam os benfiquistas a discutir o erro de Jorge Jesus, dando o jogo por ganho antes de tempo. Se isto tem acontecido ao Sporting (ou ao Benfica), já cá estariam fora dois comunicados, uma queixa à Liga e uma exposição à FIFA, e quatro editoriais indignados de jornalistas desportivos. Siga o baile!

2- A vitória de Cristiano Ronaldo na Bola de Ouro, tem três efeitos imediatos. Primeiro, um acto de justiça. Segundo, um motivo de orgulho para Portugal e para o futebol português. Terceiro, o fim esperado das teses conspirativas, alimentadas ao longo de meses (!) e que nos garantiam que tudo estava feito para que ele não ganhasse. Até o insólito e inexplicado prolongamento do prazo de votação, permitindo incluir o Suécia-Portugal, decisivo para as aspirações de Ronaldo (enquanto Messi estava sem jogar), conseguiu ser visto como uma manobra de bastidores... contra Ronaldo. Se têm ficado sossegados, a Bola de Ouro de Ronaldo tinha ainda mais valor.

in abola

Vou-vos dizer: o MST acaba por me surpreender...não esperava uma crónica como esta...concordo com 80% da mesma...fiquei até surpreendido...será já o efeito do meu estado febril? :-))

Faz uma análise perfeita ao jogo e ao Benfica e à miserável arbitragem...só que quem ouviu muitos egos inchados e os teóricos dos livros com sapiência futebolística de merda , autênticos abutres portistas, também foram na conversa...do "grande benfica"...o "muito melhor"...e isso é o que mais custa ouvir...ainda bem que o Miguel foi de uma lucidez surpreendente...

Depois, claro...não podia faltar...entra nas mesmas conclusões e avaliações precipitadas e até injustas... sobre Varelas e afins já não vale a pena...Quinteros também, não...ele resolvia todos os jogos, menos os que foi titular e não fez nada...mas também acho que não devia ser descartado...a não ser que se passem situações que não nos apercebemos...já se falou em pouca aplicação nos treinos, além de que tem estado lesionado...

Mas acho que volta a ser injusto com o Helton...mesmo esta época o Helton já fez grandes defesas...claro que falhou...e falhou quando a gente menos desejava, mas é a sina dos guarda-redes...quando defendem não fazem mais que a obrigação, quando falham são maus...e também é engraçado os argumentos que o MST utiliza para dizer que o Fabiano é melhor, quando temos tão poucos jogos para avaliar, mas mesmo assim: "saber jogar com os pés"...como se viu do jogo de Alvalade , essa não é das suas melhores características...só sabe aliviar e chutar para onde está virado...posso dizer com quase certeza que Helton é muito melhor mesmo que nos dê calafrios algumas vezes com as suas simulações..."dominar o jogo aéreo"...não foi de certeza absoluta em Alvalade que viu isso...aliás, achei um dos seus pontos fracos...não deu confiança nenhuma...pode até ser melhor que o Helton, mas precisaríamos de mais provas em jogos a sério...e finalmente, a última característica..."não falhar nos jogos grandes"...bem, neste ponto, vamos ter muito tempo para comprovar isso...quando o Fabiano assumir definitivamente a baliza e ser escrutinado jogo a jogo...agora é fácil...um jogo bom, e já é melhor do que todos...deixem de ser injustos com o Helton...apontem os erros mas não arranjem salvadores...e já agora o que é isso de falhar nos jogos grandes? Podem falhar nos pequenos? :-)

Já agora Miguel...então e o Carlos Eduardo, o Salvador, que estava na cara nem uma palavrinha?...