quarta-feira, abril 19, 2006

A ler...

Fantásticas crónicas de José Manuel Ribeiro no Ojogo:

O teu é maior do que o meu


Ontem li o sétimo artigo de opinião, em menos de uma semana, assinado por jornalistas adeptos do Benfica e do Sporting a constatar a superioridade do plantel do FC Porto. O que eles querem dizer é que o FC Porto vai ganhar o campeonato porque tem mais dinheiro. Só num exemplo o autor acrescentou que também lhe cabe o mérito de ter sabido gastá-lo. Numa edição da Liga que começou por descortinar em Karyaka o reforço mais brilhante da pré-temporada, estou a perceber a lógica do argumento financeiro. Indiscutível, note-se, mesmo considerando que ainda esta semana Luís Filipe Vieira disse - e não foi contrariado - que o Benfica é o clube mais saudável na conta bancária, parece que por causa de uma figura económica chamada "passivo não exigível", ou seja, porque deve dinheiro que não precisa de pagar. Enquanto os benfiquistas se entretêm a acreditar nesse absurdo, continuarão a crer também que a culpa pela má época é de Koeman e que, apesar da idade, das referências aterrorizadoras e da lista de conflitos com os treinadores, Laurent Robert vale o milhão e meio de euros que em Junho terá custado. Mau grado esses exemplos de como para gastar dinheiro é preciso sapiência (e sorte), não é por eles que me dou ao trabalho de comentar a opinião dos outros. Se na comparação com o Sporting consigo compreender que se fale na diferença de recursos, apesar dos flopes chamados Deivid, Wender e Édson, no paralelismo com o Benfica só posso ficar perplexo, tal a quantidade de revelações que o facto de ser invocada a superioridade do plantel do FC Porto implica. Portanto, Baía e Helton são melhores guarda-redes e Lucho não é comparável a Karagounis. Pacífico, suponho. Agora: Pepe e Pedro Emanuel são melhores do que Luisão e Anderson; Cech é melhor do que Léo; Bosingwa é melhor do que Nélson; Paulo Assunção melhor do que Petit; Raul Meireles melhor do que Manuel Fernandes; Quaresma melhor do que Simão; McCarthy melhor do que Nuno Gomes; Adriano melhor do que Miccoli; Alan melhor do que Geovanni? Eu até concordo com quase tudo, mas vocês têm a certeza de que é mesmo isto que pensam? A sério, a sério?


A ÉPOCA
Sob o signo do sapo

É possível que o campeonato acabe à porta do Sapo, o restaurante onde José Veiga e Devesa Neto deram a impressão de ter a faca e o queijo na mão. Rima e deve ser verdade, porque nas entradas do Sapo não costuma faltar nada. Com o outro sapo que Adriaanse forçou o pessoal a engolir e mais alguns que se esconderam debaixo dos nenúfares, é garantido: o futebol português vai acabar a época a coaxar.



O outro sapo


A propósito de sapos, supondo que não preciso de explicar por que é que os sapos vêm a propósito, quantas pessoas saberão que há quase cinco mil espécies? Cinco mil variedades, de formas, cores e - imagino - sabores diferentes. Aposto que, se nos déssemos ao trabalho de os provar a todos, encontraríamos sapos com gosto a frango ou aroma a baunilha. O pequeno esforço de esperar pela hora da refeição talvez até valesse algum com pedaços de fruta. Mesmo engasgado pela saliva só de pensar nessas duas perspectivas, o meu paladar tende, apesar de tudo, para os que cabe aos outros engolir. Nesse pressuposto, dos que se tem discutido ultimamente, e ponho já de parte o Sapo de Penafiel para evitar equívocos, Adriaanse será o que mais esófagos transtorna (o meu penitenciou-se depois do FC Porto-Braga e já rezei os pais nossos todos), mas não pode abrir e fechar o capítulo dos batráquios, porque nem só de holandeses vivem as generalizações. Lembro-me de uma - discutida na base do "porque sim", esse argumento de ferro - que entrou para a História, no primeiro trimestre de 2005, como a primeira opinião comum a críticos portistas e não portistas, se exceptuarmos aquele par de dias, em Maio de 2004, em que coincidiu nem uns nem outros gostarem de Mourinho. Refiro-me à "escola de samba", essa metáfora nazi que pretendeu nivelar bem por baixo todos os jogadores brasileiros do FC Porto, a pretexto de um sábio provérbio de Pedroto, o que significa que, ao preconceito inicial, se atrelou o crime de invocar o nome de alguém que não estava cá para se defender nem para mudar de ideias. Discutir isto é, naturalmente, descer ao grau zero da inteligência, mas vou tentar usar uma linguagem que os filósofos entendam. Se três brasileiros fazem uma escola de samba, quais enxotariam neste momento, não do onze mas do plantel do FC Porto, para ficarem apenas com dois e afastarem em definitivo as pandeiretas do balneário: Helton, Pepe, Paulo Assunção, Adriano, Ibson, o recém-iluminado Jorginho ou pomos os t... em cima da mesa e mandamo-los todos com o c...?


A OUTRA VERSÃO

"Ele travou uma jogada de contra-ataque em que eu ia com perigo para a área do FC Porto "

Harison sobre a falta que valeu a Lucho o primeiro vermelho da carreira



O crítico


Tem de se concordar com Pinto da Costa. Os críticos foram duríssimos para Co Adriaanse. Um, em particular, mais do que os outros todos. O sistema, a escolha dos jogadores para a defesa; a decisão de jogar sem um verdadeiro médio de cobertura; a irracional e invariável fome atacante; a subida em simultâneo dos dois laterais: daquele primeiro FC Porto da época, nenhuma parte escapou intocada a este terrível censor, ou antes, nenhuma parte escapou, ponto. O pior crítico de Adriaanse é holandês e os amigos, incluindo os amigos portugueses que apareceram esta semana, chamam-lhe Co.

Das derrotas com o Artmedia e o Benfica (no Dragão) até agora, lentamente ou de rompante, eliminou vários erros, alguns que lhe foram sendo apontados pela crítica, mas também outros - é verdade - de que crítico algum se lembrou.

a) Pepe não jogava e ninguém achou que fosse asneira;

b) treinadores, jornalistas e Mourinhos incluídos, a ninguém pareceu plausível que, para defender bem, o FC Porto precisasse de perder um defesa (aliás, Jorge Jesus continua a falar num FC Porto ultra-ofensivo, sinal de não percebeu ou de que lhe interessa fingir não ter percebido);

c) ninguém, absolutamente ninguém, tolerou as insistências em Alan e Jorginho;

Noutras situações, Adriaanse foi ao encontro dos reparos que lhe fizeram.

a) Paulo Assunção é o trinco que a crítica pediu, embora sem saber que o estava a pedir a ele;

b) o meio-campo actual é bem menos leviano do que o de outros tempos;

c) o FC Porto que jogou estas duas últimas vezes com o Sporting, e até na Luz, é uma equipa já informada de que os jogos ganhos por 1-0 também alimentam;

d) aos laterais não passa agora pela cabeça subir sem garantias de devida compensação.

Pinto da Costa diz que Adriaanse vai provar que não é maluco. Desnecessário. Não pode ser maluco quem põe essa possibilidade e, se alguma coisa o treinador do FC Porto provou, foi que analisou melhor a hipótese do que qualquer dos críticos mencionados pelo presidente. E também descobriu o remédio.


Sumaríssimos

"Seria justo se fosse para tudo, para ilibar uns e castigar outros"

Tó Neves, ex-jogador de hóquei do FC Porto e adepto

Fantásticas crónicas também do Jorge Maia no Ojogo:

Teoria da conspiração

Se uma mentira repetida muitas vezes acaba por se tornar verdade, uma estupidez repetida constantemente é apenas sintoma de demência. Pelos vistos, há quem, entre dois anti-ácidos, encontre uma ligação directa entre o título do FC Porto e as boas relações entre Pinto da Costa e Soares Franco. Há quem, entre duas tremuras que a idade não perdoa, considere o ex-futuro-presente-candidato à presidência do Sporting ingénuo por se ter deixado seduzir pelo canto de sereia do presidente portista. Há quem, entre duas descargas biliares, garanta que, se não fosse a maldita aliança, Jorginho nunca teria conseguido marcar aquele golo a Ricardo, Helton nunca teria defendido o remate de João Moutinho e Pepe não teria conseguido eclipsar Liedson. Se Pinto da Costa não se sentasse ao lado de Soares Franco na bancada do Estádio de Alvalade não haveria seca, nem desemprego, nem poluição, nem gripe das aves. O preço da gasolina baixaria, os salários subiriam, a cerveja estaria sempre fria, o café sempre quente e o tremoço salgado. Tudo seria perfeito. Como na última temporada, quando a santa aliança entre Sporting e Benfica deu o corpo ao Manifesto. Aí sim, o Sporting fez uma boa opção. É claro que foi afastado do título à cotovelada, mas, que diabos, foi o Benfica que o ganhou. Ficou tudo lá por casa e assim é que estava bem, como nos bons velhos tempos de fado, futebol e Fátima. Agora, dar-se bem com o FC Porto? Receber os dirigentes portistas de forma digna? Estava mesmo a ver-se que o Sporting ia perder. O que é que o Paulo Bento podia fazer? Como é que o Liedson podia passar pelo Pepe nestas condições? Que hipóteses tinha João Moutinho de bater Helton assim? Quem podia esperar que o Ricardo defendesse mais aquele remate do Jorginho depois de Soares Franco cometer semelhante traição? Qualquer idiota podia claramente ver no que aquilo ia dar. Aliás, muitos idiotas viram mesmo.


Lucho
Referendado

O site argentino terra.com.ar resolveu promover um referendo online para ajudar José Pekerman a definir a lista de 23 convocados da Argentina para o próximo Mundial. Lucho González, médio do FC Porto, foi o quinto médio mais votado pelos utilizadores do site, bem à frente de Verón e Cambiasso, jogadores do Inter de Milão. A única coisa que pode impedir Lucho de marcar presença no Mundial é esta faceta de jogador faltoso que Elmano Santos lhe descobriu depois de 297 jogos sem ser expulso.


Vencedores

"O principal vencedor da temporada é Pinto da Costa, que soube manter a serenidade e fazer a ponte entre o nervosismo dos adeptos, que chegaram a mostrar lenços brancos, e a teimosia ou intransigência, às vezes pouco racional, do treinador"

Fernando Gomes, adminsitrador da GALP



Blatter leve, levemente


Um jornal croata, mais concretamente o "Jutarnji list", publicou ontem uma polémica entrevista de Joseph Blatter, presidente da FIFA. Ora, por estranho que possa parecer, tenho de confessar não ser um leitor assíduo da imprensa croata. Assino um ou outro tablóide sérvio, não perco a imprensa desportiva tchechena, mas os jornais croatas passam-me ao lado. Não sei se o "Jutarnji list" é um jornal de referência ou um pasquim, se é credível ou incrível, se é o Público ou o Inimigo Público e, enquanto não o souber, tenho que admitir a possibilidade de tudo não passar de um enorme equívoco ou até de um erro de tradução. Se não for nada disso, se Blatter disse mesmo o que vem lá escrito, então talvez seja altura de começar a equacionar a obrigatoriedade da realização de testes psicotécnicos para avaliar a inteligência dos candidatos à presidência da FIFA. Entre outras coisas que lhe são atribuídas, Blatter terá dito que uma delegação de Portugal - não especifíca quem, nem a que título, nem como raios representavam Portugal - se terá queixado de pressões por parte de vários políticos e empresários no sentido de forçar a convocação de Vítor Baía para a selecção portuguesa contra a vontade de Scolari. E terá ido mais longe, garantindo que "os poderosos" insistem que Baía seja convocado pelo menos como terceiro guarda-redes. E para quê? Para poderem vendê-lo por um preço maior, claro. Bonita a forma como o presidente da FIFA terá reduzido Portugal a uma espécie de República das Bananas ao melhor estilo da América Latina onde os políticos e os empresários não têm nada melhor para fazer senão pressionar o seleccionador nacional. Já estou a ver José Socrates e Belmiro de Azevedo agarrados ao telemóvel a tratarem de tudo. Mas o melhor, a cereja no topo da asneira, é que toda esta corrupção tenha como objectivo forçar uma fantástica valorização de Vítor Baía chamando-o ao Mundial como terceiro guarda-redes. Depois de 80 jogos pela Selecção, depois de oito títulos de campeão nacional, de quatro Taças de Portugal, de sete Supertaças, de uma Liga dos Campeões, de uma Taça UEFA, uma Taça das Taças, uma Taça Intercontinental, um título de campeão de Espanha, uma Taça do Rei e uma Supertaça espanhola, aos 36 anos, Vítor Baía é um desconhecido e só precisa desesperadamente de um empurrãozinho de Scolari. Se ao menos o seleccionador o chamasse, nem que fosse para terceira opção, então sim, os grandes clubes europeus perderiam a cabeça oferecendo o céu e a terra para o contratar. De facto, como dizia a minha avó, não há limites nem fronteiras para a estupidez.


REFORÇO
Quatro em um

"Já joguei como trinco, defesa-esquerdo, defesa-direito ou central. Prefiro jogar a central, mas não teria problemas em fazê-lo noutros lugares"

João Paulo, jogador do Leiria