terça-feira, janeiro 08, 2008

O MAPA




MANUEL TAVARES no OJOGO :

A vertiginosa degradação das relações entre Filipe Vieira e José Veiga só é explicável porque foi gerada do modo mais negativo: contra Pinto da Costa.

Como outros no passado, Filipe Vieira concluiu que para ter sucesso desportivo precisava de combater e vencer Pinto da Costa. E, também como outros no passado, terá pensado que a melhor forma de combater o poder do presidente do FC Porto fosse ter como aliado um antigo explorador da mina. Ou se quisermos ser mais precisos, a mais antiga delas: as Antas.

Acontece que o futebol vive sobretudo de projectos - e até de sonhos - positivos. Porventura mais que qualquer outra actividade, o futebol requer uma clara identificação do valor próprio, dos meios ao dispor e sobretudo dos espinhos que inevitavelmente se cravam no percurso dos que querem ser vencedores.

Enquanto líder do projecto, Filipe Vieira deveria ter analisado ao detalhe até que ponto José Veiga se identificaria consigo, a ponto de poderem ser solidários para além das multividências.

Ora isso não aconteceu conforme agora se pode constatar à evidência. Simplesmente porque Vieira cedeu ao impulso de tentar atalhar caminho. Com as finanças do Benfica relativamente refeitas dos desvarios de Vale e Azevedo, Vieira achou que triunfar sobre o FC Porto era mais uma questão de influência nos bastidores que propriamente de poder desportivo. Com Veiga a prometer-lhe o mapa para atingir o adversário por essas linhas mais recuadas e, como nos bons filmes da I Guerra Mundial, apanhá-lo literalmente em contrapé, Vieira ficou cego a algumas evidências. A mais clara de todas, era seguramente a recente cavalgada do dragão acabado de se sagrar campeão da Europa e que alguns, como Veiga, quiseram ver como da exclusiva responsabilidade de Mourinho. Enganaram-se como está bom de ver...

Mas pior que ter-se deixado encantar pelo mapa da mina, Vieira está a tornar-se refém desse pecado original. Simplesmente porque responde a Veiga de cada vez que ele o critica. Na sua condição de presidente da instituição, como gosta de sublinhar, deveria conter-se. E em caso algum responder um tom abaixo.