quarta-feira, dezembro 03, 2014

PAULO FONSECA: CORAGEM E COMPETÊNCIA



Nem de propósito: Paulo Fonseca, coragem e competência

Nunca é fácil perceber quando se deve dar um passo atrás para se poder dar dois à frente. O regresso a Paços, arriscado em quase todos os pontos de vista, está a dar razão ao técnico que falhou no FC Porto

No futebol, como na vida, quando se chega a um determinado nível, há sempre o risco de cair na ilusão de que isso é uma «garantia» que valerá para sempre.

Perceber quando se deve dar um passo atrás para se poder dar dois à frente é particularmente difícil quando, como aconteceu Paulo Fonseca, já se tinha chegado ao topo a nível nacional.

Não deve ter sido fácil, mas Fonseca soube chegar à melhor decisão: meses depois de ter sido treinador do FC Porto, aceitou descer alguns degraus na escadaria futebolística, regressando ao Paços de Ferreira, de onde tinha saltado para o Dragão.

Quantos aceitariam fazer o mesmo?

É verdade que não é caso único. Outros técnico portugueses que chegaram a grandes viriam a treinar, mais tarde, equipas bem mais modestas (Quinito, Carlos Manuel, José Couceiro, Domingos...), mas uma passagem tão rápida e logo para o mesmo clube de onde se transferira para o FC Porto, isso sim é caso único.

Os riscos eram evidentes: depois de época histórica no Paços (terceiro lugar, acesso à pré-eliminatória da Champions, campeonato inteiro só a perder com Benfica e FC Porto, o resto bons resultados), Paulo Fonseca nunca se livraria da comparação nesta segunda experiência na Mata Real.

Por outro lado, o tal provérbio que nos avisa que não se deve «voltar a uma casa onde se foi feliz» seria, em situação normal, alerta sério para Paulo Fonseca. Não haveria mais a perder do que a ganhar com este regresso à Capital do Móvel?

Paços-Dragão-Paços...

A 5 de março passado, no dia em que completou 41 anos, Paulo Fonseca consumou a saída do FC Porto, no final de um processo de forte contestação por parte dos (exigentes) adeptos portistas, que dias finais chegou a ser penoso, com o técnico claramente em sofrimento, com expressão de quem praticamente já não dormia.

Nesse dia, escrevi isto no meu perfil pessoal do Facebook: «Paulo Fonseca voltará a ser um treinador de topo em Portugal. Mas ficaram esgotadas as possibilidades de continuar a ser feliz nesta passagem pelo FC Porto. Não faltará muito para voltarmos a vê-lo em bom plano».

O balanço da passagem pela casa portista foi obviamente negativo (a saída precoce diz quase tudo sobre isso). Mas é curioso lembrar que o FC Porto de Paulo Fonseca chegou a liderar a Liga, com cinco pontos de vantagem sobre o Benfica. Falhou na Champions (por pouco, é certo...), mas na Liga Europa ainda conseguiu qualificação perante o Eintracht Frankfurt (já não chegaria à eliminatória com o Nápoles).

Pouco para um clube com a dimensão e os hábitos de vitória do FC Porto (certamente), mas não tão pouco assim para passagem tão fugaz por casa que costuma dar muito tempo aos treinadores para mostrarem o que valem.

Menos alternativas do que Lopetegui esta época

E convém lembrar que Paulo Fonseca, na época passada, estava longe de ter a abundância de qualidade de que Julen Lopetegui dispõe esta época no Dragão...

A verdade é que o regresso a Paços, com os tais riscos que tinha à partida, está a correr acima de qualquer expetativa.

Impossível repetir o terceiro lugar de 12/13? Sim, quase impossível, pelo menos, quando vemos um V.Guimarães tão forte (à frente do FC Porto!) e um Sp. Braga com talento e ânimo para lugar, pelo menos, pelo quarto posto.

Mas o Paços 14/15 de Paulo Fonseca, em poucos meses, mostrou ser muito mais competente, muito mais eficaz e muito mais organizado que o desastroso Paços 13/14, a viver em instabilidade permanente (primeiro a «culpa» era de Costinha, depois passou a ser de Calisto, mais tarde era de Jorge Costa, que só salvou o Paços da queda na segunda mão do play-off com o Aves, para apurar a 18.º vaga de Liga alargada pelo regresso do Boavista...)

Mérito de Paulo Fonseca: e muito. Com um plantel com forte base da época passada (e enriquecido com contratações bem pensadas, como a de Bruno Moreira, por exemplo, que veio do Chaves para ser já o melhor marcador português da Liga), o Paços voltou ao futebol coeso, positivo e equilibrado com que fez história há dois anos.

Escolheu um esquema de 4x4x2 (depois de anos com o Paços em 4x3x3, sob diferentes treinadores), montou equipa que não perde a organização, mesmo quando as coisas não estão a correr bem.

Para já, está a valer o sétimo posto, mas só a um ponto do Sporting, e a apenas dois de Braga e Belenenses.

Mesmo ontem, em jogo que aparentemente não estava a correr tão bem (Estoril a surpreender com vantagem de 0-1, risco de derrota em casa com equipa que estava abaixo na tabela), Paulo Fonseca voltou a responder bem, lançando Edson Paraíba para o golo do empate.

Para se provar qualidade, não é preciso estar-se num grande nem é obrigatório lutar-se pelo título.

É preciso ser consistente, mostrar trabalho continuado. Ganhar sem ser «por acaso», mas por mérito. Saber jogar com o que se tem, dar organização à estrutura e aproveitar as potencialidades das peças que estão à disposição.

Pela segunda vez em três anos, é isso que Paulo Fonseca tem feito em Paços de Ferreira. Com coragem e competência. Oportunidade mais vistosa do que a Mata Real há-de voltar a aparecer. De certeza.

PS: com a exceção do Estoril (que joga, de facto, bem e que dá mostras de ter forte capacidade de subir vários lugares na tabela até ao fim do campeonato, sobretudo agora que deixará de ter a carga europeia a meio da semana), a tabela da Liga mostra, com apenas um terço de campeonato disputado, uma clara divisão entre a primeira metade e a segunda. Do Benfica (primeiro, 28 pontos) ao Marítimo (nono, 15 pontos), identificamos as equipas que melhor joga, têm melhores argumentos e parte, para cada jogo, com fortes hipóteses de vencer; do Moreirense (décimo, 13 pontos) ao Penafiel (18.º e último, com quatro pontos), estão já alinhadas as equipas que simplesmente pretendem fugir à despromoção. Gil e Penafiel, a quatro pontos da Académica (16.ª), correm o risco de descolarem cedo, o que seria péssimo para o interesse da prova. Insisto: coloco a exceção do Estoril, que embora só tenha 11 pontos e esteja num modesto 11.º tem tudo para saltar posições na tabelas nas próximas jornadas




Só falta dizer que viu o orçamento ser reduzido...e corrigir para os EX " (exigentes) adeptos portistas"...eles baixam a crista com um estrangeiro...:-)

Mas esta até não é uma boa jornada para elogiar, pois perdeu um lugar para o Sporting e isso não se admite...:-)

in zerozero


Falta dizer que o FC Porto de Paulo Fonseca foi comer bacalhau com batatas no Natal de 2013 no 1º lugar com 33 pontos...tantos como Benfica e Sporting...

Resta dizer que o FC Porto actual tem 25 pontos...resta dizer que o máximo que pode fazer é 34 pontos até ao Natal...um pontito a mais que o Paulo Ferreira...o que seria de nós se não tivéssemos o Lopetegui...:-)) Sejamos condescendentes e compreensivos e não tão exigentes...ainda se ele tivesse as mesmas armas que o Paulo Fonseca...:-))