Se há males que vêm por bem, o mais provável é que haja alguns bens que vêm por mal. Assim como aqueles rojões de sarrabulho que nos sabem pela vida, mas nos deixam dois dias a sais de frutos. De certa forma, se os adeptos do FC Porto não tivessem enchido a barriga durante as primeiras quatro jornadas, não lhes tinha custado tanto a engolir a derrota com o Braga na última ronda. O facto é que as quatro vitórias que marcaram o arranque dos portistas no campeonato - cinco, se contarmos o triunfo sobre o Setúbal em Leiria que valeu a conquista de mais uma Supertaça - bem como a eficácia demonstrada pelo ataque e a segurança revelada pela defesa nesses jogos, acabou por fazer esquecer que o FC Porto atravessava, e ainda atravessa, uma fase de transição. Mais do que a mudança de treinador, que seria sempre difícil de gerir no arranque de uma temporada, as mudanças de filosofia e sistema táctico, especialmente quando são tão radicais como aquelas que Jesualdo Ferreira operou na equipa construída por Co Adriaanse, exigem um período de quarentena antes de poderem sair à rua. A facilidade com que os portistas ultrapassaram os primeiros obstáculos que lhes surgiram ao caminho fizeram esquecer que esta equipa foi originalmente desenhada e treinada para jogar num sistema diferente, tão diferente que Adriaanse se deu ao luxo de dispensar alguns jogadores que Jesualdo certamente não desdenharia agora. Acrescente-se a isso uma sucessão de lesões de elementos cruciais e a juventude de um plantel com uma média de idades próxima dos 24 anos e ninguém estranharia que o FC Porto perdesse em Braga se o jogo tivesse acontecido na primeira jornada. Mas à quinta e depois de quatro vitórias consecutivas, uma derrota é sempre mais difícil de digerir. Por outro lado, como a minha avó costumava dizer, ainda a propósito dos rojões de sarrabulho, barriga que lá os tem, lá os governa.
Só verdades
Há 13 horas