Vamos por partes. A minha avó não era de dar conselhos, não gostava de futebol e duvido mesmo que na casa da aldeia alguma vez tenha entrado uma televisão. Mas também não havia muito futebol na RTP. Apesar de passar os dias, os dias de que eu me lembro, sentada debaixo de uma ramada a fazer chapéus de palha, recordo que guardava com ela frases soltas que utilizava sempre no momento certo. Em linguagem de futebol, a minha avó era o Van Basten das frases-feitas. Uma vez ouvi atentamente dizer-me que "errar é humano, persistir no erro é diabólico". Nunca entendi muito bem a utilização do vocábulo diabólico, até que anos mais tarde o pequeno dicionário esverdeado da Porto Editora me elucidou. Foi um choque. O que de facto a minha avó queria dizer é que insistir no erro é próprio do Diabo. Mas ela tinha razão, como se tem visto esta semana.
O Diário de Notícias recuperou Apito Dourado em formato das fotonovelas, em outros tempos muito em voga, e juntou-lhe o argumento do caso nascido em 2004. Por capítulos e sem problemas com o facto da história já ser conhecida. Por isso fomos sabendo (outra vez!) ao longo desta semana que houve manobras de bastidores para prejudicar o Benfica em três jogos de 2003/04, que tentaram fazer o mesmo ao Sporting num jogo com o Gil Vicente e que o "polvo" moveu tentáculos em benefício do Boavista numa mão cheia de jogos. O erro de pormenor aqui é que um dos jogos em que o objectivo era beneficiar o Boavista foi numa recepção ao FC Porto. Mas, mesmo assim é errado pensar-se que foi para prejudicar o FC Porto. O diabólico que a minha avó usava sem que eu achasse correcta a sua utilização significa também "difícil de perceber ou de resolver". O erro nesta condução mediática do Apito Dourado é que, o importante não é que a justiça aja, é que a justiça seja o que se gostaria que fosse.
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