quarta-feira, setembro 08, 2004

Diferenças

JORGE MAIA no Ojogo

Há quem não perceba, ou quem não queira perceber que há uma diferença entre o que se pede a Victor Fernandez e aquilo que se pede à generalidade dos treinadores de equipas portuguesas. Ora, como nem sequer é uma diferença muito subtil, sou levado a concluir que há muito quem seja de compreensão lenta forçando-me a escrever muito, muito devagarinho. Então é assim: para quem já se esqueceu, nas últimas duas temporadas o FC Porto ganhou duas vezes a SuperLiga, uma vez a Taça de Portugal, duas a Supertaça Cândido de Oliveira, uma a Taça UEFA e uma a Liga dos Campeões. Eu sei que estas listas provocam alguns calafrios e reacções alérgicas, especialmente em latitudes onde se fez jejum durante os últimos dois anos, mas não há outra forma de o dizer, tenham paciência. Pois bem, pedir a Victor Fernandez que faça melhor que José Mourinho é pedir-lhe que, para além da Supertaça que já ganhou ao Benfica - já se tinham esquecido? - vença o campeonato, a Taça de Portugal, a Liga dos Campeões e a Taça Intercontinental. Ganhar a SuperLiga só não chega, uma Taça de Portugal não satisfaz ninguém - ou satisfaz? - e a Supertaça Cândido de Oliveira sabe a pouco. Por isso, fazer melhor que José Mourinho é muito difícil, mas quem viu o FC Porto nos últimos terá algum cuidado antes de usar a palavra impossível.

Agora, veja-se um caso aleatório, por exemplo, o de José Peseiro, treinador do Sporting. Para fazer melhor que Fernando Santos, basta-lhe fazer 74 pontos na SuperLiga! Não é exactamente impossível, pois não? Ficar em segundo e poder jogar a Liga dos Campeões em vez de morrer na praia seria já um sucesso considerável, atingir a final da Taça de Portugal em vez de ser eliminado por uma equipa de um escalão secundário um feito fantástico e ser campeão, bem, ser campeão será o equivalente a uma segunda vinda do Messias, pelo menos para quem acredita nessas coisas. E ainda sobra a Taça UEFA. Não é exactamente a Liga dos Campeões mas, que diabos, Mourinho também começou por baixo. Se tudo correr bem, este pode ser um grande ano para o Sporting e nem é preciso muito. Por outro lado, se tudo correr bem, este pode ser um ano normal para o FC Porto e é preciso quase tudo. Tudo isto para concluir que aquilo que serve a uns fica curto a outros. Felizes aqueles que se satisfazem com pouco. Para eles, qualquer migalha serve.