sábado, janeiro 22, 2005

BRAVO José Manuel Ribeiro

Manifesto


Já lhe chamaram radiografia do futebol português, mas os peritos torcem o nariz. Só garantem que não foi uma endoscopia rectal.

Seja qual for o substantivo clínico, o manifesto de Lisboa, que sucede à cimeira de Lisboa, devia ter comparticipação da Caixa, pela qualidade do diagnóstico e pela originalidade das soluções encontradas, apesar de lá faltar uma cada vez mais óbvia, de acordo com opiniões mesmo especializadas: há quem acredite que se Dias da Cunha e Luís Filipe Vieira fossem mudos o futebol português seria bastante mais credível.

No entanto, nenhum dos dois se dispôs a experimentar um período de silêncio e de aceitação dos resultados com fair-play só para ver se é assim ou não. Escapou-lhes a auto-crítica.

Do manifesto, retiramos que Benfica e Sporting não são responsáveis nem pelas derrotas desportivas nem pelas derrotas financeiras, revelações que muito surpreenderam o país.

E também se pode concluir que a maioria dos clubes e membros da FPF são considerados corruptos ou ineptos. A única razão para que a cimeira lisboeta tenha passado por cima dos correligionários, apelando directamente ao Governo, é o facto de supor que a maioria votaria contra estas ou outras sugestões destinadas a credibilizar a actividade. Não há outra explicação.

Benfica e Sporting sabem o que é melhor para toda a gente, à revelia de toda a gente.

O segundo ponto tem a ver com ignorância: nunca a FIFA deixará de punir, sem apelo nem agravo, qualquer intervenção governamental que a assembleia da Federação não aprove, como ontem vincou, pela rama, Gilberto Madail. Já muitos governos antes do português tentaram impor-se e todos foram obrigados a recuar.

O último exemplo conhecido é o grego, ameaçado de exclusão com ultimato e tudo, há três anos. O que resta do manifesto é o mesmo de sempre, de maneira tão adulta e tão honesta como sempre: a culpa é do árbitro.

Este é só mais um episódio a juntar às intervenções rotineiras de Dias da Cunha, ao tratamento dado aos adeptos do FC Porto no clássico já clássico da Luz, à histeria de Luís Filipe Vieira e José Veiga no mesmo jogo, ao DVD do ministro, etc. Sem eles, os episódios, o futebol português seria mais ou menos credível?



José Manuel Ribeiro no Ojogo