Tudo isto e mais um Benfica-FC Porto
A esta Selecção falta, de facto, um defesa-esquerdo e um sucessor para Pauleta, no eixo do ataque. À parte isso, é capaz de ser a melhor Selecção portuguesa de todos os tempos.
1- Há três anos que ando a desbaratar elogios a Ricardo Quaresma e a defendê-lo de todos os cépticos ou cegos. Defendi-o em 2005, o ano horrível do FC Porto, quando ele sozinho carregou às costas uma equipa sem tom nem som. Defendi-o no início de 2006, quando o visionário Co Adriaanse resolveu que ele servia era para suplente — ou porque era cigano, ou porque não gostava do penteado dele ou porque, como dizia a generalidade dos críticos, o Quaresma «não defendia». E defendi-o no Verão passado, quando já só um vesgo ou um teimoso é que não reconhecia a excelência do futebol subversivo de Quaresma, e Scolari resolveu, mesmo assim, deixá-lo de fora do Mundial, privando-o de uma experiência que, mais do que tinha justificado e merecido, privou milhões de amantes de futebol no mundo inteiro de tomarem conhecimento da sua existência.
Mas Ricardo Quaresma gosta demasiadamente de jogar futebol para se deixar abater ou ficar cativo da apreciação alheia. Contra tudo e contra todos, até contra a pancada que recebe em doses acrescidas e até contra os castigos que depois é ele que recebe e não os agressores, Ricardo Quaresma continua a ter um imenso prazer em jogar futebol e em cumular-nos de prazer ao vê-lo jogar. Estou inteiramente de acordo com a opinião que João Bonzinho ontem aqui expôs: Cristiano Ronaldo é bem capaz de ser o melhor jogador do mundo, neste momento, mas Quaresma é mais «selvagem», mais «puro» enquanto génio. Cristiano é um jogador completo, arrebatador, demolidor; Quaresma é um mágico, um daqueles jogadores capazes ainda de inventar novos truques com uma bola, de fazerem o impensável de, na subtileza de um simples toque, mudarem o vento do jogo.
Assim, o fantástico golo de Quaresma contra a Bélgica não me surpreendeu. Aliás, já esta época arcou um assim ao Benfica e não marcou outro ao Chelsea porque a bola morreu na tinta da barra de um petrificado Petr Cech. A mim só me surpreende que alguém ainda se surpreenda, e, para a surpresa ser total, só falta que venham dizer que foi o Scolari quem descobriu o génio do Quaresma e o soube pôr ao serviço da Selecção.
2- A esta Selecção falta, de facto, um defesa-esquerdo e um sucessor para Pauleta, no eixo do ataque.
Àparte isso, é capaz de ser a melhor Selecção portuguesa de todos os tempos. Só por incrível acidente é que não chegará à fase final do Europeu. Mas devia jogar sempre em Alvalade: há qualquer coisa ali que os inspira.
3- À moda do Trio D'Ataque, eis a equipa do FC Porto que eu faria entrar de início no relvado da Luz:
Vitor Baía; Fucile, Pepe, Bruno Alves e Marek Cech; Vieirinha, Bosingwa, Paulo Assunção e Raul Meireles; Adriano e Quaresma.
Parto do princípio de que o Lizandro não recupera e que o Anderson só poderá ser utilizado com riscos.
Eu preferia não arriscar, preferia o Anderson para o que resta de campeonato, do que tê-lo na Luz a meio-gás e, depois, perdê-lo até final. Aliás, não tivesse sido a derrota com o Sporting, se o Porto tem chegado à Luz com quatro pontos de avanço, eu também dispensaria o Quaresma: é que tenho um mau pressentimento que ele não vai acabar o jogo.
Mas, seja qual for a equipa que Jesualdo Ferreira venha a escolher, eu deixo aqui uma previsão arriscada: em circunstâncias normais (isto é, sem casos de arbitragem ou jogadores enviados para o estaleiro), o FC Porto é o meu favorito à vitória. Porquê? Porque é nestas alturas que o FC Porto costuma transcender-se e mostrar porque é que que ganha mais vezes que os outros. Porque, quando já nada mais resta do que ir à luta em campo e vencer, o espírito de todas as equipas formadas ao longo dos últimos anos naquela casa é o de vencedores.
Não quero com isto dizer que não tenho respeito ou que não temo a actual equipa do Benfica. Muito pelo contrário, o Benfica em dia sim é uma equipa temível. Mas tanto é capaz do melhor como do pior, e ao longo do mesmo jogo. Mas uma equipa de campeões demora anos a forjar e passa por uma quantidade de factores que não se limitam à vontade de ganhar. É isso que muita gente insiste em não querer ver.
4- Li atentamente a entrevista que o dr. Ricardo Costa, presidente da Comissão Disciplinar da Liga,deu ontem a este jornal — como já antes havia lido com igual atenção as suas intervenções anteriores.
Li e não fiquei convencido. Respeito muito a sua vontade de fazer bem, a sua qualificação juridica, o seu esforço pelo futebol. E, obviamente, não está, nem nunca esteve, em causa a sua honestidade ou a dos demais elementos da CD — ao contrário, do que ele sustenta, quando se atira aos comentadores clubísticos. Parece que, infelizmente, também é preciso começar por recordar que, na sociedade democrática em que vivemos, existe uma coisa que se chama direito de opinião, direito de crítica, direito de discordar. Ao contrário do que ele sugere, não existem, de um lado os bons, honestos, sérios e isentos, que são os membros da CD; e, do outro lado, os mal-intencionados, facciosos e,eventualmente, desonestos, que são quem os critica.
Eu, por exemplo, de facto, não sou isento clubisticamente. Só que nunca o escondi, antes o afirmei, e é na qualidade de adepto, e apenas nessa, que aqui exponho as minhas opiniões. Mas também devo dizer que não acredito que os membros da CD da Liga sejam todos isentos clubisticamente. Nem acredito nem o exijo: basta-me que sejam isentos a decidir.
Aqui há semanas, e reflectindo sobre a aparente disparidade de tratamento disciplinar dado aos casos de Nuno Gomes e de Ricardo Quaresma, escrevi aqui um texto, que bastante sereno e isento me pareceu, em que explicava as razões pelas quais não compreendia ou rejeitava alguns dos critérios adoptados e porque é que, a meu ver, eles podiam facilmente conduzir a decisões comparativamente injustas e incompreensíveis. Devo dizer, imodestamente, que achei que as minhas razões poderiam pelo menos suscitar alguma discussão, igualmente séria e serena, em que quem pode e manda tentasse perceber as razões de quem não manda mas pode discordar ou ter dúvidas. O que não esperava, sinceramente, é que quem pode e manda descartasse tudo à conta da ignorância ou do facciosismo clubístico.
Registadas mais uma vez as explicações do dr. Ricardo Costa, eu continuo na minha, nas minhas razões e nas minhas dúvidas, que, de forma alguma, vi esclarecidas. E, acima de tudo, o que me faz confusão é que, na esteira deste mundo de juristas em que vivemos (e eu também o sou, embora salutarmente retirado), se continue a confundir legalidade com justiça. Há muitas áreas, no nosso direito, em que por amor extremo e absurdo à legalidade formal e ao processualismo, se deixa de fazer justiça — pelo menos, uma justiça que o comum dos cidadãos possa entender e respeitar. Mas o futebol e os regulamentos de disciplina desportiva não são um Código Penal. São uma área onde, justamente, o que se pede é bom-senso e justiça, e não uma série infinda de malabarismos processuais e legalistas que fazem com que, no limite, ninguém entenda por que razão um jogador que entra a pontapé sobre as pernas doutro numa disputa de bola é menos penalizado do que um que dá um safanão com o braço para se libertar de um adversário que o está a agarrar. Ou que dois jogadores que praticaram exactamente o mesmo acto possam ser punidos de forma diferente, conforme os árbitros digam que viram ou que não viram o que todos viram, incluindo os membros da CD.
Não duvido de que o dr. Ricardo Costa e os seus pares cumpram escrupulosamente os regulamentos da Liga, ou que, pelo menos, o tentem. Mas, com todo o respeito pelo seu esforço, não é isso que está em causa. Eu estou-me nas tintas para a vaca sagrada dos regulamentos da Liga, se eles não fazem sentido. Quero é uma justiça desportiva que seja rápida, eficaz, coerente, igual para todos e entendível por todos. Isso, para mim, é que seria novo. Mas, pelos vistos, ainda não é desta que a vamos ter.
A esta Selecção falta, de facto, um defesa-esquerdo e um sucessor para Pauleta, no eixo do ataque. À parte isso, é capaz de ser a melhor Selecção portuguesa de todos os tempos.
1- Há três anos que ando a desbaratar elogios a Ricardo Quaresma e a defendê-lo de todos os cépticos ou cegos. Defendi-o em 2005, o ano horrível do FC Porto, quando ele sozinho carregou às costas uma equipa sem tom nem som. Defendi-o no início de 2006, quando o visionário Co Adriaanse resolveu que ele servia era para suplente — ou porque era cigano, ou porque não gostava do penteado dele ou porque, como dizia a generalidade dos críticos, o Quaresma «não defendia». E defendi-o no Verão passado, quando já só um vesgo ou um teimoso é que não reconhecia a excelência do futebol subversivo de Quaresma, e Scolari resolveu, mesmo assim, deixá-lo de fora do Mundial, privando-o de uma experiência que, mais do que tinha justificado e merecido, privou milhões de amantes de futebol no mundo inteiro de tomarem conhecimento da sua existência.
Mas Ricardo Quaresma gosta demasiadamente de jogar futebol para se deixar abater ou ficar cativo da apreciação alheia. Contra tudo e contra todos, até contra a pancada que recebe em doses acrescidas e até contra os castigos que depois é ele que recebe e não os agressores, Ricardo Quaresma continua a ter um imenso prazer em jogar futebol e em cumular-nos de prazer ao vê-lo jogar. Estou inteiramente de acordo com a opinião que João Bonzinho ontem aqui expôs: Cristiano Ronaldo é bem capaz de ser o melhor jogador do mundo, neste momento, mas Quaresma é mais «selvagem», mais «puro» enquanto génio. Cristiano é um jogador completo, arrebatador, demolidor; Quaresma é um mágico, um daqueles jogadores capazes ainda de inventar novos truques com uma bola, de fazerem o impensável de, na subtileza de um simples toque, mudarem o vento do jogo.
Assim, o fantástico golo de Quaresma contra a Bélgica não me surpreendeu. Aliás, já esta época arcou um assim ao Benfica e não marcou outro ao Chelsea porque a bola morreu na tinta da barra de um petrificado Petr Cech. A mim só me surpreende que alguém ainda se surpreenda, e, para a surpresa ser total, só falta que venham dizer que foi o Scolari quem descobriu o génio do Quaresma e o soube pôr ao serviço da Selecção.
2- A esta Selecção falta, de facto, um defesa-esquerdo e um sucessor para Pauleta, no eixo do ataque.
Àparte isso, é capaz de ser a melhor Selecção portuguesa de todos os tempos. Só por incrível acidente é que não chegará à fase final do Europeu. Mas devia jogar sempre em Alvalade: há qualquer coisa ali que os inspira.
3- À moda do Trio D'Ataque, eis a equipa do FC Porto que eu faria entrar de início no relvado da Luz:
Vitor Baía; Fucile, Pepe, Bruno Alves e Marek Cech; Vieirinha, Bosingwa, Paulo Assunção e Raul Meireles; Adriano e Quaresma.
Parto do princípio de que o Lizandro não recupera e que o Anderson só poderá ser utilizado com riscos.
Eu preferia não arriscar, preferia o Anderson para o que resta de campeonato, do que tê-lo na Luz a meio-gás e, depois, perdê-lo até final. Aliás, não tivesse sido a derrota com o Sporting, se o Porto tem chegado à Luz com quatro pontos de avanço, eu também dispensaria o Quaresma: é que tenho um mau pressentimento que ele não vai acabar o jogo.
Mas, seja qual for a equipa que Jesualdo Ferreira venha a escolher, eu deixo aqui uma previsão arriscada: em circunstâncias normais (isto é, sem casos de arbitragem ou jogadores enviados para o estaleiro), o FC Porto é o meu favorito à vitória. Porquê? Porque é nestas alturas que o FC Porto costuma transcender-se e mostrar porque é que que ganha mais vezes que os outros. Porque, quando já nada mais resta do que ir à luta em campo e vencer, o espírito de todas as equipas formadas ao longo dos últimos anos naquela casa é o de vencedores.
Não quero com isto dizer que não tenho respeito ou que não temo a actual equipa do Benfica. Muito pelo contrário, o Benfica em dia sim é uma equipa temível. Mas tanto é capaz do melhor como do pior, e ao longo do mesmo jogo. Mas uma equipa de campeões demora anos a forjar e passa por uma quantidade de factores que não se limitam à vontade de ganhar. É isso que muita gente insiste em não querer ver.
4- Li atentamente a entrevista que o dr. Ricardo Costa, presidente da Comissão Disciplinar da Liga,deu ontem a este jornal — como já antes havia lido com igual atenção as suas intervenções anteriores.
Li e não fiquei convencido. Respeito muito a sua vontade de fazer bem, a sua qualificação juridica, o seu esforço pelo futebol. E, obviamente, não está, nem nunca esteve, em causa a sua honestidade ou a dos demais elementos da CD — ao contrário, do que ele sustenta, quando se atira aos comentadores clubísticos. Parece que, infelizmente, também é preciso começar por recordar que, na sociedade democrática em que vivemos, existe uma coisa que se chama direito de opinião, direito de crítica, direito de discordar. Ao contrário do que ele sugere, não existem, de um lado os bons, honestos, sérios e isentos, que são os membros da CD; e, do outro lado, os mal-intencionados, facciosos e,eventualmente, desonestos, que são quem os critica.
Eu, por exemplo, de facto, não sou isento clubisticamente. Só que nunca o escondi, antes o afirmei, e é na qualidade de adepto, e apenas nessa, que aqui exponho as minhas opiniões. Mas também devo dizer que não acredito que os membros da CD da Liga sejam todos isentos clubisticamente. Nem acredito nem o exijo: basta-me que sejam isentos a decidir.
Aqui há semanas, e reflectindo sobre a aparente disparidade de tratamento disciplinar dado aos casos de Nuno Gomes e de Ricardo Quaresma, escrevi aqui um texto, que bastante sereno e isento me pareceu, em que explicava as razões pelas quais não compreendia ou rejeitava alguns dos critérios adoptados e porque é que, a meu ver, eles podiam facilmente conduzir a decisões comparativamente injustas e incompreensíveis. Devo dizer, imodestamente, que achei que as minhas razões poderiam pelo menos suscitar alguma discussão, igualmente séria e serena, em que quem pode e manda tentasse perceber as razões de quem não manda mas pode discordar ou ter dúvidas. O que não esperava, sinceramente, é que quem pode e manda descartasse tudo à conta da ignorância ou do facciosismo clubístico.
Registadas mais uma vez as explicações do dr. Ricardo Costa, eu continuo na minha, nas minhas razões e nas minhas dúvidas, que, de forma alguma, vi esclarecidas. E, acima de tudo, o que me faz confusão é que, na esteira deste mundo de juristas em que vivemos (e eu também o sou, embora salutarmente retirado), se continue a confundir legalidade com justiça. Há muitas áreas, no nosso direito, em que por amor extremo e absurdo à legalidade formal e ao processualismo, se deixa de fazer justiça — pelo menos, uma justiça que o comum dos cidadãos possa entender e respeitar. Mas o futebol e os regulamentos de disciplina desportiva não são um Código Penal. São uma área onde, justamente, o que se pede é bom-senso e justiça, e não uma série infinda de malabarismos processuais e legalistas que fazem com que, no limite, ninguém entenda por que razão um jogador que entra a pontapé sobre as pernas doutro numa disputa de bola é menos penalizado do que um que dá um safanão com o braço para se libertar de um adversário que o está a agarrar. Ou que dois jogadores que praticaram exactamente o mesmo acto possam ser punidos de forma diferente, conforme os árbitros digam que viram ou que não viram o que todos viram, incluindo os membros da CD.
Não duvido de que o dr. Ricardo Costa e os seus pares cumpram escrupulosamente os regulamentos da Liga, ou que, pelo menos, o tentem. Mas, com todo o respeito pelo seu esforço, não é isso que está em causa. Eu estou-me nas tintas para a vaca sagrada dos regulamentos da Liga, se eles não fazem sentido. Quero é uma justiça desportiva que seja rápida, eficaz, coerente, igual para todos e entendível por todos. Isso, para mim, é que seria novo. Mas, pelos vistos, ainda não é desta que a vamos ter.
Outro olhar sobre o FC Porto-Sporting
O Sporting foi indiscutivelmente melhor como equipa e em termos de estratégia de jogo. Mas, para uma equipa a quem só a vitória interessava, a mim ficou-me a ideia de que o Sporting muito pouco fez por isso
1- Mal o jogo acaba, começo a receber SMS de sportinguistas: «Grande banho de bola que vos demos!» Abro os jornais desportivos do dia seguinte e dizem o mesmo. E confesso que fico entre o perplexo e o preocupado: aquilo foi «um banho de bola» e eu não dei por nada? Será que o meu facciosismo clubístico já me impede de ver o que todos vêem, ou todos vêem o que querem ver? Eis o que eu vi.
O Sporting foi indiscutivelmente melhor como equipa e em termos de estratégia de jogo. Explorou os dois pontos fracos do FC Porto, que são evidentes para qualquer pessoa: o meio-campo e a preparação física. Com isso, a equipa dirigida por Paulo Bento controlou grande parte do jogo, anulou, com relativa facilidade, a criatividade do jogo do Porto e jogou, ou não deixou jogar, o suficiente para nunca merecer perder.
Mas, para uma equipa a quem só a vitória interessava, a mim ficou-me a ideia de que o Sporting muito pouco fez por isso: limitou-se quase só a esperar por uma dávida dos céus e ela chegou. Em toda a primeira parte, é verdade que o Sporting e Nani exploraram a seu bel-prazer o flanco direito da defesa do Porto, mas o saldo de tudo isso traduziu-se apenas em dois remates mais ou menos perigosos que Helton defendeu com mais ou menos dificuldade, enquanto que, do lado oposto, Alan desperdiçou a melhor oportunidade de golo, com um remate desastrado. E, na segunda parte, fora o golo de bola parada, o Sporting dispôs apenas de mais uma oportunidade, em contra-ataque e depois do golo — a qual, ao contrário do que vi escrito, não foi salva pelo Helton, foi sim criada pelo Helton, ao defender com os pés e para a frente um remate que deveria ter agarrado com as mãos. Jogando pior e sempre em esforço e desinspiração, o FC Porto teve mais oportunidades de golo do que isso.
2- Jesualdo Ferreira tem uma qualidade que eu aprecio: quando perde não se refugia em desculpas com o árbitro e coisas que tais. Assimilou e bem aquilo que é o sinal distintivo das equipas ganhadoras: só faz sentido falar em erros de arbitragem quando se jogou o suficiente para ganhar e foram os erros do árbitro que o impediram. Sábado, o FC Porto não jogou o suficiente para ganhar e, por isso, não adianta falar no árbitro. Mas duvido que qualquer outro treinador daqui, tendo acabado de viver aquele último lance da partida, não viesse falar do árbitro. Os sportinguistas, de certeza que não tinham ficado calados. A única coisa boa de perder é saber perder.
3- Mas Jesualdo perdeu o jogo, tanto como a equipa, ou mais até. Assistiu, sem reacção, durante toda a primeira parte, à cavalgada do Sporting na alameda do flanco direito da defesa portista, a metros do banco onde ele estava. Assistiu, sem reacção e durante 70 minutos, a mais uma exibição nula de Lucho Gonzalez, cuja inutilidade absoluta e continuada é o único que parece ainda não ter percebido (no jogo anterior, no Funchal, dei-me ao trabalho de seguir o Lucho com atenção: tocou na bola pela primeira vez aos 31 minutos de jogo, já o Porto ganhava por 2-0. Deve ser um feito digno do Guinness…). Eu sei que Jesualdo deixou de contar com o Anderson, já lá vai uma volta inteira de campeonato, sei que perdeu agora também o Ibson, sei que não foi ele quem formou o plantel do FCPorto para esta época e que andou irresponsavelmente a dispensar e emprestar médios de ataque.
Mas também sei que, com o seu aval ou a sua cumplicidade, se comprou no mercado de Dezembro um jogador para ser a quarta opção como defesa-esquerdo (Marenque)e um avançado, que dizem futebolista, para ser a quarta opção como ponta-de-lança (Renteria), mas não se comprou, como era notóriamente necessário, um médio ofensivo. E depois, caramba, há-de haver nos juniores ou nos juvenis alguém que simplesmente corra e jogue, coisa que o Lucho não faz há meses!
À parte isso, que já não é pouco, Jesualdo Ferreira falhou na estratégia, na observação do adversário e nas substituições. E, por mais que o desdiga, o facto é que havia um FC Porto até às fatídicas férias grandes de Dezembro e outro depois disso. Este que agora se apresenta e que já vai na quinta derrota do ano, não pode com uma gata pelo rabo, está deserto de ideias de jogo e vai começando a fazer lembrar cada vez mais o de Co Adriaanse, que sobreviveu uma época inteira, tem-te-não-caias, à custa de três jogadores e apenas três: o Pepe, na defesa, o Paulo Assunção, no meio-campo, e o Quaresma, no ataque. Não chega para fazer uma equipa.
4- Não me vou desdizer: um mau jogo não consente desculpas com erros de arbitragem. Mas não resisto a recflectir o que seria ao contrário. No FC Porto-Sporting de sábado há três decisões controversas da arbitragem e as três foram decididas contra o FC Porto.
Primeira: num contra-ataque letal, Quaresma vai ficar isolado a caminho da baliza: pode optar entre ir para o golo directamente ou fazer o 2x1 com Adriano, face a um desamparado Anderson Polga. Partiu três metros atrás do mesmo Polga e o fiscal de linha demorou três segundos a assinalar um fora-de-jogo que, a olho nu, era evidente que não havia. Esses três segundos foram incompreensíveis: o que terá passado pela cabeça do árbitro assistente nesses três decisivos segundos?
Segunda: Postiga entra de ombro contra ombro em Polga. No meu ver, completamente normal, mas admito que outros não pensem assim. A questão, porém, é que não é o nosso critério de avaliação que deve prevalecer, mas sim o muito personalizado critério disciplinar de Pedro Henriques — que é um bom árbitro, mas que, neste capítulo, assume uma arbitragem de risco permanente. Ora, deixando ele jogar largo, é legítimo que os jogadores se adaptem ao critério do árbitro: até pode ser que aquilo seja falta, mas, segundo o critério daquele árbitro, e designadamente neste jogo, aquilo nunca seria falta. Pedro Henriques não pode deixar passar dez faltas ou pretensas faltas iguais ou piores e marcar aquela, naquela posição. Porque, ainda por cima, foi o lance que decidiu o jogo.
Terceira: tanto na análise de A BOLA, como na dos especialistas do O JOGO, o Polga (sempre ele…) não cometeu falta para penalty no último lance do desafio. E todos o justificam dizendo que ele simplesmente jogou a bola. Convido-vos, porém, a reverem o lance na televisão, tal como eu já o fiz várias vezes: vê-se o Pepe a armar o remate à baliza e vê-se o Polga a entrar (de pé em riste) ao conjunto Pepe-bola; a seguir, vê-se o Pepe a levantar voo como um pião ( e ele não é homem de fitas ou simulações), e vê-se, sobretudo, que a bola não se mexe do mesmo sítio. Como é que o Polga jogou a bola, se ela nem se mexeu?
Mas, nestes tempos de intimidação penal que se vivem, é preciso saber também tomar decisões sábias: só um suicida é que se atreveria a assinalar um penalty decisivo a favor do FC Porto, no último segundo do jogo.
5- Anotem: foi o segundo jogo de título disputado no Dragão este ano. Não houve quaisquer declarações provocatórias ou incendiárias dos dirigentes, técnicos ou jogadores do FC Porto, antes ou depois do jogo; não houve quaisquer incidentes causados pelos adeptos portistas com os jogadores ou adeptos adversários, e os dirigentes destes assistiram ao jogo no camarote da Direcção, em paz e tranquilidade; nenhum jogador adversário saiu do campo com uma perna partida ou lesionado devido a uma entrada de um portista; e, no final, com razões ou não para tal, não houve queixas de arbitragem nem falta de fair play, tanto na vitória como na derrota. Anotem e façam igual.
6- O presidente do Sindicato dos Jogadores de Futebol deveria estar menos entusiástico com o absurdo acórdão do tribunal administrativo que confere aos jogadores a possibilidade de se transformarem em mercenários, que hoje beijam o emblema de um clube e amanhã assinam por outro. A liberdade contratual absoluta dos jogadores implica, a prazo, a morte inevitável dos clubes.
E, sem clubes, não há futebol profissional. Aliás, e como bem nota o presidente do Sporting, se um jogador pode passar a despedir-se sem justa causa e quando o quer, também o clube deve ter a faculdade de fazer o mesmo. E, entrando-se por aí, o Sindicato vai ter muito a que acorrer.
O Sporting foi indiscutivelmente melhor como equipa e em termos de estratégia de jogo. Mas, para uma equipa a quem só a vitória interessava, a mim ficou-me a ideia de que o Sporting muito pouco fez por isso
1- Mal o jogo acaba, começo a receber SMS de sportinguistas: «Grande banho de bola que vos demos!» Abro os jornais desportivos do dia seguinte e dizem o mesmo. E confesso que fico entre o perplexo e o preocupado: aquilo foi «um banho de bola» e eu não dei por nada? Será que o meu facciosismo clubístico já me impede de ver o que todos vêem, ou todos vêem o que querem ver? Eis o que eu vi.
O Sporting foi indiscutivelmente melhor como equipa e em termos de estratégia de jogo. Explorou os dois pontos fracos do FC Porto, que são evidentes para qualquer pessoa: o meio-campo e a preparação física. Com isso, a equipa dirigida por Paulo Bento controlou grande parte do jogo, anulou, com relativa facilidade, a criatividade do jogo do Porto e jogou, ou não deixou jogar, o suficiente para nunca merecer perder.
Mas, para uma equipa a quem só a vitória interessava, a mim ficou-me a ideia de que o Sporting muito pouco fez por isso: limitou-se quase só a esperar por uma dávida dos céus e ela chegou. Em toda a primeira parte, é verdade que o Sporting e Nani exploraram a seu bel-prazer o flanco direito da defesa do Porto, mas o saldo de tudo isso traduziu-se apenas em dois remates mais ou menos perigosos que Helton defendeu com mais ou menos dificuldade, enquanto que, do lado oposto, Alan desperdiçou a melhor oportunidade de golo, com um remate desastrado. E, na segunda parte, fora o golo de bola parada, o Sporting dispôs apenas de mais uma oportunidade, em contra-ataque e depois do golo — a qual, ao contrário do que vi escrito, não foi salva pelo Helton, foi sim criada pelo Helton, ao defender com os pés e para a frente um remate que deveria ter agarrado com as mãos. Jogando pior e sempre em esforço e desinspiração, o FC Porto teve mais oportunidades de golo do que isso.
2- Jesualdo Ferreira tem uma qualidade que eu aprecio: quando perde não se refugia em desculpas com o árbitro e coisas que tais. Assimilou e bem aquilo que é o sinal distintivo das equipas ganhadoras: só faz sentido falar em erros de arbitragem quando se jogou o suficiente para ganhar e foram os erros do árbitro que o impediram. Sábado, o FC Porto não jogou o suficiente para ganhar e, por isso, não adianta falar no árbitro. Mas duvido que qualquer outro treinador daqui, tendo acabado de viver aquele último lance da partida, não viesse falar do árbitro. Os sportinguistas, de certeza que não tinham ficado calados. A única coisa boa de perder é saber perder.
3- Mas Jesualdo perdeu o jogo, tanto como a equipa, ou mais até. Assistiu, sem reacção, durante toda a primeira parte, à cavalgada do Sporting na alameda do flanco direito da defesa portista, a metros do banco onde ele estava. Assistiu, sem reacção e durante 70 minutos, a mais uma exibição nula de Lucho Gonzalez, cuja inutilidade absoluta e continuada é o único que parece ainda não ter percebido (no jogo anterior, no Funchal, dei-me ao trabalho de seguir o Lucho com atenção: tocou na bola pela primeira vez aos 31 minutos de jogo, já o Porto ganhava por 2-0. Deve ser um feito digno do Guinness…). Eu sei que Jesualdo deixou de contar com o Anderson, já lá vai uma volta inteira de campeonato, sei que perdeu agora também o Ibson, sei que não foi ele quem formou o plantel do FCPorto para esta época e que andou irresponsavelmente a dispensar e emprestar médios de ataque.
Mas também sei que, com o seu aval ou a sua cumplicidade, se comprou no mercado de Dezembro um jogador para ser a quarta opção como defesa-esquerdo (Marenque)e um avançado, que dizem futebolista, para ser a quarta opção como ponta-de-lança (Renteria), mas não se comprou, como era notóriamente necessário, um médio ofensivo. E depois, caramba, há-de haver nos juniores ou nos juvenis alguém que simplesmente corra e jogue, coisa que o Lucho não faz há meses!
À parte isso, que já não é pouco, Jesualdo Ferreira falhou na estratégia, na observação do adversário e nas substituições. E, por mais que o desdiga, o facto é que havia um FC Porto até às fatídicas férias grandes de Dezembro e outro depois disso. Este que agora se apresenta e que já vai na quinta derrota do ano, não pode com uma gata pelo rabo, está deserto de ideias de jogo e vai começando a fazer lembrar cada vez mais o de Co Adriaanse, que sobreviveu uma época inteira, tem-te-não-caias, à custa de três jogadores e apenas três: o Pepe, na defesa, o Paulo Assunção, no meio-campo, e o Quaresma, no ataque. Não chega para fazer uma equipa.
4- Não me vou desdizer: um mau jogo não consente desculpas com erros de arbitragem. Mas não resisto a recflectir o que seria ao contrário. No FC Porto-Sporting de sábado há três decisões controversas da arbitragem e as três foram decididas contra o FC Porto.
Primeira: num contra-ataque letal, Quaresma vai ficar isolado a caminho da baliza: pode optar entre ir para o golo directamente ou fazer o 2x1 com Adriano, face a um desamparado Anderson Polga. Partiu três metros atrás do mesmo Polga e o fiscal de linha demorou três segundos a assinalar um fora-de-jogo que, a olho nu, era evidente que não havia. Esses três segundos foram incompreensíveis: o que terá passado pela cabeça do árbitro assistente nesses três decisivos segundos?
Segunda: Postiga entra de ombro contra ombro em Polga. No meu ver, completamente normal, mas admito que outros não pensem assim. A questão, porém, é que não é o nosso critério de avaliação que deve prevalecer, mas sim o muito personalizado critério disciplinar de Pedro Henriques — que é um bom árbitro, mas que, neste capítulo, assume uma arbitragem de risco permanente. Ora, deixando ele jogar largo, é legítimo que os jogadores se adaptem ao critério do árbitro: até pode ser que aquilo seja falta, mas, segundo o critério daquele árbitro, e designadamente neste jogo, aquilo nunca seria falta. Pedro Henriques não pode deixar passar dez faltas ou pretensas faltas iguais ou piores e marcar aquela, naquela posição. Porque, ainda por cima, foi o lance que decidiu o jogo.
Terceira: tanto na análise de A BOLA, como na dos especialistas do O JOGO, o Polga (sempre ele…) não cometeu falta para penalty no último lance do desafio. E todos o justificam dizendo que ele simplesmente jogou a bola. Convido-vos, porém, a reverem o lance na televisão, tal como eu já o fiz várias vezes: vê-se o Pepe a armar o remate à baliza e vê-se o Polga a entrar (de pé em riste) ao conjunto Pepe-bola; a seguir, vê-se o Pepe a levantar voo como um pião ( e ele não é homem de fitas ou simulações), e vê-se, sobretudo, que a bola não se mexe do mesmo sítio. Como é que o Polga jogou a bola, se ela nem se mexeu?
Mas, nestes tempos de intimidação penal que se vivem, é preciso saber também tomar decisões sábias: só um suicida é que se atreveria a assinalar um penalty decisivo a favor do FC Porto, no último segundo do jogo.
5- Anotem: foi o segundo jogo de título disputado no Dragão este ano. Não houve quaisquer declarações provocatórias ou incendiárias dos dirigentes, técnicos ou jogadores do FC Porto, antes ou depois do jogo; não houve quaisquer incidentes causados pelos adeptos portistas com os jogadores ou adeptos adversários, e os dirigentes destes assistiram ao jogo no camarote da Direcção, em paz e tranquilidade; nenhum jogador adversário saiu do campo com uma perna partida ou lesionado devido a uma entrada de um portista; e, no final, com razões ou não para tal, não houve queixas de arbitragem nem falta de fair play, tanto na vitória como na derrota. Anotem e façam igual.
6- O presidente do Sindicato dos Jogadores de Futebol deveria estar menos entusiástico com o absurdo acórdão do tribunal administrativo que confere aos jogadores a possibilidade de se transformarem em mercenários, que hoje beijam o emblema de um clube e amanhã assinam por outro. A liberdade contratual absoluta dos jogadores implica, a prazo, a morte inevitável dos clubes.
E, sem clubes, não há futebol profissional. Aliás, e como bem nota o presidente do Sporting, se um jogador pode passar a despedir-se sem justa causa e quando o quer, também o clube deve ter a faculdade de fazer o mesmo. E, entrando-se por aí, o Sindicato vai ter muito a que acorrer.