Quero acreditar que Jorge Sampaio não vai terminar o seu mandato sem honrar aqueles que desportivamente mais orgulho nos deram
Termina o ano de 2004 e mais uma vez temos pouco a que nos agarrar para dizermos que foram doze meses em cheio.
Tal como aconteceu em 2003, no balanço de mais um ano, o FC Porto volta a estar, obrigatoriamente, no topo dos “eleitos” na escassez das “coisas” positivas que fizeram os portugueses sentir algum orgulho e esquecerem os dias cada vez mais difíceis.
Campeão Nacional, Campeão Europeu, Campeão do Mundo, noites inolvidáveis como a de Manchester, alavanca de uma selecção que estava à beira da tragédia grega quando demos o primeiro pontapé no Euro, o FC Porto voltou a demonstrar que é um oásis neste deserto de mediocridade e um exemplo para quem quer, de facto, preocupar-se em ser melhor, em vez de viver permanentemente na intriga, na mentira e no pântano da ignorância.
Não é que o futebol deva ser transformado numa actividade decisiva para um país. Na verdade, temos coisas que nos devem preocupar muito mais e merecer da parte de quem governa, e de quem tem responsabilidades de Estado neste país, uma atenção e uma dedicação mais intensa. Ainda assim não deixa de ser estranho que, chegados ao fim deste ano, o Presidente da República se tenha “esquecido” de homenagear o FC Porto.
Receber a selecção por ter conseguido um segundo lugar no Europeu, receber Luís Figo por causa de um livro e certamente pela importância que o jogador tem não são atitudes estranhas. Reconhecer o mérito fica sempre bem e serve de motivação a quem trabalhou para isso.
O que não se percebe é esta discriminação que todos os anos atinge os mesmos: no caso o FC Porto. São atitudes destas que nos levam a pensar que a regionalização faz falta. Para não nos tornarmos repetitivos, para não termos que estar sempre a “maçar”, com as mesmas queixas, quem manda.
Para que quem manda não tenha a obrigação de se preocupar com coisas que não gosta. Ainda que sejamos obrigados a ouvir de um Presidente, quando é eleito e a quente na noite da vitória, que a partir daquele momento passa a ser o presidente de todos os portugueses.
Estou em crer e quero acreditar que Jorge Sampaio não vai terminar o seu mandato sem cumprir uma obrigação: honrar aqueles que (desportivamente), durante o seu “reinado” em Belém, mais contribuíram para o fazer sentir orgulhoso de ocupar o mais alto cargo da Nação.
Júlio Magalhães in Record.