Penso que eu e todos os portistas nada menos esperamos e exigimos do que uma vitória esta noite contra o Chelsea e, no próximo domingo, em Yokohama. De outro modo, nada nos convencerá que Victor Fernandez esteve e está à altura de treinar o campeão nacional e europeu
1- Há muito tempo que o FC Porto não tinha um dia tão importante e tão decisivo como o desta terça-feira. A partir das 09.00 da manhã, no tribunal de Gondomar, joga-se o bom nome do clube e o do seu presidente. A partir das 19.45, joga-se, no Estádio do Dragão, a sobrevivência na Liga dos Campeões, de cujo título o clube é detentor. A partir das dez da noite, a Europa saberá se fomos campeões europeus por um acaso ou engenho de um treinador providencial (esta noite, nosso adversário) e nós , portistas, talvez possamos começar a ver melhor se o objectivo final do Apito Dourado não é o de ajudar a convencer a multidão de invejosos cá da terra de que só fomos campeões da Europa graças aos árbitros... portugueses. Começemos pelo futebol.
3- Até ser possível ver mais claro, acho que não é sério, da parte de ninguém, tirar conclusões, num ou noutro sentido, sobre aquilo a que já chamam a Operação Apito Dourado- Parte II. Registo, obviamente, a euforia indisfarçada que reina em certos círculos desportivos, só pelo simples facto de o Ministério Público ter promovido a audição judicial do presidente do FC Porto.
Há até quem, sem conseguir conter-se, fale já de «oportunidade única» para a «regeneração» do futebol português. Eu não iria tão depressa: olhem-me bem para os outros personagens do futebol português e digam lá se alguém pode acreditar que a verdade oculta neste mistério se resume a isto —um mau da fita, que é Pinto da Costa, e um coro de anjos celestiais, que são todos os outros.
As experiências dos últimos anos ensinaram-me, infelizmente, a desconfiar das investigações da PJ e do Ministério Público, nos chamados casos mediáticos.
Registo, neste caso, que já começaram as fugas da PJ: «fontes da investigação » sugeriram aos jornalistas que Pinto da Costa foi informado previamente do mandato de detenção para interrogatório de que era alvo e, por isso, pode evitar o enxovalho da prisão caseira para ser presente à juíza. Uma fuga dentro da própria fonte das fugas: ou o peixe que morre pela boca. Pois devo dizer que, se isso é verdade, acho que Pinto da Costa fez muito bem em evitar a «prisão preventiva» para interrogatório e apresentar-se antes voluntariamente ao tribunal.
No tempo em que estudei e exerçi direito processual penal — quando Portugal era ainda um Estado de Direito—as pessoas eram notificadas para prestar declarações e só após estas e se o juiz assim o entendesse, depois do interrogatório, é que ficavam presas preventivamente. Agora, porém, inventou-se uma nova modalidade, já aplicada a Pimenta Machado e a Valentim Loureiro: mesmo sem que haja qualquer motivo para presumir que as pessoas vão fugir ou furtar-se a prestar declarações, elas são presas cautelarmente e aguardam um fim-de-semana, dois ou três dias nos calabouços da PJ, até que o juiz tenha disponibilidade para os ouvir. E, durante esses dias de espera, como é evidente, a opinião pública já formou a sua opinião. Lembram-se quem é que, no tempo da outra senhora, prendia primeiro e interrogava depois?
4- Anteontem à noite, em Coimbra, o Sporting viu subitamente a Académica virar um jogo perdido num jogo aberto, passando de 0-2 para 2- 2. Apostei comigo mesmo que o árbitro iria então tornar-se decisivo e não me enganei: no espaço de um minuto, ele perdoou o segundo amarelo a Rui Jorge, por falta grosseira, e foi dá-lo a Vasco Faísca, da Académica, por ter passado a mão pelo ombro de Ricardo, que logo se atirou para o chão, como se tivesse sido ceifado. Nesse minuto a sorte do jogo ficou sentenciada. Como dizia Artur Jorge e como disse Mourinho (nenhum dos dois portista), os erros de arbitragem, contas feitas no final da época, acabam por se repartir por todos em partes iguais. E eu acredito que sim. Mas uma coisa são erros de percepção, outra são diferenças de critério: os primeiros são involuntários, os segundos são certamente voluntários.
Registo que, de há vários anos para cá, o maior choramingas das arbitragens — o Sporting—é claramente o maior beneficiado dos erros voluntários. Talvez ocorra à juíza de Gondomar interrogar Pinto da Costa sobre este mistério: porque será que o FC Porto é, de todos os grandes, o que mais vezes tem jogadores expulsos, enquanto o Sporting é o que mais vezes consegue fazer expulsar jogadores adversários?