Nada como ler o José Manuel Ribeiro:
O crescimento acelerado de Juan Iturbe
Nesta altura, Juan Iturbe não é um jogador de futebol. É um marco fronteiriço entre as ilusões dos adeptos e os interesses das administrações. Depois da primeira frase, ficava melhor embarcar na onda e chamar-lhe celestial poeta canhoto, relâmpago em forma humana ou imparável fazedor de sonhos, mas os meus medos - neste caso, de desenvolver diabetes e de passar por palerma - impedem-me. De Iturbe, sabemos o que pudemos ver: alguns bons jogos (na maioria pedaços de jogos porque, apesar de tudo, costuma ser suplente) e uma resma de golos fabulásticos realmente difícil de explicar sem ser por doses de talento e velocidade acima do permitido no código da estrada, seja ele o português, o paraguaio ou o argentino, para citar os dois países que têm ajudado a insuflar-lhe a imagem com a disputa, já muito bélica, pelo direito de lhe dar o passaporte. Do mais que se sabe ou que se aventa a respeito deste miúdo de 17 anos, é mais verosímil que seja de facto o próximo Messi do que a outra fantasia em circulação: a de que o FC Porto conseguiu pescá-lo sem qualquer auxílio do departamento de observação do Benfica. Rezem os portistas para que seja verdade e que a falta desse selo de garantia - sem a qual não haveria taças no Dragão, como se sabe - retire algum ar ao balão que se está a encher em redor de Iturbe. É que quanto mais próximo da realidade este festival andar, mais ligeira será a passagem do fenómeno por Portugal. Se for realmente assim tão bom, alegremo-nos com as vantagens da pobreza observadas por Woody Allen: veremos pouco Iturbe, mas quando formos velhos, os nossos filhos não tentarão declarar-nos legalmente inimputáveis para nos ficarem com o dinheiro.in ojogo