1- DE JAMES E MOUTINHO: sucumbiram ao perfume do dinheiro do novo-novo-rico do futebol europeu, o Mónaco, o último recém-chegado ao campeonato do fair-play fínanceiro do Sr. Platini. Mas, como para fazer uma grande equipa não basta um livro de cheques de um desses pouco recomendáveis milionários russos, Moutinho e James vão andar para trás, desportivamente. Mais lamentável ainda no caso de James, um fora-de-série e o meu jogador preferido no actual plantel portista. Mas, ao menos, desta vez, reconheço que o negócio era irresistível para o FC Porto. O problema é como sempre, o destino que vai ser dado aos 70 milhões. O FC Porto é o campeão europeu de vendas: na última década, facturou 500 milhões em vendas, mais do que qualquer outro clube da Europa. Não tendo esse dinheiro servido para pagar ou amortizar substancialmente o passivo, torna-se difícil de entender porque é preciso vender os melhores, ano após ano. De qualquer modo, com as suas saídas, abrem-se duas vagas de preenchimento urgente e complicado. O FC Porto já foi comprando alguns jovens, mas não parece que venha daí a solução. Se fosse eu a escolher, no mercado interno, apostava em dois jogadores: Mossoró e Ghilas. Nenhum deles fará esquecer, de forma alguma, quer James, quer Moutinho. Mas com 70 milhões no bolso, dá para comprar não apenas os excepcionais, mas também os muito úteis.
DE VÍTOR PEREIRA (?): pareceu-me evidente que Pinto da Costa, na entrevista à RTP, não disfarçou a vontade de abrir um ciclo pós-Vítor Pereira. Independentemente do desempenho do técnico que o FC Porto inventou e lançou em altos voos, julgo que o presidente portista sente o mesmo que eu: Vítor Pereira, conservador até à medula, é um notável desperdiçador de jovens talentos. Só para que ninguém beliscasse o estatuto do seu inamovível Varela, ele desperdiçou o talento de James em metade da época passada, até ao momento em que precisou dele para ganhar o campeonato; e desaproveitou, sem lhes dar qualquer hipótese séria, Djalma, Candeias, Iturbe e Kelvin — a quem apenas confiou a missão impossível, e milagrosamente cumprida, de lhe ganhar o campeonato, jogando 15 minutos contra o Braga e outros tantos contra o Benfica. O caso mais chocante, porém, foi o de Atsu, um verdadeiro diamante em estado bruto, para cuja lapidação não teve nem visão, nem talento, nem paciência. (Julgo, contudo, que o FC Porto, mesmo a um ano do fim do contrato, não o deve deixar sair por menos que os 10 milhões da cláusula de rescisão. E pode ser que com um novo treinador, que perceba o que tem entre mãos, Atsu reveja a decisão de não renovar). Apesar da campanha montada na imprensa, com a colaboração forçada dos próprios jogadores , para a continuação de Vítor Pereira, eu espero que Pinto da Costa, como sempre, saiba resolver o assunto elegantemente, privilegiando os interesses do clube, acima de tudo.
DE JORGE JESUS (?): Escrevi aqui há três semanas, que, apesar das declarações firmes de Luís Filipe Vieira, nada estava decidido quanto à continuação do técnico benfiquista. O final da época do Benfica e de Jesus, culminando naquela tão feia prestação no Jamor (em vários aspectos, que agora seria de mau gosto enumerar), teve qualquer coisa de tragédia grega. E foi de uma grande injustiça para Jorge Jesus. Mas não está escrito em lado algum que o futebol tenha de ser justo. E o Guimarães aliás, bem mereceu a alegria de um titulo nacional.
DE JOSE MOURINHO: também o final da Taça do Rei, culminando com a sua expulsão e o seu comportamento no banco, foi um final penoso para a passagem de Mourinho pelo Real Madrid. Perdeu muito mais do que ganhou e com a agravante de raramente ter sabido perder. Por uma vez, aconteceu-lhe o impensável de fazer o pleno das críticas; sai de mal com o clube, os adeptos, a imprensa e os próprios jogadores. No seu regresso ao lugar onde foi feliz espera-o tudo menos condescendência. Nunca é tarde para meditar.
DE ALEX FERGUSON:Outro técnico que se despede, mas este da profissão. Não mergulho no mar de homenagens a Sir Alex. Vi-o sempre como uma personagem arrogante, incapaz de reconhecer mérito aos que não pertencem ao clube de milionários do Manchester United, e sem pinga de desportivismo. É fácil ser treinador de sucesso quando se tem dinheiro para comprar tudo o que os pobrezinhos têm de bom. Para grande gáudio dos benfiquistas, Sir Alex declarou um dia que o FC Porto ganhava tanto que só podia comprar os títulos no supermercado. Mas não desdenhava abastecer-se de jogadores no supermercado portista, aproveitando as mais-valias criadas pelo FC Porto e que, nas mãos dele, nunca jogavam o mesmo — como Anderson.
DE DAVID BECKHAM: também se despediu do futebol, ficando para a verdadeira história como um jogador que era jeitoso apenas a cobrar cantos e livres e a promover lingerie masculina.
2- A guerra que o Sporting abriu ao FC Porto a propósito dos valores da venda de João Montinho ao Mónaco, podia ter, à partida, razão de ser; mas, avaliada com alguma calma, nada subsiste de válido.
Podia ter razão de ser, porque, vendendo dois jogadores em pacote e por um preço unitário, a tentacão de baixar o preço declarado por Moutinho para assim ter de pagar menos ao Sporting, era, de facto, muito forte: não sei o que faria o Sporting, em idêntica posição. Todavia, a verdade é que, há três anos, quando se queria desfazer a todo o custo do que chamou «uma maçã podre», o Sporting pôs Moutinho no mercado e não conseguiu melhor do que os 11 milhões que o FC Porto pagou em dinheiro, mais o passe de Nuno André Coelho, um jogador estragado em Alvalade. Se Moutinho hoje valeu 25 milhões, não é porque já valesse isso então, mas porque a camisola e a escola do FC Porto o valorizou para mais do dobro. Nunca o Sporting conseguiu ou conseguiria vendê-lo próximo desses valores e devia era agradecer a quem o fez por si, reservando-lhe uma fatia de 3,5 milhões a titulo de «enriquecimento sem causa», como se diz no Código Civil. O argumento de que Moutinho foi vendido abaixo da cláusula de rescisão, não vale nada; as cláusulas de rescisão só servem para proteger os clubes que não querem vender e, em Portugal, todos querem. Raros são os jogadores negociados de livre vontade que saem pelo preço da cláusula: também James saiu abaixo e Hulk, por exemplo, que tinha uma cláusula de 100 milhões, saiu por 40. A diferença declarada entre os preços de venda de Moutinho e James parece-me bem razoável e até simpática para o Sporting: Moutinho é um grande jogador, um chefe de orquestra, mas não pertence à espécie dos jogadores que decidem jogos e que são os mais disputados. James é um fora-de-série, bastante mais novo e com uma margem de progressão indiscutivelmente maior.
Penso que nem o sportinguista mais feroz defenderia que o preço certo seria o mesmo para ambos: 35 milhões. Deste modo, estamos a falar de quê: de 30 milhões por Moutinho e 40 por James, em vez dos 25/45 declarados? OK, seja: isso daria mais 1,250 milhões para o Sporting. Vale a pena abrir uma guerra e questionar publicamente a seriedade de outro clube por 1,2 milhões de euros? E quando essa guerra tem como único fundamento querer ganhar mais uns euros à custa do mérito alheio? Bruno de Carvalho só sairia com razão disto, se fosse capaz de proclamar «eu conseguia vender o João Moutinho por mais de 25 milhões!». Mas, se assim fosse, porque não se apresentou ao FC Porto com uma proposta superior para a venda de Moutinho? A ver vamos se daqui até ao final do defeso ele consegue vender algum jogador pelos mesmos 3,5 milhões de comissão de mais valias que o FC Porto agora lhe pagou. E, tendo pago no total 14,5 milhões, mais o passe de Nuno André Coelho, avaliado então em 2,5 milhões, se a memória me não falha, o FC Porto equivaleu o mais alto valor alguma vez pago por um jogador do Sporting: os 17 milhões pelos quais Ronaldo foi vendido ao Manchester United. Não chega? Façam melhor.
Hoje não digo nada...concordo com uns pontos, noutros estão completamente em desacordo e parto-me a rir quando chego à parte "Candeias" que não vale a pena dizer mais nada do que já não foi dito...