O apito embrulhado
Digam-me assim: «Investigámos e escutámos todos—todos os árbitros e todos os dirigentes. O único que levantou suspeitas foi Pinto da Costa». Nessa altura, falamos.
1- Com aquele dom que só ele tem de pegar em notícias alheias e delas fazer manchete de 1.ª página como se fosse coisa sua, o semanário «Expresso» de sábado passado retomou a história, saída dos arquivos da investigação do «Apito Dourado» e já antes revelada pelo JN e pelo «24 Horas», sobre a alegada contratação de prostitutas para servir o trio de arbitragem do FC Porto-Estrela da Amadora do ano passado, cujo resultado final foi 2-0 a favor do Porto. Empolada pelo «Expresso», a notícia tornou-se então caso nacional. Pois, vamos a ele.
Antes porém, gostaria de dizer que a minha paixão pelo futebol e pelo meu clube do coração implicam, necessariamente, que eu não esteja disposto a aceitar, quer a batota no futebol, quer a desonra do meu clube. Para que fique claro: se ficar provado, em tribunal e sem margem para dúvidas, que alguém — do FC Porto ou de qualquer outro clube—usou de métodos ínvios para obter vantagens competitivas, eu defendo que sejam condenados criminalmente e expulsos do futebol. Se assim não fosse, não valeria a pena gostar de futebol e ter orgulho nas vitórias do meu clube. Não farei, certamente, como aqueles benfiquistas que apoiaram e pactuaram com Vale e Azevedo, sabendo que ele desonrava o nome do Benfica, mas achando que esse preço era aceitável se, no final, conseguisse apear o FC Porto da liderança do futebol português. No meu código de valores, no futebol como no resto, não vale tudo. Mas também não contem comigo para pactuar com a hipocrisia e a verdade parcial ou conveniente para alguns.
Antes de ir ao caso em si, gostaria de dizer algumas coisas concretas sobre o «Apito Dourado».
Primeiro que tudo, para estranhar que este caso (se, de facto, visa a «moralização» e a «transparência » no futebol português), não tenha sido avocado, dirigido e orientado pela própria Procuradoria-Geral da República, no âmbito de um processo completo sobre os bastidores do futebol.
Porque é que o processo, em vez disso, se tem limitado à competência e às diligências de uma única comarca do norte, sendo que, aparentemente, só existem, como investigados, dirigentes, árbitros e actos reportados ao Norte?
Como já várias vezes escrevi, estranho que a haver fogo no fumo das suspeitas ciclicamente levantadas sobre a hipotética ajuda dos árbitros ao FC Porto, a todos pareça normal que, havendo árbitros que se deixariam corromper, eles só se disponham a tal a favor do FC Porto será uma auto-limitação de benefícios ou um amor entranhado de todos eles ao FC Porto?
E não será ainda mais estranho sabendo-se que os árbitros são escolhidos, observados e classificados pela Liga de Clubes—onde o FC Porto não detém qualquer poder há vários anos?
Esta pergunta é fulcral: porquê que se começou — e separou — as investigações naqueles «suspeitos »?
Não seria de investigar também, por exemplo, o alcance da célebre declaração de Santana Lopes, quando era presidente do Sporting, acerca da necessidade de comparecer a uns encontros com árbitros no Canal Caveira, para os quais ele se declarou indisponível?
Ou a enigmática declaração do presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, de que o mais importante de tudo era controlar a Liga de clubes?
A segunda questão prévia que coloco é relativa às escutas. Aparentemente, o grosso, se não a totalidade, da «prova» recolhida no «Apito Dourado» assenta em escutas telefónicas. As escutas, como se sabe, só são legítimas e válidas como prova, se obedecerem aos formalismos que a lei exige e que, basicamente, têm que ver com a sua autorização e controle por um juiz de instrução. Ora, tenho lido alguns artigo sem que se manifesta revolta por haver a possibilidade de algumas dessas escutas virem a ser invalidadas por justamente não terem obedecido aos requisitos da lei. E a revolta manifesta-se, não no facto de terem existido escutas ilegítimas— o que é crime—mas sim em elas não poderem vir a ser utilizadas, porque ilegítimas.
Espanta-me que pessoas que deveriam ter um mínimo de sentido cívico sobre o que é um Estado de Direito e uma democracia onde são respeitados os direitos individuais, que deveriam ter alguma memória do que eram e para que serviam as escutas da PIDE, se deixem de tal maneira perturbar por uma hipotética oportunidade fracassada de «caçar» Pinto da Costa, ao ponto de esquecerem que as escutas são sempre uma violação grave da privacidade alheia, que só é justificável em casos extremos e mediante autorização e controle de um juiz. Sob pena de não passarem de um instrumento criminoso de devassa da intimidade de outros e até de uma possibilidade de chantagem com a sua vida privada.
Sabendo, pois, que a base da investigação deste caso assenta nas escutas e constatando a ligeireza com que três jornais, recorrendo a «fontes do processo», (que está em segredo de justiça...) reproduzem parte escolhida de tais escutas — sem que os visados tenham podido contestar a sua legitimidade e o seu conteúdo e até sem conhecerem o seu teor e a acusação que ainda nem foi formulada—tenho as maiores suspeitas de que estamos perante uma manobra tantas vezes repetida e que consiste em a investigação tentar obter junto da opinião pública, e através da imprensa, a condenação prévia de arguidos que julga não poder conseguir em tribunal.
2- Quanto ao caso concreto. Será possível que os árbitros do FC Porto-Estrela da Amadora tenham pedido, e obtido, depois do jogo, o favor de umas senhoras ao domicílio, pagas pelo FC Porto? Sim, não me espantaria muito. Já vi, várias vezes e quer no Porto quer em Lisboa, como os árbitros confraternizam com dirigentes dos clubes após os jogos. Todos os chamados grandes clubes, pelo menos, têm ao seu serviço elementos cuja função é justamente ocupar-se de receberem os árbitros que visitam o seu estádio. Nas próprias provas da UEFA, já tenho encontrado, após os jogos, os árbitros a cearem com os dirigentes do clube português anfitrião e garanto que não ceavamtremoços e amendoins. Ainda no ano passado encontrei o árbitro do FC Porto-Manchester, para a Ligados Campeões (cuja arbitragem prejudicou claramente o FC Porto), a jantar lagosta e afins, após o jogo, na companhia de dois elementos do clube, que faziam de relações públicas. Aparentemente até, é determinação da UEFA este tipo de acolhimento. Ficarão pela lagosta? Não sei, nunca investiguei. Mas sei que todos o fazem e parece-me que a primeira coisa que a juíza de instrução deveria apurar é se esse comportamento está generalizado e instituído ouse se tratou de uma grave excepção.
Mas, para isso, seria necessário, como disse, que o «Apito Dourado» não se limitasse a investigar alguns e esquecer outros — quanto mais não seja, para descobrir o que é suspeito e o que é normal. Admitamos, então, que é verdade o episódio das «meninas» com aquela equipe de arbitragem e naquele jogo. Resta ainda, antes de uma acusação credível, apurar duas coisas: o móbil do crime e a contrapartida do suposto acto de corrupção. O móbil do crime—diz a juíza, citada pelo «Expresso» — consistiria em o árbitro facilitar a vitória do FC Porto contra o Estrela da Amadora, e «em prejuízo do Benfica e do Sporting».
Ora, o FC Porto contava então por vitórias todos os jogos disputados em casa, tinha a melhor equipa, o melhor treinador, o melhor futebol, levava na altura onze pontos de avanço sobre o Benfica e creio que oito sobre o Sporting e preparava-se para, daí a quatro meses, ser campeão europeu. Quanto ao Estrela da Amadora, preparava-se para descer à segunda divisão.
Seria necessário subornar o árbitro para ganhar ao Estrela em casa?
Em relação à contrapartida, terá ela consistido em o árbitro validar os dois golos do Estrela — ambos, segundo a juíza, obtidos em off-side. Confesso que não me lembro do jogo e menos ainda dos golos. Mas seria interessante que a imprensa desportiva e televisiva recuperasse as imagens e as críticas ao jogo, para verificarmos se elas coincidem com tão grave conclusão. Por ora, sabemos apenas que a juíza assentou as suas conclusões na opinião de «peritos» como Jorge Coroado ou Vítor Pereira.
Mas se tal basta, pergunto-me se não deveriam ser investigados todos os jogos em que Jorge Coroado e Vítor Pereira erraram também?
Por exemplo, o controverso Boavista-FC Porto, arbitrado por Vítor Pereira e que, contas feitas, valeu o campeonato ao Boavista com um ponto de avanço sobre o FC Porto, não merecerá ser suspeito?
E o último Sporting-Porto?
E todos os Sporting-Porto dos últimos anos arbitrados por Lucílio Baptista?
E o Benfica-Estoril deste ano? E etc. e tal?
Qual é critério de todo este processo judicial?
Que me com que bases definiu o seu âmbito de acção?
Porquê que Pinto da Costa aparece à partida identificado como alvo único de todas as suspeitas e todos os outros foram descartados como pessoas de bem?
Digam-me assim: «investigámos e escutámos todos — todos os árbitros e todos os dirigentes. O único que levantou suspeitas foi Pinto da Costa». Nessa altura, falamos.
3- Há quinze dias atrás, reinava a paz no futebol português. O FC Porto afundava-se na classificação, entre erros próprios, sequelas do «Apito» devidamente interpretadas pelos árbitros em campo, e a perseguição impiedosa da Comissão Disciplinar da Liga.
Na Segunda Circular reinava ainda o «espírito de cavalheiros » decorrente do «Manifesto » assinado entre os presidentes do Benfica e do Sporting. Tudo ia bem.
Mas eis que quinze dias depois, os cavalheiros ficaram subitamente desavindos e o presidente do Benfica já reclama outra vez ser recebido pelo governo para se queixar da «situação no futebol português».
O que se passou de tão grave, em tão pouco tempo?
Passou-se apenas que o Sporting ganhou um jogo ao Beira-Mar graças a um erro de arbitragem e o Benfica, sem se poder queixar de qualquer erro de arbitragem, viu o seu avanço de seis pontos reduzido a um.
Está a ver, Sr. Dra. Juíza, como por aqui as coisas são mais complicadas do que parecem?
1- Com aquele dom que só ele tem de pegar em notícias alheias e delas fazer manchete de 1.ª página como se fosse coisa sua, o semanário «Expresso» de sábado passado retomou a história, saída dos arquivos da investigação do «Apito Dourado» e já antes revelada pelo JN e pelo «24 Horas», sobre a alegada contratação de prostitutas para servir o trio de arbitragem do FC Porto-Estrela da Amadora do ano passado, cujo resultado final foi 2-0 a favor do Porto. Empolada pelo «Expresso», a notícia tornou-se então caso nacional. Pois, vamos a ele.
Antes porém, gostaria de dizer que a minha paixão pelo futebol e pelo meu clube do coração implicam, necessariamente, que eu não esteja disposto a aceitar, quer a batota no futebol, quer a desonra do meu clube. Para que fique claro: se ficar provado, em tribunal e sem margem para dúvidas, que alguém — do FC Porto ou de qualquer outro clube—usou de métodos ínvios para obter vantagens competitivas, eu defendo que sejam condenados criminalmente e expulsos do futebol. Se assim não fosse, não valeria a pena gostar de futebol e ter orgulho nas vitórias do meu clube. Não farei, certamente, como aqueles benfiquistas que apoiaram e pactuaram com Vale e Azevedo, sabendo que ele desonrava o nome do Benfica, mas achando que esse preço era aceitável se, no final, conseguisse apear o FC Porto da liderança do futebol português. No meu código de valores, no futebol como no resto, não vale tudo. Mas também não contem comigo para pactuar com a hipocrisia e a verdade parcial ou conveniente para alguns.
Antes de ir ao caso em si, gostaria de dizer algumas coisas concretas sobre o «Apito Dourado».
Primeiro que tudo, para estranhar que este caso (se, de facto, visa a «moralização» e a «transparência » no futebol português), não tenha sido avocado, dirigido e orientado pela própria Procuradoria-Geral da República, no âmbito de um processo completo sobre os bastidores do futebol.
Porque é que o processo, em vez disso, se tem limitado à competência e às diligências de uma única comarca do norte, sendo que, aparentemente, só existem, como investigados, dirigentes, árbitros e actos reportados ao Norte?
Como já várias vezes escrevi, estranho que a haver fogo no fumo das suspeitas ciclicamente levantadas sobre a hipotética ajuda dos árbitros ao FC Porto, a todos pareça normal que, havendo árbitros que se deixariam corromper, eles só se disponham a tal a favor do FC Porto será uma auto-limitação de benefícios ou um amor entranhado de todos eles ao FC Porto?
E não será ainda mais estranho sabendo-se que os árbitros são escolhidos, observados e classificados pela Liga de Clubes—onde o FC Porto não detém qualquer poder há vários anos?
Esta pergunta é fulcral: porquê que se começou — e separou — as investigações naqueles «suspeitos »?
Não seria de investigar também, por exemplo, o alcance da célebre declaração de Santana Lopes, quando era presidente do Sporting, acerca da necessidade de comparecer a uns encontros com árbitros no Canal Caveira, para os quais ele se declarou indisponível?
Ou a enigmática declaração do presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, de que o mais importante de tudo era controlar a Liga de clubes?
A segunda questão prévia que coloco é relativa às escutas. Aparentemente, o grosso, se não a totalidade, da «prova» recolhida no «Apito Dourado» assenta em escutas telefónicas. As escutas, como se sabe, só são legítimas e válidas como prova, se obedecerem aos formalismos que a lei exige e que, basicamente, têm que ver com a sua autorização e controle por um juiz de instrução. Ora, tenho lido alguns artigo sem que se manifesta revolta por haver a possibilidade de algumas dessas escutas virem a ser invalidadas por justamente não terem obedecido aos requisitos da lei. E a revolta manifesta-se, não no facto de terem existido escutas ilegítimas— o que é crime—mas sim em elas não poderem vir a ser utilizadas, porque ilegítimas.
Espanta-me que pessoas que deveriam ter um mínimo de sentido cívico sobre o que é um Estado de Direito e uma democracia onde são respeitados os direitos individuais, que deveriam ter alguma memória do que eram e para que serviam as escutas da PIDE, se deixem de tal maneira perturbar por uma hipotética oportunidade fracassada de «caçar» Pinto da Costa, ao ponto de esquecerem que as escutas são sempre uma violação grave da privacidade alheia, que só é justificável em casos extremos e mediante autorização e controle de um juiz. Sob pena de não passarem de um instrumento criminoso de devassa da intimidade de outros e até de uma possibilidade de chantagem com a sua vida privada.
Sabendo, pois, que a base da investigação deste caso assenta nas escutas e constatando a ligeireza com que três jornais, recorrendo a «fontes do processo», (que está em segredo de justiça...) reproduzem parte escolhida de tais escutas — sem que os visados tenham podido contestar a sua legitimidade e o seu conteúdo e até sem conhecerem o seu teor e a acusação que ainda nem foi formulada—tenho as maiores suspeitas de que estamos perante uma manobra tantas vezes repetida e que consiste em a investigação tentar obter junto da opinião pública, e através da imprensa, a condenação prévia de arguidos que julga não poder conseguir em tribunal.
2- Quanto ao caso concreto. Será possível que os árbitros do FC Porto-Estrela da Amadora tenham pedido, e obtido, depois do jogo, o favor de umas senhoras ao domicílio, pagas pelo FC Porto? Sim, não me espantaria muito. Já vi, várias vezes e quer no Porto quer em Lisboa, como os árbitros confraternizam com dirigentes dos clubes após os jogos. Todos os chamados grandes clubes, pelo menos, têm ao seu serviço elementos cuja função é justamente ocupar-se de receberem os árbitros que visitam o seu estádio. Nas próprias provas da UEFA, já tenho encontrado, após os jogos, os árbitros a cearem com os dirigentes do clube português anfitrião e garanto que não ceavamtremoços e amendoins. Ainda no ano passado encontrei o árbitro do FC Porto-Manchester, para a Ligados Campeões (cuja arbitragem prejudicou claramente o FC Porto), a jantar lagosta e afins, após o jogo, na companhia de dois elementos do clube, que faziam de relações públicas. Aparentemente até, é determinação da UEFA este tipo de acolhimento. Ficarão pela lagosta? Não sei, nunca investiguei. Mas sei que todos o fazem e parece-me que a primeira coisa que a juíza de instrução deveria apurar é se esse comportamento está generalizado e instituído ouse se tratou de uma grave excepção.
Mas, para isso, seria necessário, como disse, que o «Apito Dourado» não se limitasse a investigar alguns e esquecer outros — quanto mais não seja, para descobrir o que é suspeito e o que é normal. Admitamos, então, que é verdade o episódio das «meninas» com aquela equipe de arbitragem e naquele jogo. Resta ainda, antes de uma acusação credível, apurar duas coisas: o móbil do crime e a contrapartida do suposto acto de corrupção. O móbil do crime—diz a juíza, citada pelo «Expresso» — consistiria em o árbitro facilitar a vitória do FC Porto contra o Estrela da Amadora, e «em prejuízo do Benfica e do Sporting».
Ora, o FC Porto contava então por vitórias todos os jogos disputados em casa, tinha a melhor equipa, o melhor treinador, o melhor futebol, levava na altura onze pontos de avanço sobre o Benfica e creio que oito sobre o Sporting e preparava-se para, daí a quatro meses, ser campeão europeu. Quanto ao Estrela da Amadora, preparava-se para descer à segunda divisão.
Seria necessário subornar o árbitro para ganhar ao Estrela em casa?
Em relação à contrapartida, terá ela consistido em o árbitro validar os dois golos do Estrela — ambos, segundo a juíza, obtidos em off-side. Confesso que não me lembro do jogo e menos ainda dos golos. Mas seria interessante que a imprensa desportiva e televisiva recuperasse as imagens e as críticas ao jogo, para verificarmos se elas coincidem com tão grave conclusão. Por ora, sabemos apenas que a juíza assentou as suas conclusões na opinião de «peritos» como Jorge Coroado ou Vítor Pereira.
Mas se tal basta, pergunto-me se não deveriam ser investigados todos os jogos em que Jorge Coroado e Vítor Pereira erraram também?
Por exemplo, o controverso Boavista-FC Porto, arbitrado por Vítor Pereira e que, contas feitas, valeu o campeonato ao Boavista com um ponto de avanço sobre o FC Porto, não merecerá ser suspeito?
E o último Sporting-Porto?
E todos os Sporting-Porto dos últimos anos arbitrados por Lucílio Baptista?
E o Benfica-Estoril deste ano? E etc. e tal?
Qual é critério de todo este processo judicial?
Que me com que bases definiu o seu âmbito de acção?
Porquê que Pinto da Costa aparece à partida identificado como alvo único de todas as suspeitas e todos os outros foram descartados como pessoas de bem?
Digam-me assim: «investigámos e escutámos todos — todos os árbitros e todos os dirigentes. O único que levantou suspeitas foi Pinto da Costa». Nessa altura, falamos.
3- Há quinze dias atrás, reinava a paz no futebol português. O FC Porto afundava-se na classificação, entre erros próprios, sequelas do «Apito» devidamente interpretadas pelos árbitros em campo, e a perseguição impiedosa da Comissão Disciplinar da Liga.
Na Segunda Circular reinava ainda o «espírito de cavalheiros » decorrente do «Manifesto » assinado entre os presidentes do Benfica e do Sporting. Tudo ia bem.
Mas eis que quinze dias depois, os cavalheiros ficaram subitamente desavindos e o presidente do Benfica já reclama outra vez ser recebido pelo governo para se queixar da «situação no futebol português».
O que se passou de tão grave, em tão pouco tempo?
Passou-se apenas que o Sporting ganhou um jogo ao Beira-Mar graças a um erro de arbitragem e o Benfica, sem se poder queixar de qualquer erro de arbitragem, viu o seu avanço de seis pontos reduzido a um.
Está a ver, Sr. Dra. Juíza, como por aqui as coisas são mais complicadas do que parecem?