quarta-feira, dezembro 21, 2005

Os habilidosos

José Manuel Ribeiro in OJogo:


Sobre o que é mais importante escrever hoje? Scolari ou a escolha do golo de Quaresma como melhor do ano para a Eurosport? A arte do relambório ou da bola? O gesto feio ou o gesto bonito? Qualquer pessoa compreenderá que a decisão é difícil. São ambos artistas, cada um ao seu jeito. Mais habilidoso o primeiro, menos individualista o segundo. Quaresma especializou-se na trivela; Scolari já esteve, com certeza, num bom restaurante de Tondela. As semelhanças acumulam-se, mas há um dado, que não técnico nem de balneário, pronto a revelar-se definitivo na opção por um destes dois imperadores do drible: ninguém, fora deste nosso rectângulo torcido, quer saber das opiniões do seleccionador para nada (nem das minhas, já agora), ao contrário do que aconteceu com o golo de Quaresma. Esse ficou no olho de milhares de ignorantes, desfasados da importância do futebol jogado entre chuveiros, cacifos e banheiras de hidromassagem. É só um movimento. A parte de fora do pé - o lado oposto à parte de dentro, portanto - bate na bola como um taco de golfe e ela encurva. Encurva a bola, encurva o guarda-redes, encurva o resultado e encurva o papel de Quaresma, que era suplente e deixou logo de ser, porque Adriaanse é, pelos vistos, um dos ignorantes (entre aspas, entre aspas) que não preferem o futebol falado. Lá está. Deve ir pouco ao balneário.


SCOLARI
Dados, comunicados e outros seres animados

A assessoria de Imprensa da Federação Portuguesa de Futebol divulgou ontem um comunicado em que, entre outros considerandos de alto valor argumentativo, o seleccionador chama abusivas às interpretações feitas destas suas palavras a respeito de João Pinto e Baía:

"Disponho de dados técnicos e de balneário que nunca revelarei mas que poderão estar na base das minhas decisões. São meus e só meus".

Podia queimar umas linhas a discutir ponto por ponto esta questão (tenho muita experiência; o meu filho de seis anos também tenta ser assim esperto de vez em quando), mas o caso Baía é assunto digerido e evacuado. Se Scolari entendeu regurgitá-lo foi porque, nos últimos meses, ganhou força definitiva a tese de que alguns dos seus comportamentos não têm explicação. Por isso, decidiu arranjar uma para este, pondo a funcionar a má língua dos que lhe são afectos.

A respeito deste assunto e perante o esclarecedor comunicado, resta uma pergunta à qual ele não se lembrou de responder: as declarações levantam ou não suspeitas sobre o carácter dos dois jogadores?