segunda-feira, setembro 06, 2004

Honra-adjunta

JOSÉ MANUEL RIBEIRO no OJOGO

Um treinador-adjunto do Sporting lamentava nos jornais de ontem a ausência dos jogadores que estão nas selecções nacionais, mas dizia-se honrado com ela. A honra que ele sente tem a ver com a constatação óbvia de que o campeão português é o mais prejudicado pelas convocatórias internacionais. A patriotice do adjunto de Peseiro está relacionada com o snobismo moral do Sporting - que se adquire no berço e, portanto, nem toda a gente fora do berço do Sporting pode ter -, mas também com a impossibilidade de se queixar do que o beneficia. Mau grado este reconhecimento, os que discordam da tese de um FC Porto flagelado têm alguma razão, embora num ponto que não me lembro de ter visto defendido, talvez por força do costume urbano de ditar sentenças sem o trabalho de lhes acrescentar um único argumento que seja: os prejuízos seriam muito inferiores se não fossem as acções do próprio FC Porto. O sarilho de Víctor Fernandez é provocado pela decisão bizarra de trocar o treinador a meio da pré-época mais intrincada dos últimos anos e agravado pela qualidade da equipa, isto se o estatuto de futebolista internacional ainda fizer algum sentido. A primeira medida é inavaliável. Por trás dela estão os instintos, raciocínios e suposições que levaram Pinto da Costa a considerar Del Neri prejudicial ao ponto de valer os riscos de um despedimento naquela altura. Nunca saberemos se fez mal. A segunda medida, ou seja, a construção de um grupo forte (no papel, pelo menos) é boa, mas tem custos que nem sequer se esgotam nas atribulações desta pré-temporada: acumular-se-ão ao longo da época, a cada convocatória internacional. É um problema que cresce na razão directa da dimensão das equipas. Um problema com o qual o treinador-adjunto do Sporting adoraria ser honrado. Ou nem por isso.