Campeão só mesmo no fim
Se o factor sorte vier a ter um papel importante neste desfecho de campeonato, as hipóteses do Sporting parecem-me bem maiores do que as do Porto.
1- Não creio que Jesualdo Ferreira exagere nas cautelas a falar do título, que agora está só a três vitórias de distância. Pelo contrário, acho que ele tem razão, porque nada ainda está decidido a favor do FC Porto — por razões próprias e por razões da concorrência.
Entre as razões próprias, avulta aquela estranha e crónica ambivalência da equipa: é uma coisa nas primeiras partes dos jogos, quase sempre boas, e outra radicalmente diferente nas segundas partes, em que a equipa morre sistematicamente. Que há ali um evidente problema ao nível da preparação física, parece-me indesmentível. Mas que também há um problema psicológico, de atitude, começa-me a parecer também evidente. Aconteceu assim nos últimos dois jogos, contra a Académica e o Belenenses, que um massacre inicial acabou, inexplicavelmente, por se transformar em vitórias quase sofridas, nas segundas partes. Há ali uma incapacidade de dar o Xeque-mate, ou ao menos de gerir tranquilamente os resultados, que é preocupante. É verdade que tem havido demasiadas bolas na trave, demasiados golos fáceis desperdiçados e demasiadas ocasiões em que o adversário consegue marcar na primeira oportunidade para tal. Mas um pouco mais de fé e de convicção talvez conseguisse inverter a sorte, por arrasto. Paralelamente, eu que, regra geral tenho apreciado o trabalho feito por Jesualdo Ferreira desde o início da época (e apreciado muitíssimo, se o comparar ao do louco do Co Adriaanse…), devo dizer, contudo, que às vezes tenho a sensação que Jesualdo Ferreira é um pé frio, quando se trata de mexer na equipe durante os jogos: ou não mexe quando devia e antes de as coisas se complicarem, ou, quando mexe, resulta quase sempre pior. Não me parece que a arte de ler o jogo em andamento e de influir sobre ele esteja entre os seus principais atributos.
Sábado, no Bessa, o FC Porto tem um jogo terrível: como todos os portistas sabem, o Boavista pode não estar a jogar nada, como é o caso, pode, como quase sempre, facilitar a vida aos grandes de Lisboa, mas bater-se contra o FC Porto como se se tratasse de uma questão de vida ou morte, isso eles não falham. Espero que Jesualdo Ferreira tenha uma estratégia pensada e lógica para ganhar o jogo — o que, entre outras coisas, passa, por exemplo, por não pôr o Jorginho em vez do Anderson ou em não insistir com o Marek Cech como médio. E espero, sobretudo, que a equipa se aguente 90 minutos a jogar para vencer.
Nos factores externos que podem ainda impedir o FC Porto de ser campeão, o principal é, obviamente, o Sporting — a uma vitória e um empate de distância. Quando digo que o Sporting, pé ante pé, chegou aqui a lutar pelo título, fico espantado por constatar o pouco ou nada que sobre ele escrevi ao longo do campeonato. E a razão é simples: não sei muito bem o que pensar do futebol do Sporting. Reconheço que tem um treinador que tem feito um trabalho notável com o que tem ao seu dispor; que tem alguns grandes jogadores, embora nem sempre de produção regular, como o são um Quaresma ou um Simão; e reconheço que a equipa tem muitas vezes uma atitude e estratégia pensada para a vitória, na forma linear e eficaz como procura o golo quando precisa e como aguenta quando tem de aguentar. Mas a verdade também é que não me lembro de um jogo em que o futebol do Sporting me tenha enchido o olho.
Ao invés do FC Porto, acho que o Sporting tem sabido procurar a sorte, mas caramba, ela não lhe tem faltado! Recordo os últimos jogos que vi:
— venceu no Dragão, no jogo que relançou a equipa na luta pelo título, depois de um jogo em que foi superior ao FC Porto, mas sem criar grandes oportunidades, acabando por marcar o único golo através de um livre frontal que, em minha opinião, não existiu, e beneficiando, no último sopro, de um penalty perdoado graças ao síndrome Apito Dourado;
— venceu em Braga, depois de uma primeira parte muito boa, seguida de outros 45 minutos em que só defendeu e que, com um pouco menos de sorte, teria consentido o empate;
— venceu o Marítimo em dez segundos, como um golo incrivelmente oferecido por uma defesa e um treinador suicidas;
— venceu o Beira-Mar, para a Taça, com duas ofertas do guarda-redes nos primeiros oito minutos, e o resto do tempo dormiu;
— e venceu a Naval da mesmíssima forma.
Ou seja: torna-se difícil perceber o que vale verdadeiramente uma equipa e como é que ela é capaz de ultrapassar as dificuldades, se os adversários entram em campo dispostos a entregar-lhe o jogo, quanto mais depressa melhor.
Eis a razão maior das minhas dúvidas: se o factor sorte vier a ter um papel importante neste desfecho de campeonato, as hipóteses do Sporting parecem-me bem maiores do que as do Porto.
2- A forma como o Belenenses, e sobretudo o Sporting, chegaram à final da Taça (e como antes chegou o Benfica e mesmo no ano passado o FC Porto), tem pouco de mérito e menos ainda de justiça. Se a memória me não falha, em todas as eliminatórias, o Sporting só teve de jogar fora de casa uma vez — contra o Pinhalnovense e, mesmo assim, em campo neutro. No resto, limitou-se a ficar por Alvalade, recebendo e afastando, como mais ou menos dificuldades, equipas menores. Não se percebe como é que em países onde os clubes têm muito mais jogos e bem mais difíceis ao longo da época, a regra da Taça é diferente — como em Espanha, onde é tudo jogado a duas mãos, ou em Inglaterra, onde é a duas mãos ou a uma em campo neutro.
Há muitos anos que defendo um sistema em que, com a eliminatória a uma mão, os jogos fossem sempre em casa do clube de divisão inferior ou, sendo da mesma divisão, daquele que, no momento do jogo, estivesse pior classificado no campeonato. E que, no final, os quartos-finais, ou pelos menos as meias-finais, fossem jogados a duas mãos. Até porque, com a disputa da Supertaça apenas num jogo, não há actualmente nenhuma ocasião de um confronto a duas mãos entre nós, seja em que competição for. E eu pessoalmente, tenho saudades disso. Julgo que desta forma se acrescentaria competitividade, equilíbrio e justiça à Taça, e muito mais mérito ao seu vencedor.
3- O país inteiro viu a desastrada exibição de Lucílio Baptista no Beira-Mar-Benfica. Por uma vez, houve unanimidade da crítica em classificar a sua arbitragem como péssima — o que, aliás, é habitual nele. Há muitos anos que o país inteiro sabe que Lucílio Baptista é, consistentemente, um mau árbitro, além do mais com uma tendência fatal para proteger os grandes de Lisboa. Mas, ao que parece, a carreira de árbitro é como a dos funcionários públicos: são inamovíveis e progridem sempre na carreira, façam o que fizerem, sejam bons, maus ou péssimos. Tudo isso já sabíamos. Mas escusava o observador do jogo de vir classificar essa sua arbitragem como excelente, dando-lhe um 8,5 em 10. É que há uma diferença entre tomar os outros por distraídos ou tomá-los por parvos.
4- Li os dois capítulos finais do contra-livro de Carolina Salgado: Pinto da Costa, luz e sombras de um dragão, da autoria de Felícia Cabrita e Ana Sofia Fonseca. Presumo que, a esta hora, o Procurador-Geral da República, Dr. Pinto Monteiro, e a Drª Maria José Morgado, já andem a ler o livro para poderem investigar a credibilidade da sua testemunha Carolina. Por mim, limito-me a um comentário, seja qual for a verdade daquilo que se conta num e noutro livro: que gente esta com que o presidente do FC Porto andou metido!
Se o factor sorte vier a ter um papel importante neste desfecho de campeonato, as hipóteses do Sporting parecem-me bem maiores do que as do Porto.
1- Não creio que Jesualdo Ferreira exagere nas cautelas a falar do título, que agora está só a três vitórias de distância. Pelo contrário, acho que ele tem razão, porque nada ainda está decidido a favor do FC Porto — por razões próprias e por razões da concorrência.
Entre as razões próprias, avulta aquela estranha e crónica ambivalência da equipa: é uma coisa nas primeiras partes dos jogos, quase sempre boas, e outra radicalmente diferente nas segundas partes, em que a equipa morre sistematicamente. Que há ali um evidente problema ao nível da preparação física, parece-me indesmentível. Mas que também há um problema psicológico, de atitude, começa-me a parecer também evidente. Aconteceu assim nos últimos dois jogos, contra a Académica e o Belenenses, que um massacre inicial acabou, inexplicavelmente, por se transformar em vitórias quase sofridas, nas segundas partes. Há ali uma incapacidade de dar o Xeque-mate, ou ao menos de gerir tranquilamente os resultados, que é preocupante. É verdade que tem havido demasiadas bolas na trave, demasiados golos fáceis desperdiçados e demasiadas ocasiões em que o adversário consegue marcar na primeira oportunidade para tal. Mas um pouco mais de fé e de convicção talvez conseguisse inverter a sorte, por arrasto. Paralelamente, eu que, regra geral tenho apreciado o trabalho feito por Jesualdo Ferreira desde o início da época (e apreciado muitíssimo, se o comparar ao do louco do Co Adriaanse…), devo dizer, contudo, que às vezes tenho a sensação que Jesualdo Ferreira é um pé frio, quando se trata de mexer na equipe durante os jogos: ou não mexe quando devia e antes de as coisas se complicarem, ou, quando mexe, resulta quase sempre pior. Não me parece que a arte de ler o jogo em andamento e de influir sobre ele esteja entre os seus principais atributos.
Sábado, no Bessa, o FC Porto tem um jogo terrível: como todos os portistas sabem, o Boavista pode não estar a jogar nada, como é o caso, pode, como quase sempre, facilitar a vida aos grandes de Lisboa, mas bater-se contra o FC Porto como se se tratasse de uma questão de vida ou morte, isso eles não falham. Espero que Jesualdo Ferreira tenha uma estratégia pensada e lógica para ganhar o jogo — o que, entre outras coisas, passa, por exemplo, por não pôr o Jorginho em vez do Anderson ou em não insistir com o Marek Cech como médio. E espero, sobretudo, que a equipa se aguente 90 minutos a jogar para vencer.
Nos factores externos que podem ainda impedir o FC Porto de ser campeão, o principal é, obviamente, o Sporting — a uma vitória e um empate de distância. Quando digo que o Sporting, pé ante pé, chegou aqui a lutar pelo título, fico espantado por constatar o pouco ou nada que sobre ele escrevi ao longo do campeonato. E a razão é simples: não sei muito bem o que pensar do futebol do Sporting. Reconheço que tem um treinador que tem feito um trabalho notável com o que tem ao seu dispor; que tem alguns grandes jogadores, embora nem sempre de produção regular, como o são um Quaresma ou um Simão; e reconheço que a equipa tem muitas vezes uma atitude e estratégia pensada para a vitória, na forma linear e eficaz como procura o golo quando precisa e como aguenta quando tem de aguentar. Mas a verdade também é que não me lembro de um jogo em que o futebol do Sporting me tenha enchido o olho.
Ao invés do FC Porto, acho que o Sporting tem sabido procurar a sorte, mas caramba, ela não lhe tem faltado! Recordo os últimos jogos que vi:
— venceu no Dragão, no jogo que relançou a equipa na luta pelo título, depois de um jogo em que foi superior ao FC Porto, mas sem criar grandes oportunidades, acabando por marcar o único golo através de um livre frontal que, em minha opinião, não existiu, e beneficiando, no último sopro, de um penalty perdoado graças ao síndrome Apito Dourado;
— venceu em Braga, depois de uma primeira parte muito boa, seguida de outros 45 minutos em que só defendeu e que, com um pouco menos de sorte, teria consentido o empate;
— venceu o Marítimo em dez segundos, como um golo incrivelmente oferecido por uma defesa e um treinador suicidas;
— venceu o Beira-Mar, para a Taça, com duas ofertas do guarda-redes nos primeiros oito minutos, e o resto do tempo dormiu;
— e venceu a Naval da mesmíssima forma.
Ou seja: torna-se difícil perceber o que vale verdadeiramente uma equipa e como é que ela é capaz de ultrapassar as dificuldades, se os adversários entram em campo dispostos a entregar-lhe o jogo, quanto mais depressa melhor.
Eis a razão maior das minhas dúvidas: se o factor sorte vier a ter um papel importante neste desfecho de campeonato, as hipóteses do Sporting parecem-me bem maiores do que as do Porto.
2- A forma como o Belenenses, e sobretudo o Sporting, chegaram à final da Taça (e como antes chegou o Benfica e mesmo no ano passado o FC Porto), tem pouco de mérito e menos ainda de justiça. Se a memória me não falha, em todas as eliminatórias, o Sporting só teve de jogar fora de casa uma vez — contra o Pinhalnovense e, mesmo assim, em campo neutro. No resto, limitou-se a ficar por Alvalade, recebendo e afastando, como mais ou menos dificuldades, equipas menores. Não se percebe como é que em países onde os clubes têm muito mais jogos e bem mais difíceis ao longo da época, a regra da Taça é diferente — como em Espanha, onde é tudo jogado a duas mãos, ou em Inglaterra, onde é a duas mãos ou a uma em campo neutro.
Há muitos anos que defendo um sistema em que, com a eliminatória a uma mão, os jogos fossem sempre em casa do clube de divisão inferior ou, sendo da mesma divisão, daquele que, no momento do jogo, estivesse pior classificado no campeonato. E que, no final, os quartos-finais, ou pelos menos as meias-finais, fossem jogados a duas mãos. Até porque, com a disputa da Supertaça apenas num jogo, não há actualmente nenhuma ocasião de um confronto a duas mãos entre nós, seja em que competição for. E eu pessoalmente, tenho saudades disso. Julgo que desta forma se acrescentaria competitividade, equilíbrio e justiça à Taça, e muito mais mérito ao seu vencedor.
3- O país inteiro viu a desastrada exibição de Lucílio Baptista no Beira-Mar-Benfica. Por uma vez, houve unanimidade da crítica em classificar a sua arbitragem como péssima — o que, aliás, é habitual nele. Há muitos anos que o país inteiro sabe que Lucílio Baptista é, consistentemente, um mau árbitro, além do mais com uma tendência fatal para proteger os grandes de Lisboa. Mas, ao que parece, a carreira de árbitro é como a dos funcionários públicos: são inamovíveis e progridem sempre na carreira, façam o que fizerem, sejam bons, maus ou péssimos. Tudo isso já sabíamos. Mas escusava o observador do jogo de vir classificar essa sua arbitragem como excelente, dando-lhe um 8,5 em 10. É que há uma diferença entre tomar os outros por distraídos ou tomá-los por parvos.
4- Li os dois capítulos finais do contra-livro de Carolina Salgado: Pinto da Costa, luz e sombras de um dragão, da autoria de Felícia Cabrita e Ana Sofia Fonseca. Presumo que, a esta hora, o Procurador-Geral da República, Dr. Pinto Monteiro, e a Drª Maria José Morgado, já andem a ler o livro para poderem investigar a credibilidade da sua testemunha Carolina. Por mim, limito-me a um comentário, seja qual for a verdade daquilo que se conta num e noutro livro: que gente esta com que o presidente do FC Porto andou metido!
Texto digitalizado por mim do jornal Abola. Agradecimentos ao amigo e colega Fernando Monteiro por a ter comprado.