FRANCISCO JOSÉ VIEGAS FESTEJA EXUBERANTEMENTE A CARREIRA DA EQUIPA DE JESUALDO |
«Mesmo quando se comportam como um bando de repolhos» |
Por ANTÓNIO BARROSO ESCRITOR, gastrónomo, cronista, várias são as facetas do trasmontano Francisco José Viegas. De parabéns hoje, pelo 14.º aniversário da Casa Fernando Pessoa - que dirige - este filiado dos Dragões confessou a A BOLA já ter passado pela experiência de não ter com quem festejar o triunfo do seu clube numa Supertaça. Hoje é menos difícil ser-se do FC Porto na capital, reconhece quem não esquece a metamorfose porque passava o seu vice-reitor nos jogos do Desp. Chaves, perdendo toda o verniz que exibia de segunda a sexta-feira para desancar árbitros e adversários aos domingos. À Luz, gosta de ir ver jogar... «o Sporting». — Desde quando se lembra de ser portista? Porque se tornou adepto, tem ideia? Influência familiar, identificação pessoal? — Desde que me perguntaram és do Benfica ou do Sporting?, há muito tempo. Por outro lado, o FC Porto era o clube da resistência aos clubes que ganhavam sempre. Eu vivia em Chaves, terra do Pavão, uma das glórias do clube, que morreu em 1973, durante um FC Porto-Setúbal, 13.ª jornada, ao 13.º minuto. A BOLA chegava a Chaves ao fim da noite de segunda-feira. Corri para ler a notícia, saber como foi. Nunca esquecerei a crónica de Carlos Pinhão. E também não esqueci as grandes datas de glória do FC Porto. — É sócio? Porque se filiou? — Sou sócio, sim. Para mostrar o cartão aos amigos. — Como tem visto a carreira da equipa esta época? — Com alguma tranquilidade e alguns sustos, o coração ao pé da boca, insultando a equipa toda quando é preciso... e festejando-a na maior parte das vezes, mesmo quando ela não merece e se comporta como um bando de repolhos. E com alguma indignação de vez em quando. O empate com o Estrela da Amadora foi o aviso mais importante. Mas acho que é uma equipa organizada, praticamente consolidada, com maturidade. Talvez precise de mais combatividade. — Vai ao Estádio da Luz ver o jogo, estará a trabalhar ou já reservou o «sofá» e um lauto repasto a condizer, com família e/ou amigos? Ou prefere não ver, de todo? — Preferia não ver Mas vou, pela televisão. À Luz prefiro ir ver jogos do Sporting: é rigorosamente verdade. A taça que nunca saiu de Chaves — Qual foi a coisa que mais o impressionou até hoje nos estádios portugueses, que tenha testemunhado ou visto pela televisão? Lembra-se de alguma cena caricata ou lamentável? — O futebol é sempre caricato, todas as semanas. Mas a coisa mais divertida da minha vida de estádio acontecia, também todas as semanas, no estádio do Grupo Desportivo de Chaves: um dos nossos professores, vice-reitor do Liceu, pessoa muito séria, educada e conservadora, transfigurava-se completamente durante os jogos. Gritava, levantava o guarda-chuva, pedia invasão de campo, exigia agressões aos adversários. Depois, no dia seguinte, segunda-feira, voltava ao normal. Aliás, lembro-me de um torneio que uma equipa, e o pudor impede-me de nomeá-la, ganhou ao Desp. Chaves, mas em Chaves. Cometeram um erro fatal: dar a volta ao campo exibindo o troféu. Quando se aproximaram demasiado da velha zona do peão, roubaram-lhes a taça. Acho que não a levaram mesmo. — Como é ser-se portista na capital? — Hoje é razoável ser-se portista em Lisboa. Mas já foi difícil. Lembro-me dos tempos de faculdade, depois de termos ganho uma Supertaça: no dia seguinte, de manhã, éramos apenas dois em toda a faculdade. Não tínhamos com quem festejar. Em caso de derrota, os meus amigos fazem o favor de me felicitar com galhardia. |
JOGUE «HARRY POTTER» |
«Nem que seja para irritar» |
— «Ferido» pela goleada de Liverpool, o FC Porto será mais perigoso? Ou vai «pagar a factura» da eliminação do Benfica da Champions, como diria Mourinho? — O Benfica foi eliminado? Lendo bem A BOLA, não parece. Sinceramente, sem ironia: acho que o Benfica tem uma equipa com grandes momentos, que sabe jogar futebol rápido em grandes jogos e que, por vezes, impõe respeito pela garra. O jogo com o Milan é a prova. Não gostava de ter dito isto, mas pronto, estava distraído. Que não volte a repetir-se. De resto, a Liga e a Champions não têm nada a ver uma coisa com a outra. — Olhando para a equipa do FC Porto, o que o descansa e/ou quem lhe dá confiança para crer na vitória? — A equipa principal dá-me confiança. Lisandro, Lucho, Assunção, Meireles, Bruno Alves, todos. Quaresma deve entrar nem que seja para irritar as bancadas. É um artista que deve ser sempre aproveitado. |
DAVA «UM PUXÃO DE ORELHAS A HELTON» |
«Pavão e Cubillas foram os meus ídolos» |
— Acha que se dá demasiada importância, enquanto fenómeno social, a jogos destes? Confia que não haverá incidentes a registar? — Dá-se demasiada importância, sim. Não suporto as transmissões de tv com horas de antecedência, cheias de reportagens sem interesse algum. O jogo são 90 minutos, e isso seria quase suficiente. Quanto a incidentes, espero que não haja. Se houver, que os responsáveis sejam identificados logo e impedidos de ir aos estádios. — Qual o jogador do FC Porto que tem saudades de ver jogar e/ou, se fosse Jesualdo, colocaria em campo? — Madjer. Gostava muito dele. Tal como de Fernando Gomes. O meu ídolo, na altura, além do Pavão, também foi o Cubillas. Gostava muito da equipa que ganhou a Taça dos Campeões em Viena [n.d.r. — 1987, 2-1 ao Bayern Munique] e da que José Mourinho usou no segundo ano em que foi campeão. E Seninho. Oliveira, esse mesmo. Gostaria de ter visto jogar Hernâni, Jaburu e Barrigana. Jesualdo tem muitas escolhas. — Um desafio de treinador de bancada: substitua-se a Jesualdo Ferreira. Que onze apresentaria? — Helton... com um puxão de orelhas, Bosingwa, Pedro Emanuel, Bruno Alves, Marek Cech, Meireles, Paulo Assunção, Lucho, Lisandro, Quaresma. Não tem nada que saber. Não sei onde encaixava o Kazmierczak, mas acho que entrava. |
JÚLIO MACHADO VAZ SÓ NÃO CANTA O HINO DOS DRAGÕES «PARA EVITAR QUE O PLANTEL RESCINDA» |
«Terei álibi para o pecado da gula!» |
Por ANTÓNIO BARROSO Àboa maneira portuguesa: sentado à volta de uma mesa farta, com a «tribo» de família e amigos reunida, a ver o clássico pela televisão. Desta invejável forma irá acompanhar o seu Benfica no clássico que se jogará no ninho da águia. Um sexólogo prevenido vale por dois: reservou, como confidenciou a A BOLA, munições para festejos... que também servem para afogar eventuais mágoas, pois claro. Quanto à táctica, não há segredos, se pudesse mandava lá para dentro Eusébio e José Águas... e estava ganho. — Desde quando se lembra de ser benfiquista? Porque se tornou adepto, tem ideia? — Até onde a memória alcança. Todos os meus primos o eram, bem como Mãe e Avó lisboetas. Meu Pai, que era portista e jogara nos juniores dos dragões - mercê de um promissor pé esquerdo! -, nunca se arriscou a contestar o matriarcado reinante. — É sócio? Porque se filiou? — Claro! Também escrevo para a revista que vai sair em Dezembro e ajudo no que puder, só não canto o hino para evitar que o plantel rescinda com justa causa. O Benfica é de todos; e todos não seremos de mais, se quisermos que o maior clube do mundo seja também um dos melhores. — Como tem visto a carreira da equipa esta temporada? — Não escondo que considerei um erro a permanência da equipa técnica anterior. Com Camacho os níveis de empenhamento individual e colectivo subiram claramente e algumas das exibições satisfizeram-me, pese embora a dificuldade em concretizar. Outras não, mas espero que essa inconstância diminua. — Vai ao Estádio da Luz ver o jogo, estará a trabalhar ou já reservou o «sofá» e um lauto repasto a condizer, com a família e amigos? — Vou ver no sossego de Cantelães. Com a tribo reunida à volta de mesa farta, que permita depois festejar ou carpir as mágoas. Assim, de um modo ou de outro, terei alibi para o pecado da gula! — Como é ser-se benfiquista na cidade Invicta? Em caso de resultado negativo, os seus amigos dragões entopem-lhe o correio electrónico com mensagens ou o telemóvel de sms com piadas brejeiras? — Nunca tive problemas, talvez por toda a gente me reconhecer o fervor tripeiro e perdoar a traição. Mas das piadas ninguém me livra, claro. É justo: durante muitos anos aturaram eles as minhas! — Qual o jogador do Benfica que tem saudades de ver jogar e/ou, se fosse Camacho, colocaria em campo? — Eusébio, claro, mas também chamava um figo a José Águas naquela área! — Um desafio de treinador de bancada: Se fosse Camacho, que onze apresentaria? — Quim; Nelson, Luisão, David Luiz e Léo; Petit e Katsouranis; Maxi Pereira, Rui Costa e Rodriguez; Nuno Gomes. Com o decorrer do jogo logo se veria... «Esperançazinha de ficar a um ponto» — Acha que o FC Porto «ferido» pela goleada sofrida em Liverpool torna tudo mais perigoso? Que prognóstico para amanhã? — Cheira-me a empate. O Porto está muito mais consolidado como equipa e quatro pontos de avanço dão uma certa paz de espírito, mas mentiria se dissesse que não tenho uma esperançazinha de ficar a um ponto, esfregar as mãos e dizer à tribo:Temos campeonato, carago! — Olhando para a equipa do Benfica, o que é que o descansa e/ou quem lhe dá confiança para acreditar na vitória? — A fibra. Escrevi-o no blog a propósito do jogo com o Milan e repito: quando suam daquela forma a camisola, têm sempre o meu obrigado à espera no fim dos 90 minutos. |
não aos VÂNDALOS |
— Qual foi a coisa que mais o impressionou ver até hoje nos estádios portugueses? Presenciou alguma cena lamentável ou caricata? Qual? — Recordar a morte de um adepto no Estádio Nacional ainda hoje me deixa consternado. É preciso expurgar o futebol de vândalos, sob pena de as bancadas ficarem vazias e a consciência de uma sociedade muito cheia de culpa... |
especialista acredita que quem vencer puxa pelo parceiro... |
«Diferentes opções clubísticas não costumam envenenar as relações eróticas» |
— Acha que se dá demasiada importância, enquanto fenómeno social, a jogos destes? Confia que, desta vez, não haja incidentes a registar? Como sexólogo, com certeza já teve queixas de o futebol ser uma barreira na vida a dois, não? Era só antigamente ou ainda se verificam? — Acho que o futebol assume demasiada importância na vida de muita gente, torna-se escape de quotidianos cinzentos e frustrações que nada têm a ver com ele. Mas que fazer contra a paixão? Aos 58 continuo a ter insónias quando aqueles mafarricos perdem! Quanto a Sábado, tenho esperança que tudo corra bem no relvado e nas bancadas. Curiosamente, as diferentes opções clubísticas não costumam envenenar as relações eróticas. Talvez quem ganhe esteja feliz e disponível para embalar a tristeza do outro. Mas ainda me lembro dos meus tempos de clínico geral e de mulheres batidas porque a vitória não sorrira ao clube do marido. |
Na Abola