segunda-feira, julho 11, 2005

Scarface

Desde que a Comissão de Arbitragem da Liga nomeou para um jogo do FC Porto um árbitro-assistente a quem, na mesma semana, a Comissão Disciplinar havia levantado um processo por alegado erro grosseiro em benefício dos portistas, há motivo para confiar e até louvar os critérios utilizados por Luís Guilherme nas nomeações: só um líder sensível e consciencioso dá aos homens que lidera a hipótese de provarem em campo a sua inocência. Infelizmente, são estes detalhes que costumam escapar aos dirigentes e à crítica quando se avalia um método de escolha dos árbitros, muitas vezes ao ponto de deixar sozinhos na luta aqueles poucos Homens com agá grande capazes de ver para lá das aparências.

Luís Filipe Vieira é um deles. Esta semana chegou àquela curva na estrada do progresso em que todos os grandes líderes percebem que os homens com agá pequeno não estão prontos para a democracia, tal como não estavam para o papel higiénico de folha dupla. Não escrevo isto por causa das suspeitas de distorção dos direitos dos clubes pelo presidente da assembleia geral da Liga - dirigente histórico do Benfica -, na reunião magna de anteontem, na qual uma boa maioria a favor do sorteio não conseguiu sequer concretizar a votação que estava em agenda só porque Luís Filipe Vieira fez cara de nojo; escrevo-o porque não está de facto pronta para a democracia uma maioria que se deixa ludibriar desta maneira.

Daí a irritação de LFV à saída da assembleia: acabara de testemunhar a flacidez das massas, como o jovem Estaline ou qualquer senhora de meia idade. A manobra foi dele, mas certamente esperaria mais dificuldades nessa nobre causa que é a defesa das nomeações. Aliás, quanto mais o Benfica se envolve nela, mais nobre parece. "Quem me prejudicar terá em mim um inimigo", terá dito LFV à saída da reunião (há dúvidas, porque a sintaxe está correcta), assumindo em nome do Benfica a luta contra um sorteio que, em princípio, deveria prejudicar apenas os árbitros. E por que motivo, senão o idealismo desinteressado, haveria o fim das nomeações de prejudicar o Benfica?


José Manuel Ribeiro no Ojogo