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Crónicas oportunas de Jorge Maia
Jorge Maia no OJOGO:Paixões
Bruno Paixão errou e prejudicou o FC Porto no jogo da Supertaça. Não viu a bola ser desviada pelo braço de Tonel na área do Sporting, deixando passar em claro uma grande penalidade que poderia ter colocado o campeão nacional em vantagem no marcador. Pior do que isso, até porque o lance da grande penalidade foi suficientemente rápido para lhe valer o benefício da dúvida, resolveu parar o jogo para permitir a assistência a Derlei com uma precisão quase cirúrgica, senão vejam: não parou o jogo quando o jogador se magoou num choque com o companheiro Romagnoli durante um ataque do Sporting; não parou o jogo enquanto a bola esteve na posse de Liedson que nunca mostrou vontade de a colocar fora de campo para o companheiro ser assistido; nem sequer parou o jogo quando o FC Porto lançou o contra-ataque, mas Adriano estava em desvantagem entre Polga e Abel. Parou-o apenas quando Adriano ficou em vantagem no lance e em situação privilegiada para alvejar a baliza de Stojkovic. Um decisão incompreensível e a destempo com prejuízo claro para os portistas. Mas não foi por causa do árbitro que o FC Porto perdeu o jogo. A verdade é que apesar das duas bolas desviadas nos postes da baliza do Sporting, o campeão nacional se satisfez durante demasiado tempo em manter o adversário controlado. Com Raul Meireles colado a João Moutinho e Lisandro amarrado a Miguel Veloso, o FC Porto manteve o lonsago de Paulo Bento controlado, mas perdeu iniciativa ofensiva, deixando Quaresma e Adriano entregues à sua sorte entre os defesas sportinguistas e limitando-se a reagir às incidências do jogo, sem nunca ser capaz de o definir. Uma postura a rever. Com urgência.
Perguntas
Na entrevista que concedeu ao Correio da Manhã durante o último fim-de-semana, Leonor Pinhão admitiu ter sido contratada pela editora D. Quixote para trabalhar na edição do livro de Carolina Salgado, "Eu, Carolina". A dada altura da mesma entrevista, a jornalista e colunista admitiu que a versão final do livro não corresponde ao manuscrito original, sublinhando que tal é absolutamente normal. "Um livro não sai da editora tal como lá chega", refere. É óbvio que não. Todos os livros são editados. São feitas correcções, tiram-se umas coisas, sublinham-se outras, faz-se todo um trabalho de edição que também reflecte a personalidade do editor, neste caso da editora, uma conhecida benfiquista. Ainda assim, nada disso seria relevante se "Eu, Carolina" fosse tratado como uma vulgar obra de ficção, um romance ou uma novela. Acontece que ao livro de Carolina Salgado foi atribuído um valor documental que justificou, entre outras coisas, a nomeação por parte do Procurador Geral da República, Pinto Monteiro, de uma equipa especial liderada por Maria José Morgado para conduzir as investigações do processo Apito Dourado. Aliás, foi com base no valor documental atribuído a "Eu, Carolina" e às revelações cirúrgicas que continha que a ex-companheira de Pinto da Costa foi ouvida pela procuradora e os processos ao presidente do FC Porto, entretanto arquivados, foram reabertos. Ora, tendo ao livro sido atribuído um valor documental, é obviamente relevante que a versão final e publicada não corresponda ao manuscrito original, mais ainda agora que se sabe quem foi responsável pela sua edição. Afinal, que elementos ficaram de fora, com que intenção foram retirados e até que ponto a sua ausência afecta a credibilidade e integridade do documento como um todo? E se isso não é relevante, se afinal o livro não é um documento, como se explica que tenha sido tratado como tal pela Procuradoria da República, e não como uma vulgar obra de ficção, sem qualquer valor jurídico?
Escutas e escuteiros
Pelos vistos, tudo o que Luís Filipe Vieira considerava importante ouvir de Pinto da Costa era a negação da veracidade das escutas que foram realizadas no âmbito do processo Apito Dourado e, depois, cirúrgica e regularmente vertidas na comunicação social. Curiosamente, o próprio presidente do Benfica foi escutado numa longa conversa com Valentim Loureiro durante a qual se manifestou irritado pelo facto de não ser Paulo Paraty a apitar o jogo das meias-finais da Taça de Portugal de 2003/04, partida que o Benfica acabaria por vencer ao Belenenses por 3-1. Durante essa conversa telefónica, Valentim Loureiro tenta apaziguar os ânimos do presidente do Benfica, sem grande sucesso, sublinhe-se, sugerindo-lhe uma série de alternativas a Paulo Paraty que Luís Filipe Vieira vai descartando. "Não me dá garantias", afirma sobre um deles, até se chegar a um nome consensual: João Ferreira. "O João pode ser", refere. Ora, o presidente do Benfica também nunca negou a veracidade desta escuta. Também é verdade que não precisou de a negar, porque a equipa especial nomeada pelo procurador Pinto Monteiro e liderada por Maria José Morgado para conduzir as investigações em torno do processo Apito Dourado não considerou tal conversa relevante. Também nunca explicaram o que torna esta escuta menos relevante do que as restantes, quando parece evidente que a mesma configura a existência de tráfico de influências, tanto mais quando Valentim Loureiro era, à data, presidente da Liga enquanto os árbitros para a Taça de Portugal eram nomeados pelo Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol. Mas, lá está, eu não sou jurista, e tudo isto terá certamente uma explicação lógica.
Lucho
Bastou um jogo a sério para a maior parte dos portistas concluir que Lucho, afinal, é uma necessidade básica, especialmente em épocas de crise. Mesmo um Lucho pouco ostensivo, como aquele que habitou o meio-campo do FC Porto durante a última temporada, mesmo um Lucho assim, espremido até ao tutano pelo clube e pela selecção argentina, desgastado por duas épocas consecutivas sem férias é melhor do que a pobreza mais ou menos franciscana que lhe serve de alternativa. E, assim, com a clareza dos testes laboratoriais e dos exemplos práticos, se percebeu para lá de qualquer dúvida razoável o que levou Jesualdo Ferreira a insistir na utilização do médio argentino durante a última época, apesar de ser evidente, em alguns momentos, que Lucho não estava, nem podia estar, física e psicologicamente ao seu melhor nível. Esclarecida a importância do argentino para a equipa, resta saber até que ponto poderá o FC Porto resistir ao assédio de que o médio tem sido alvo. Para além das cruciais e decisivas questões financeiras, há outros aspectos a avaliar. Lucho voltou a não ter o luxo de gozar férias a sério este ano, marcando presença na Copa América pela selecção argentina. De resto, não se pode dar ao luxo de se concentrar no trabalho porque as notícias de uma eventual saída continuam a suceder-se, tranzendo com elas a promessa de salários verdadeiramente luxuosos. Distrações que podem acrescentar algum desgaste emocional ao inevitável desgaste físico e que se arriscam a tornar Lucho redundante. E de redundâncias está o meio-campo do FC Porto cheio.
Renovação
Apenas três anos depois de ter oferecido à Selecção Nacional a estrutura na qual, embora relutantemente, Luiz Felipe Scolari fez assentar a a equipa vice-campeã europeia, o FC Porto volta a fornecer a coluna dorsal da equipa das quinas. Depois de Paulo Ferreira, Ricardo Carvalho, Nuno Valente, Costinha, Deco e Maniche, o FC Porto renovou-se a si próprio e é agora o maior contribuinte para a renovação da própria Selecção com Bruno Alves, Bosingwa, Raul Meireles e Quaresma. Dos jogadores que participaram na conquista da Liga dos Campeões pelos portistas e na caminhada de Portugal até à final do Estádio da Luz com a Grécia, resta apenas Hélder Postiga como elo comum. Os outros foram vendidos, ou como prefere sublinhar uma parte da crítica, foram desbaratados, enquanto o FC Porto procedia, diziam, ao atabalhoado desmantelamento da equipa campeã europeia construída por José Mourinho. Aliás, não faltou quem visse nesse "desmantelamento" uma espécie de condenação do FC Porto ao degredo dos lugares secundários do campeonato por tempo indeterminado. Curiosamente, o que aconteceu foi precisamente o contrário. Depois de um ano de transição, em que apesar disso lutou pelo título até à última jornada, o FC Porto surgiu renovado e reforçado, pronto para reassumir o domínio do futebol português com a conquista dos dois últimos títulos de campeão nacional com uma equipa nova em folha. E é assim que, apenas três anos depois de Gelsenkirchen, apenas dois após ter "desmantelado" a equipa campeã europeia, o FC Porto volta a ser o maior vendedor do futebol europeu e a base da Selecção Nacional de onde, por sinal, depois de deixarem o FC Porto, Costinha, Maniche e Nuno Valente deixaram também de ser opções.