Começa a semana com isto
Há 11 horas
Vou tentar exprimir tudo o que me vai na alma portista... "FAZEM FALTA PESSOAS COM LIBERDADE PARA DIZER O QUE PENSAM." Rui Madeira
"UMA EQUIPA NÃO SÃO SÓ OS JOGADORES E O TREINADOR; SÃO MUITAS PESSOAS, DESDE O RESTANTE STAFF TÉCNICO AOS ADEPTOS"
Mangala
1- Foi uma semana trágica para os portistas, com uma única excepção: a vitória por 5-0 sobre a tentativa do Sporting de nos ganhar na secretaria o que perdera em campo, na Taça da Liga. Nem sequer o relator do processo no CD da Federação, conhecido por ser sportinguista e anti-portista, deu razão à absoluta falta de razão dos viscondes. No acórdão, ficou explicado, para quem sabe ler e é sério, que nem a lei aplicável era aquela, nem o doto se presume sem prova, nem o princípio, que vem do direito romano, de ter de provar o que se acusa e ter de dar oportunidade ao acusado de se defender pode ser afastado só porque apareceu alguém em cena que se reclama ungido do poder de inventar novas regras a bem da moralização. Se parassem para pensar - o que não farão - alguns sportinguistas sérios podiam dar-se ao incómodo de ler o acórdão e meditar na triste figura que fizeram, na profunda desonestidade intelectual de toda esta «porcaria de trazer por casa», como escreveu (com o sentido inverso) o Eduardo Barroso.
2- De resto, no campo, continuámos a acumular desaires, frustrações e recordes negativos para a história. Uma sequência de quatro jogos europeus em casa sem ganhar nenhum, a primeira derrota caseira para o campeonato em cinco anos e meio, a primeira derrota com o Estoril no nosso estádio - e tudo a acumular aos outros recordes negativos já registados em breves seis meses por esta equipa para a história. Mas o pior de tudo, a pior notícia de todas, foi a demissão do administrador da SAD Angelino Ferreira.
3- Nunca tive, não tenho e já vou ficando velho para qualquer dia poder vir a ter qualquer apetência de poder. O poder que deriva dos cargos, das situações de liderança, da vá glória de mandar. Ter autoridade, mandar nos outros, influir directamente nas suas vidas, é coisa que nunca me atraiu. Prefiro o poder solitário de pensar por mim e para mim, a grande liberdade de não ter que responder por ninguém que não por mim mesmo, de fazer o que quero, me apetece e me parece justo, de não ter de ganhar a vida em negócios onde se ganham milhões roubados a alguém. Mas não critico os que gostam de mandar, de dirigir, de serem reconhecidos como autoridade. Talvez seja, por vezes, um trabalho sujo, mas alguém tem de o fazer. A razão principal pela qual não alinho no bota-abaixo geral dos políticos, uma actividade tão cara aos portugueses e à sua cidadania de café, é exactamente porque eu não quereria nem o trabalho nem a vida deles. E, acima de tudo, não quereria governar os portugueses. E ainda bem que não tenho essa vocação, pois constato que é mais fácil conquistar o poder do que largá-lo. A política está cheia de exemplos desses - Salazar, Cavaco, Alberto João Jardim, para só falar de alguns dos próximos. E o futebol também - Blatter, Havelange, Platini, Pinto da Costa.
4- A beira de completar 80 anos - uma idade na qual me imagino a desejar apenas voltar a ver Veneza ou Marraquexe, viver ainda manhãs e noites de Verão, ler os livros que nunca li e ver crescer as árvores e netos que plantei — Jorge Nuno Pinto da Costa, presidente do FC Porto há tantos anos quantos os que Jardim leva de presidente da Madeira, e à sua semelhança, não dá quaisquer sinais de querer abdicar de uma migalha que seja do poder, do mando, da glória e do protagonismo do seu cargo. Ninguém lhe pode retirar o direito de o querer nem a legitimidade de, em os sócios querendo, continuar no seu lugar, indiferente à lei da vida.
Porém, a armadilha do poder longamente exercido é que o seu detentor acaba fechado em si mesmo, imaginando que o mundo nunca mudou nem mudará e que o seu génio e a sua glória são de tal modo irradiantes que nenhuma lei da vida os poderá contrariar. E, à medida que as coisas lhes vão escapando progressivamente sem que eles dêem conta disso, a corte que espera a sucessão torna-se impaciente, sôfrega, minada por conspirações, guerras intestinas ou, antecipando o fim de uma era, entrega-se à mais selvagem das actividades humanas, a do «salve-se quem puder, enquanto é tempo».
A longa e pacífica monarquia constitucional que foi o FC Porto de Pinto da Costa, está, como bem notou Vítor Serpa, a degenerar para um Império em decadência — aparentemente final. Estão ali todos os sinais que fazem lembrar o estertor de alguns imperadores romanos e os indícios fatais dos punhais desembainhados nas sombras palacianas da corte. Angelino Ferreira, o tesoureiro do clube, era o mais sério e o mais respeitado dirigente da SAD, dentro e fora do universo portista. A sua saída voluntária e previsivelmente silenciosa não aconteceu nem por cansaço, nem por birra, nem por desentendimentos com Pinto da Costa. Todos os portistas, porém, são capazes de adivinhar porque razão foi. E aquilo que dói é perceber que os adeptos, os sócios, os que verdadeiramente amam o clube, os que com ele gastam tempo, dinheiro e emoções sem jamais esperar receber um euro em troca, sentar-se no camarote presidencial ou receber um Dragão de Ouro, não são tidos nem achados enquanto uns poucos fazem do clube aquilo que querem ou o mais de que são capazes, que é bem pouco, e ficarão até ao fim, a repartir os despojos. Um clube, para mim, não é isto.
5- Sendo este o estado da nacão portista, é bem fácil para os que nos querem mal, dizer que a culpa da situação actual não é do treinador. É verdade que a culpa não é só dele, que o mal começa bem mais acima dele, mas isso não exclui, como é óbvio e visível a olho nu, a responsabilidade do treinador no triste desempenho desta triste equipa. A escolha e manutenção de Paulo Fonseca é reflexo da crise de liderança do clube mas a sua demonstrada incapacidade é um facto por si mesmo. Como aqui escrevi logo em 24 de Setembro (O síndroma do clube pequeno), e numa altura em que, todavia, em sete jogos oficiais, Paulo Fonseca tinha ganho seis e empatado um, tinha ganho a Supertaça e o primeiro jogo, e fora de casa, da Liga dos Campeões, eram para mim já claros «os sinais da mentalidade de um treinador de equipa pequena, que ainda não realizou que está num outro mundo, de exigências e estratégias». E por isso, como então o disse, eu não acreditava que o FC Porto fosse a lado algum com Paulo Fonseca. E, como o escrevi, não se tratava apenas do risco de perder uma época, mas também o de quebrar a cultura de vitória de um clube grande e habituado a ela e de desperdiçar talentos emergentes como Iturbe, Atsu, Kelvin ou Quintero.
É bem verdade que de nada serve ter razão antes de tempo, mas, pelo menos, ninguém me pode acusar de ter esperado pelas derrotas para então extrair fáceis conclusões. Apesar de tudo, não deixa de me espantar a total incapacidade de Paulo Fonseca para ir percebendo alguma coisa com os erros acumulados. Quando lhe perguntaram, no final do jogo com o Estoril, porque não recorrera a um médio criativo como Quintero, ele respondeu que entendera que o jogo não tinha características adequadas para ele. O problema, porém, é que nenhum jogo, do seu ponto de vista, tem as características adequadas para Quintero — visto que nunca o coloca a jogar. E um treinador que não percebe e não aproveita o génio que ali está e, em lugar disso, dedica seis meses a minar-lhe a confiança e a vontade, que o deixa a ele e ao Carlos Eduardo de fora da lista da Champions, pode ser, o que não duvido, muito trabalhador e bem intencionado, mas nunca servirá para um clube grande. Como não servirá um treinador que chama três nomes diferentes ao seu adversário europeu, nunca acertando com o seu verdadeiro nome e deixando, a mim pelo menos, a impressão de que, pura e simplesmente, não conhecia o adversário — e por isso se deixou surpreender por ele daquela forma exemplar que deve passar a constituir matéria de estudo nos cursilhos de Verão onde se formam treinadores.
6- A Champions foi uma vergonha. O campeonato está entregue. Mas, quem sabe, talvez ganhemos em Munique, Dortmund ou Leverkusen, depois de amanhã, e continuemos na Liga Europa. Talvez ganhemos a Taça de Portugal e a Taça da Liga. Talvez fiquemos à frente do Sporting e do Estoril no campeonato. Ainda podemos ter alguns sonhos. Ou ilusões. Já não sei bem qual é a diferença.
PS: A melhor profissão do mundo é ser steward no Estádio da Luz. Provoca-se os jogadores adversários (provado na sentença), arma-se confusão, leva-se uns murros ou pontapés e recebe-se 30.500 euros de indemnização. Já vi mortes valerem bem menos nos tribunais portugueses.
Sporting-Belenenses, 4-0 (crónica)
Vitória simples num jogo que ficou sem contexto
Por Luis Mateus 20 de Maio de 2007 às 21:09
Missão cumprida. Mas só valeu para o objectivo mínimo: o segundo lugar. Alvalade não se vestiu de gala para o título, mas sentiu-se campeã enquanto houve Aves no Dragão. Festejou-se o que acontecia nos dois campos, até que o F.C. Porto embalou de vez para o título. O 4-0 perante um Belenenses com pouco a ganhar ou a perder até acaba por ser escasso, mas o encontro a partir de certa altura ficou sem contexto. Já só era um treino para a Taça.
O argumento teve ligeiras alterações. Desta vez não se preparava uma curta-metragem de cinco minutos, mas sim de dez. O herói era o mesmo de sempre, num remake de antigos sucessos de bilheteira: Liedson. E o objectivo era, desta vez, o prémio supremo, o título nacional. O 31 aproveitava uma bola longa e uma defesa demasiado adiantada do Belenenses para espalhar o pânico, a três centenas de quilómetros, no Dragão. O 1-0 arrumava com o jogo, porque o Belenenses pouco ou nada tinha a perder com a derrota, e agudizava a pressão sobre o principal rival pela conquista do troféu.
O Belenenses partia para a última jornada em quarto lugar e o pior que lhe podia acontecer era cair para quinto. Era uma equipa tranquila, quase totalmente virada para a final da Taça de Portugal, precisamente frente ao adversário desta noite. Sem pressão, os azuis podiam gozar o jogo. Sem motivação, haveria sempre uma voz na consciência que lhes diria para não levá-lo muito a sério. O que seria sempre justificável. Sem ser a quarta posição, os azuis lutariam apenas pelo conforto moral de não perder antes de novo embate no Jamor. E não partir para essa partida realmente decisiva com essa desvantagem psicológica.
Depois de uns cinco minutos um pouco estranhos em Alvalade - afinal, não haveria qualquer golo neste período desta vez -, os leões assumiram de vez o controlo da partida e embalaram para uma vantagem que até poderia ser mais dilatada no final do primeiro tempo. Irritantemente para Paulo Bento e para os parceiros de banco, o auxiliar de Jorge Sousa levantou três vezes a bandeirola antes de a bola entrar na baliza de Marco Aurélio antes do intervalo: Liedson e Alecsandro, os dois primeiros marcadores de serviço este domingo, adiaram os festejos.
A festa (quase) total
Aos 20 minutos, Alecsandro tinha aumentado a diferença para dois golos num remate certeiro. O brasileiro encontrou um pedaço irregular de relva no caminho da bola e traiu Marco Aurélio, já em queda. Aos 20 minutos, havia um ponto e vírgula em Alvalade. O resto dependia do que o F.C. Porto fizesse. O Belenenses estava muito abaixo do seu valor e o perigo que criou resume-se a dois lances. Um desvio após remate de Silas, que Ricardo não deixou passar, e uma finalização de Zé Pedro contra um muro de sportinguistas sobre a linha depois de perder muito tempo antes de rematar.
O Sporting sentiu-se campeão, Alvalade reagia a cada «espirro» no Dragão. Calou-se assustadoramente com o 1-0, festejou o título com o empate e foi para o intervalo ainda em festa, fazendo as contas aos dois resultados. Estava tudo a correr como o mais rebuscado dos planos. O quase condenado Aves estava a arruinar as contas dos dragões.
Nada a fazer...
O F.C. Porto fez o 2-1 poucos segundos depois do recomeço em Alvalade, culpa dos cerca de cinco minutos de diferença que tiveram as duas partidas. Era impossível para os jogadores do Sporting não perceberem o que estava a acontecer. O estádio inteiro voltava a calar-se, um silêncio sepulcral que anunciava que o vento tinha virado e levara com ele a sorte. O jogo também ficara tépido, sem grandes acelerações, apesar dos arranques intermitentes de Nani e Romagnoli de um lado e dos esforços de Zé Pedro do outro. E nem as substituições fizeram virar o rumo dos acontecimentos. Já só se pensava na Taça. Até que Yannick e Pereirinha fecharam o resultado.
in maisfutebol
1- Suponho que Jorge Jesus tem a obrigação profissional de ver vários, muitos, jogos de futebol disputados por esse mundo fora. E, se assim é com certeza, só por piada é que de pode dizer que o nosso campeonato é o quinto ou sexto em qualidade. Este fim-de-semana, retido em casa por este mau tempo que não nos larga, fiz uma verdadeira maratona de futebol televisivo, vendo jogos do nosso campeonato e de Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha e Brasil. Adormeci em partes do Paços-Benfica, do Sporting-Olhanense e do Manchester City-Chelsea - onde Mourinho, obrigado a desculpar-se em campo das afirmações mal-educadas que fez sobre o seu colega de trabalho Arsène Wenger, e obrigado a justificar sempre os salários escandalosos que ele e os jogadores da sua equipa de luxo recebem do senhor Abramovich — foi eliminado da Taça de Inglaterra depois de uma exibição que roçou a vergonha (nem uma oportunidade de golo, nem um remate à baliza!). Mas vi também o esplendor de um Barcelona-Rayo Vallecano (6-0), perguntando-me pela enésima vez como é que alguém que goste de futebol não fica pasmado a ver jogar aquele Barcelona e o seu génio Lionel Messi.
Com melhores ou piores jogos, de Bilbau a São Paulo, vi, pelo menos, os jogos serem disputados em relvados onde qualquer um que saiba e queira consegue jogar futebol de categoria. Em contraste, vi o Benfica em Paços de Ferreira e o FC Porto em Barcelos jogarem em batatais onde até o futebol amador deveria ser proibido. É uma vergonha que se invista num estádio novo, pago pelos contribuintes (em Barcelos) ou numa bancada nova (em Paços de Ferreira), e se permita que os relvados continuem a ser da pré-história do futebol. É uma vergonha que, dos 16 clubes que disputam a Liga, apenas 6 tenham relvados aceitáveis para uma competição profissional. Mas esta é a Liga de Clubes que temos, onde a quantidade de clubes significa votos e os votos significam o poder. E o poder serve, não para melhorar a qualidade do espectáculo, defender o público e o jogo, garantir condições de competitividade assente na qualidade, mas sim e apenas para perpetuar funções. Exemplo disto foi também o que vi em Alvalade: um histórico do futebol português, o Olhanense, reduzido a um amontoado de reformados ou autodesignados futebolistas de vários lados do planeta, alguns deles verdadeiramente incapazes de dar um chuto numa bola. (Um tal de Dionisi, ponta-de-lança italiano daquela agremiação, esse então creio ter sido o pior avançado que alguma vez vi pisar um campo desde o inesquecível Paulinho César, trazido para o FC Porto há anos pelo agora regressado empresário Alexandre Pinto da Costa).
Diga-me lá, Jorge Jesus, como é que um campeonato que tem equipas como a do Olhanense e onde a maioria dos campos é impraticável para jogar futebol, pode ser o quinto ou sexto de maior qualidade por esse mundo fora? Não, à partida, este nunca poderia ser um bom campeonato, mas esta época, particularmente, joga-se aqui o pior futebol de sempre. Ao longo da época já jogada, duvido que tenha chegado a haver uma dúzia de jogos que tenham valido o preço do bilhete. Além dos jogos dos três grandes, que vejo por obrigação de escrita, confesso que nada mais me apetece ver, neste campeonato. E, quando me acontece espreitar, por acaso, jogos como um Belenenses-Académica, deste fim-de-semana, sinto-me quase ofendido como espectador e como amante deste jogo maravilhoso. Relvados vergonhosos, equipas que só não querem é perder, jogadores sem classe, treinadores que temem tudo menos atirarem-se aos árbitros para justificar derrotas. E bancadas vazias, é claro. Acho que isso deveria preocupar alguém.
2- Hoje, por volta do meio-dia e já com um atraso difícil de entender, o Conselho de Disciplina da Federação vai, ao que tudo indica, absolver o FC Porto da acusação de ter deliberadamente atrasado a sua entrada em campo contra o Marítimo para daí extrair uma vantagem na disputa com o Sporting pela continuidade na Taça da Liga. Os indícios do veredicto favorável aos portistas começaram assim que se soube que o CD, ao contrário da Comissão de Inquéritos da Liga, tinha, antes de decidir, feito uma coisa imperiosa: dar ao FC Porto (e ao Sporting e à Liga) a faculdade de fazer prova do que afirmavam. Se o FC Porto sustentava que o atraso se devera a assistência de última hora a Fernando, é óbvio que se impunha então ouvir o jogador, o médico, o massagista e o delegado do clube. Isto, que é a base de qualquer processo sancionatório - dar à defesa a possibilidade de se defender — não ocorreu aos justiceiros da Liga. Para eles, a justificação era mentira, porque sim, e não valia a pena sequer perder tempo com ela. O mesmo julgou o presidente do Sporting, afirmando que tanto era mentira que o Fernando até acabara por alinhar de início - como se isso invalidasse que tivesse estado em dúvida a sua utilização, e como se para nada contasse o facto de ele ter acabado por sair, lesionado, antes do intervalo e tenha estado posteriormente ausente da equipa, por lesão, 15 dias. Permitir que o FC Porto fizesse prova no processo do que afirmara era, para estes moralizadores, uma coisa inadmissível, segundo o conceito de justiça que é o seu. E assim se pronunciou, desde logo, o jornal do Sporting.
Também não lhes ajudou à festa saber-se que os delegados da Liga tinham reportado nada terem registado de anormal no jogo e que, por via disso, um deles tenha recebido um telefonema de quem de direito a ordenar que alterasse o relatório, nele introduzindo um facto falso e no sentido pretendido. O que, de facto, deveria agora ser investigado era apurar quem, como, porquê e a pedido de quem se empenhou tanto, na Liga, para derrotar o FC Porto na secretaria.
3- Ninguém tirará ao Sporting o mérito de, lutando com armas desiguais, fruto da situação de falência iminente a que chegou, tentar entrar na luta de topo e recuperar o lugar que já foi seu no futebol português. Mas, se nisso tem mérito, não tem direito a tratamento de favor. A situação a que o Sporting chegou foi unicamente da sua responsabilidade, da nata de empresários de referência que o dirigiram nos últimos anos e que o conduziram à falência, com o apoio dos sócios, e acumulando asneiras e erros de palmatória, fruto da ignorância e arrogância de "grandes senhores" com que se comportavam.
Alguém já se esqueceu, por exemplo, que há poucos anos atrás o Sporting, já em situação desesperada, apostou a cave na compra de uns vinte jogadores de uma assentada, quase todos banais?
Por isso, se é mais do que legítima e saudável a pretensão do Sporting de regressar lá acima, a vontade de o fazer queimando etapas, pisando princípios e reclamando um estatuto de excepção, não o é. A tentativa de afastar na secretaria o FC Porto da Taça da Liga foi muito feia e ficará registada. Da mesma forma que a ninguém escapou que, antes de começar o jogo da Luz, terça-feira passada, o Sporting andou por ali a cheirar, a vasculhar, a tentar descobrir maneira de ganhar também esse jogo na secretaria, sem sequer o disputar, chegando a dizer que podia «evocar» (!) o artigo tal dos regulamentos para não aparecer a jogo e reclamar vitória. Alguma alma com mais bom senso travou internamente tal tentação, mas não conseguiu evitar a mensagem passada para fora: o novo-Sporting, que quer moralizar o futebol português, parece disposto a tudo para ganhar.
A ideia vem-se instalando e, como as pessoas não são parvas, acabam a dizer o mesmo que disse o Mozer: «Parem de chorar e jogam à bola, pô!»