Álvaro Magalhães, escritor no JN:
Fechados para obras
Onde está o F. C. Porto de Mourinho, que assombrou a Europa? Na terça-feira, os ingleses apenas vislumbraram a sua desfalecida imagem. Nós já tínhamos dado por isso há algum tempo.
Este F.C.Porto, com Adriaanse ou Jesualdo, ou qualquer outro, chega para o consumo interno. A nível europeu, porém, passou a ser uma daquelas equipas simpáticas que animam a primeira fase, onde os grandes vão aquecendo os seus motores.
O que se passou, então? A equipa campeã foi vendida para se abrir espaço a nova construção. E, como se sabe, não faltava dinheiro para tal. Ora, o que tem falhado é essa reconstrução. Não há Nanis ou Moutinhos, isto é, formação, nem imaginação, como queria Adriaanse, sequer boa política de compras (só este ano chegaram sete reforços e nem um só aparece na equipa). E mesmo a política de vendas e dispensas (Diego, Hugo Almeida, McCarthy) dá que pensar. Até porque nos disseram logo a seguir que não havia dinheiro para um indispensável matador (só para pagar os impostos, o que parece ser o grande objectivo da época).
Por sua vez, os treinadores sucedem-se, o que muito atrasa a reconstrução. E é assim que estamos agora entre as ruínas de Adriaaanse e os andaimes do projecto de Jesualdo. Ou seja, outra vez fechados (na Europa) para obras. Mas há diferenças, é claro. No ano passado, a equipa jogava bem, marcava, e perdia. Agora joga mal, não marca, e perde também. Foi, pois, de mal a pior. E Jesualdo tem a sua dose de culpa, já que a equipa de Londres foi o reflexo do seu acanhamento e confusão. O que não admira. Na nossa Liga, onde é tratado por professor, pode ser um mestre, mas na terça-feira era apenas um caloiro no seu segundo dia de aulas. Está apto para o "Arsenal" de Braga, não para o de Londres.
Por isso, se pôs a inventar, o que, em futebol, é um pecado capital. Embora esteja sempre a falar em rotinas, montou uma equipa inédita, talvez irrepetível, logo, sem rotinas. Quando chegou ao onze recomendável, o jogo estava decidido. E ainda foi a tempo de retirar Anderson e liquidar a esperança de um acontecimento fulgurante.
Se o jovem brasileiro não estava nos seus dias, ele também não. Embora também esteja sempre a falar em equilíbrio, limitou-se a inverter o pendor da inclinação da equipa da dianteira para a retaguarda. Com Adriaanse, ainda havia excitação e golos, agora é uma secura total. Houve momentos, na terça-feira, em que sentimos saudades da equipa aventureira e insensata do holandês, o que diz muito sobre o atraso da construção de Jesualdo.
Esperemos pois que o professor, já que perdeu um jogo que tinha de perder, não tenha perdido a lição. Se assim for, pelo menos já terá ficado a saber que as experiências e invenções se fazem em casa, quer dizer, nos treinos, ou, quando muito, nos jogos com a Naval e o Aves, e não nos jogos mais difíceis da Liga dos Campeões.