quinta-feira, setembro 16, 2004

Saudade do futuro

JORGE MAIA no Ojogo

Já dizia o poeta que sempre é melhor ter saudade que caminhar vazio. Ora, percebi ontem, num olhar de relance pelos jornais, que há um ror de gente a pensar que, por esta altura, os adeptos do FC Porto já deviam estar cheios de saudades de José Mourinho. É quase tudo gente que sabe do que fala quando o tema é saudade. Diz o Dicionário da Lingua Portuguesa da Porto Editora que saudade é um substantivo feminino - não confundir com efiminado - que significa "melancolia causada pela lembrança de um bem de que se está privado". As pessoas de que falo, as tais que acham que ao fim de quatro jogos oficiais os adeptos do FC Porto já deviam estar mortos de saudades de José Mourinho, passaram pelo menos as últimas duas temporadas em profunda "melancolia causada pela lembrança de um bem de que se está privado". Algumas passaram a última década mergulhadas nesse estado, a ouvir fados da Amália e relatos do Artur Agostinho e a trocar cromos e memórias, quase todas a preto e branco. Pois bem, é apenas natural que depois de tanto tempo, tenham pressa em respirar de alívio e identificar o regresso do futebol português à normalidade dos apuramentos falhados e das vitórias morais a que o FC Porto serviu de excepção durante os últimos anos. É natural que tenham pressa, mas a pressa é normalmente má conselheira.

É tão provável que os adeptos do FC Porto acabem por sentir saudades das duas últimas épocas como é certo que os adeptos dos outros clubes gostariam de poder simplesmente esquecê-las, mas como dizia o poeta, sempre é melhor ter saudade que caminhar vazio. Já agora, convém lembrar que o FC Porto só fez quatro jogos oficiais. Ganhou a Supertaça Cândido de Oliveira, perdeu a Supertaça Europeia, empatou o jogo da segunda jornada da Superliga (adiou a primeira jornada) e empatou o primeiro jogo da Liga dos Campeões. É óbvio que tudo pode não passar de uma coincidência, mas esses são exactamente os mesmos resultados conseguidos há um ano por José Mourinho no arranque para a temporada que terminaria em Gelsenkirchen.

Cuspir no prato... e mal agradecido
Há cinco equipas portuguesas que hoje começam a disputar a Taça UEFA. São cinco por dois motivos: porque os pontos acumulados pelo FC Porto no ranking da UEFA ao longo das últimas temporadas permitiu o aumento do número de representantes portugueses nas competições europeias e porque o Benfica falhou o apuramento para a Liga dos Campeões. Ontem, depois de na véspera ter desejado sorte às equipas portuguesas que participam na Taça UEFA em comunicado oficial, o presidente do Benfica fez questão de deixar o FC Porto, que joga a Liga dos Campeões, fora dos desejos de felicidades. Luís Filipe Vieira pode não saber mas foi graças ao FC Porto que o Benfica pôde desperdiçar a oportunidade de jogar na liga milionária.