quinta-feira, novembro 03, 2005

Preso por ter oito

1. Não é o típico oito ou oitenta e também não é um bom exemplo de quem é preso por ter cão e depois por não ter. Adriaanse foi preso por ter oito e agora está a ser preso por ter oitenta. A infracção é a mesma, só mudou o grau, e chama-se descrença: o holandês não acredita que o centro de gravidade das equipas está no meio-campo e que no devido respeito por essa zona pode estar a resposta para muitos dos problemas do FC Porto - ou então falhou com estrondo na tarefa de criar uma combinação de médios adultos, conhecedores das funções, que saiba controlar ou pelo menos discutir o controlo dos jogos em conjunto. É essa a anomalia comum ao FC Porto ofensivo e defensivo. Em qualquer dos casos, a saída de Paulo Assunção é uma daquelas acções que, no futebol actual - rendido ao poder dos médios -, justificaria um auto de fé. Inexplicável.

2. Perder no Estádio de San Siro é normal - era o que faltava que equipas como o FC Porto ou o Benfica estivessem obrigados a varrer trambolhos do tamanho do Inter ou do Manchester United -; perder a capacidade de circular a bola ou de a manter é que já não se entende. O que aconteceu em Outubro? Como é que uma equipa capaz de fazer, com frequência, dez passes exactos consecutivos se vê, de repente, incapaz de completar dois? Com o fim do ataque desbragado foram-se as virtudes todas? Inexplicável.

3. A culpa não foi de Raul Meireles. E antes dele também não foi de Diego nem de Ibson. Adriaanse não disse que foi, mas apontou o dedo genericamente naquelas direcções, como fez a outros, em ocasiões anteriores, se calhar sem qualquer intenção de os prejudicar. O certo é que, tendo em conta o volume de procedimentos disciplinares, começa a esgotar-se o número de bons jogadores sem motivos para lhe ter rancor. Sem querer discutir o onze do FC Porto, porque muita gente há-de fazê-lo por mim em todas as direcções, ninguém pode deixar de duvidar das possibilidades de uma equipa que dispensa, em simultâneo, Diego, Postiga, Ibson, Lisandro López e um McCarthy de carne e osso (o actual é um ectoplasma). Inexplicável.


José Manuel Ribeiro in OJogo