JOSÉ MANUEL RIBEIRO no Aqui
1. Se o FC Porto não é marginalizado em Portugal, devia ser. Queiram ou não, é à margem do campeonato português que ele está, ou melhor, foi à margem do campeonato português que se colocou, à força de resultados incomparáveis e francamente humilhantes para os concorrentes. E fê-lo sozinho, como se pôde constatar pelas eloquentes manifestações públicas de reconhecimento de que foi alvo desde Gelsenkirchen. Salvo alguns encómios tão notórios que passaram despercebidos ao país inteiro, o melhor que os representantes da nação tiveram para dizer foi que Durão Barroso nunca devia ter estado na final da Liga dos Campeões. Infelizmente, o progresso tecnológico ainda não permite que as condecorações e medalhas sigam por faxe; logo, perante essa lacuna no progresso tecnológico que impede os políticos de investir no populismo da coisa mais do que uma mensagem de felicitações - enquanto ainda têm vontade de chorar - , rapidamente se esbateu o efeito Gelsenkirchen, como tudo o que o FC Porto consegue e por razões bem fáceis de compreender: os adeptos de futebol são todos iguais, sejam torneiros mecânicos, presidentes da República, vice-presidentes do parlamento ou directores de programas numa qualquer estação televisiva. Por isso se aceita que anteontem tenha sido difícil saber pormenores do primeiro jogo particular do campeão europeu: os jornalistas estavam no aeroporto da Portela em missão humanitária, ajudando Mantorras a procurar a terceira via do quarto passaporte. Falando de um clube que, antes do Euro, estava em nove dos dez programas de televisão mais vistos, já não há audiências que expliquem as pequenas distrações, como não se explica que a Assembleia da República tenha cismado tantas vezes com a presença de políticos nos jogos do FC Porto sem o precedente de alguma vez se ter incomodado com os de mais ninguém. Pormenores da irracionalidade que nos move a todos. Afinal.
2. Vítor Baía, que está aqui mesmo ao lado e serve de fundamento a este comentário, é vítima da estatística. Sofre por jogar num clube que está em inferioridade matemática em quase todos os cenários - nas redacções, nas assembleias, em Belém, em São Bento e no Jumbo de Alfragide -, correlação essa que, como afirma o próprio Baía, afectou muitas outras carreiras, menorizadas ou tornadas magníficas consoante o jogador pertencesse ou não aos quadros do FC Porto. Felizmente, a única verdade que interessa está no relvado, mas já que se falou em condecorações, para quando uma comenda ao futebolista português mais vitorioso de sempre? Com lágrimas sampaísticas de solidariedade, se tiver sobrado alguma.
Os motivos de Scolari
Difamação rima com...
Luiz Felipe Scolari - por quem continuo a não ter mais do que o respeito mínimo obrigatório e de cujas capacidades técnicas ainda duvido -, inventou um novo tipo de difamação. Quando começou a parecer absurda a ausência de alguns jogadores, acentuaram-se "os motivos", argumentos muito fortes, de natureza políticotacticodisciplinar, que o seleccionador insinua ou aponta abertamente, mas sem nunca os desvendar. Essa verticalidade de Scolari deu origem a rumores, grande parte deles muito lisongeiros para o treinador e nenhum abonatório para os jogadores em causa. Baía tem toneladas de razão.
Os cobardes adoram linchamentos
Há 13 horas