Numa entrevista que deu em tempos à "Pública", penso eu, o filósofo americano Daniel Dennet pôs a flutuar uma pergunta retórica a respeito dos pastores evangelistas e das igrejas, como a IURD, a que temos o costume de chamar escroques:
- O que poderiam as pessoas comprar com aqueles vinte dólares que lhes desse mais felicidade?
Era capaz de me lembrar de um artigo ou dois, se me esforçasse, mas percebo a ideia. Scolari, por exemplo. O que poderia a FPF comprar por dois, três ou quatro milhões de euros que desse aos portugueses mais felicidade?
Desde que o tema do seleccionador se tornou espiritual, ao cabo de uma tão rápida quanto profunda - lá está - campanha de evangelização, não há como discutir o prolongamento do episcopado.
O que se deve debater daqui por diante são as questões práticas. Em que dia do mês devemos pagar o dízimo?
De que lado das entradas nos estádios vão ficar as pias de água benta?
Nós, os que pronunciámos o nome do seleccionador em vão, como haveremos de expiar os nossos pecados?
A seguir, quando essas matérias importantes estiveram resolvidas, se houver tempo, talvez o presidente da FPF possa debruçar-se sobre outros assuntos de menor importância que, apesar do entusiasmo unânime com o novo contrato, deviam ser levados em conta.
Não obstante sabermos que Scolari tem o Espírito Santo pelo seu lado e, por consequência, a razão, o conflito entre ele e o FC Porto existe e faz vítimas. Por isso, quando o sr. Gilberto Madail dispuser de uns minutos e já que não teve possibilidade de tomar providências na altura adequada - antes de renovar com o seleccionador -, será bom que dê aos futebolistas e adeptos do campeão nacional a garantia pública de que serão tratados com a dignidade que não lhes foi permitida no anterior consulado de Sua Eminência.
Por muitas, faustosas e fundamentadas que sejam as opiniões, o Diabo não é azul e branco para todos os cidadãos que Sua Estultícia tem agora mais dois, três ou quatro milhões de motivos para respeitar. Religiosamente.
sábado, julho 15, 2006
Sua Eminência deu garantias?
José Manuel Ribeiro no Ojogo: