terça-feira, maio 07, 2013

MIGUEL SOUSA TAVARES - UM DRAMA É OUTRA COISA

UM DRAMA É OUTRA COISA


1-Escrevo antes do Benfica-Estoril da noite passada, e convencido, tal como Vítor Pereira, que, de uma maneira ou de outra, a vitória não terá escapado ao Benfica. No passado recente, o FC Porto viveu vários momentos destes, em que, de repente a época chega ao ponto crucial em que tudo se pode perder e tudo se pode ganhar. O desgaste, que é mais emocional do que físico, é o grande obstáculo a ultrapassar, mas o Benfica ultrapassou o principal no jogo do Funchal e ontem entrou em jogo sabendo que, ganhando ao Estoril, basta apenas, e na pior hipótese (a derrota no Dragão), marcar presença no último jogo, contra o Moreirense, na Luz.

No escuro, aposto, pois, que terá ganho ao Estoril e espero que o tenha ganho limpinho, limpinho. Mas, e depois do que vi nos jogos contra o Sporting e a Académica, devo dizer que, infelizmente, não confio que seja de excluir igualmente a versão sujinho, sujinho, em necessidade havendo. Aliás, para bem do Benfica e do campeonato, seria desejável que, ganhando-o, o faça pelo menos com os 4 pontos de avanço que tem sobre o FC Porto nesta segunda-feira à tarde. Sob pena de para sempre, e injusta ou justamente, terem de arrostar com a memória portista do campeonato Capela. Da mesma forma que o recurso ao estafado truque de anunciar o interesse do Benfica nos serviços futuros de um jogador de um clube adversário nas vésperas de o ir defrontar, é uma coisa feia e que só fica mal a quem se reclama de um legado de verdade e transparência. Esta semana foi Steven Vitória, do Estoril; para semana será Ghílas, do Moreirense. Francamente, não há ali ninguém que perceba o quanto isto desmente a imagem de pureza virginal que se quer fazer passar?

Dito isto, e tal como aqui o escrevi em tempo adequado, estou perfeitamente conformado à perca deste campeonato e não vejo nisso nenhum drama. Drama é a recessão, o milhão de desempregados, os jovens que tém de emigrar porque não há lugar para eles no país em que nasceram. O futebol, que eu amo apaixonadamente desde que me conheço, nunca foi, nem eu permito que vá, além da esquina da vida: jamais estará na rua principal, onde estão tantas outras coisas que valem e significam infinitamente mais. Julgo que a pior homenagem póstuma que me poderiam fazer era enterrar-me com a bandeira do meu clube, como se o meu amor por ele pudesse caracterizar tudo o que eu amei na vida. E é por isso, também, que eu penso que o pior serviço prestado ao futebol é dar voz e guarida aos que, em nome dele, promovem e incitam a imbecilidade, a cegueira e o ódio de massas. Ninguém caracteriza melhor isso do que o vice-presidente benfiquista Rui Gomes da Silva. Escutá-lo na SIC, nem que seja por cinco minutos, assistir ao seu discurso arrogantemente alheio a qualquer preocupação de seriedade factual ou intelectual, ver os seus esgares de ódio pelo adversário, e, enfim, o seu absoluto desprezo pelo futebol enquanto jogo e desafio humano, é perceber quanto é essencial nunca consentir que o futebol vá além da esquina da vida, tropeçando em ambientes infre-quentáveis.

2-Com alguma sorte (sobretudo, contra o Bayer Leverkusen), muitas bolas nos postes, lesões oportunas dos adversários, alguma generosidade arbitral em momentos decisivos, e a incrível capacidade de resolver jogos do mal-amado Óscar Cardozo, o Benfica lá alcançou a final da Liga Europa. Resta o mérito próprio, que obviamente também o teve e que, por isso mesmo, bem podia dispensar o tipo de narração nacionalista/autista anos 60, a que se assistiu na transmissão do jogo contra o Fenerbahçe. E a descoberta da conspiração anti-benfiquista resultante da coincidência árbitro francês/ Platini francês, foi simplesmente notável (porque não seria antes uma conspiração anti-turca?).

Pois o tal árbitro, estranha e coincidentemente francês, até acabou por ter uma prestação assaz simpática para o Benfica na interpretação das faltas, mas sem qualquer influência no desfecho final. É claro que não se deixou ir na cantiga dos quatro penalties por pretensas mãos, reclamados pelos benfiquistas, mas isso apenas serviu para mostrar como aqui, em Portugal, se está a instaurar uma doutrina dos penalties por bola na mão que se presta a toda a espécie de subjectividade, manipulações e discussões estéreis. Quando chegar o defeso e a falta de assuntos mais palpitantes, espero retomar a minha conversa epistolar sobre isto com Cruz dos Santos, que aqui travámos no ano passado. Um ano decorrido e à vista de tantos e tantos casos sucedidos, tenho esperança que ele, pelo menos, reconheça que se criou um problema onde antes não existia, que se tornou obscuro o que antes parecia claro, e que se escancarou uma porta pela qual tantas vezes se falseia a verdade e a justiça de tantos jogos.

3-No rescaldo das mais do que fundadas criticas portistas aos três penalties por marcar no jogo do Benfica contra o Sporting, João Gabriel lá veio, ex-officio, apresentar um pretenso rol de penalties por marcar contra o FC Porto. Não vi nem a conferencia de imprensa que deu, nem as imagens que sustentariam a sua argumentação. Mas, à partida, parece-me que a coisa foi mal feita: se ele tivesse elencado dois ou três penalties por marcar contra o FC Porto, a coisa pareceria verosímil, possível - assim como pareceria verosímil se o FC Porto reclamasse quatro ou cinco por marcar a seu favor. Mas quando João Gabriel reclama nada menos do que oito penalties não assinalados a favorecer o Porto e nenhum em situação contrária, cai na pura propaganda clubística, cujo crédito é o que é. E se lhe parece estranho que o FCP não tivesse, até ao jogo contra o Nacional, nenhum penalty assinalado contra, também eu poderia estranhar então que o Benfica seja, de longe, o clube mais beneficiado com penalties a favor. Mas não estranho nem uma coisa nem outra, pois que é tão normal que a melhor defesa do campeonato seja a que menos penalties comete, como o melhor ataque aquele de que mais penalties beneficia. E, no fim de contas, é claro que as duas únicas coisas relevantes foram aquelas que João Gabriel omitiu: uma, é que é completamente diferente ter 2, 3, ou mesmo 8 penalties não assinalados contra, ao longo de 27 jornadas, ou ter 3 não assinalados no mesmo e decisivo jogo; e outra é que o que importa é o saldo entre penalties a favor e contra e, nesse, o Benfica leva clara vantagem sobre o FC Porto.

4-Notáveis, notáveis, são os esforços que Luís Filipe Vieira faz para não se comprometer com Jorge Jesus nem se descomprometer com ele. Se está tudo bem e claro entre ambos e só falta assinar os papéis, como ele diz, porque não o faz? Porque ainda há muitos benfiquistas que não estão convencidos com Jorge Jesus e o próprio Vieira tem dúvidas e só quer assinar depois de o treinador lhe trazer resultados concretos numa bandeja. E porque Jesus quer um contrato de média/longa duração e Vieira não. Com ambas as partes envolvidas num jogo subtil de cautelas e bluff, parece-me que quem mais arrisca é o presidente do Benfica: ou perde os títulos que já se prepara para festejar, ou vence o que quer e a seguir vai ter de negociar com um treinador com a faca, o queijo os adeptos na mão. A seguir, com toda a atenção.

in abola


Uma pena que tenha feito a crónica antes do Benfica-Estoril...até o Miguel tal como aliás fez o ano passado já tinha entregue o título e dado os parabéns ao Benfica...:-)) Só espero que tenha tanta razão como o ano passado...:-))

Diz ele que perder o campeonato não é um drama...Drama são os desempregados...pois, coisa que o MST andou a fazer todo o ano, de um nojo indescritível com o Vítor Pereira...quer mandá-lo para o desemprego...:-)  Até agora o Vitinho tem mandado o Miguel para o mesmo local do Rui Gomes da Silva...deixando-os com uma azia...espero que este ano faça o mesmo...:-))

E como o Varela jogou mais uma vez bem, ele nem tem palavras para falar na equipa...ainda bem...ele é muito mais eficaz assim...