quinta-feira, março 24, 2005

Lições

Esqueçamos o árbitro, esqueçamos McCarthy, esqueçamos o campeonato: o FC Porto fez um jogo muito mais sério na segunda-feira do que sustenta a generalidade das avaliações. É o outro lado das más fases. As críticas aconchegam-se à preguiça da ideia feita e esquecem os detalhes que lhes atrapalham a perfeição da leitura. O FC Porto, por seu lado, não tem nada do que se envergonhar, ao contrário das duas derrotas anteriores à de Alvalade. Nos noventa minutos que eu vi, imagino que noutra dimensão espaço temporal, nenhum jogador merecia melhor nota ou mais destaque do que Ibson e não sei por que motivo há-de o fracasso do Sporting, depois de concretizada a segunda expulsão, ser preferido à resistência do FC Porto - que incluiu, não sei se sabem, um par de embaraços naquele lado do campo defendido por onze contra nove.

Uma equipa joga meia hora com menos dois elementos, durante esse tempo consegue até pôr em risco a baliza do adversário e as boas avaliações são as dos jogadores do Sporting, que é paradoxalmente criticado por ter desperdiçado a "goleada histórica" e elogiado nas apreciações individuais. Se alguma equipa mostrou futuro em Alvalade foi o FC Porto, fundado no carácter de Ibson e Bosingwa, isto se pudermos admitir futuro a alguém que não consegue aprender com os erros. A derrota prova a incapacidade do clube para perceber as suas fraquezas, um pouco na linha do que fez o Sporting na época passada, ao remeter todas as frustrações para os árbitros. Desde o início do jogo, McCarthy demonstrou inconsciência e não foi o único. Por um lado, é bom que ele exija para si o tratamento que é reservado apenas aos outros; por outro, para jogar futebol em situação de igualdade não precisa de responder às provocações dos adversários, nem perde seja o que for por se sujeitar a uma pequena humilhação como a de Rui Jorge. Não entendo por que razão, duas expulsões, dois processos sumaríssimos e uma série de pontos perdidos depois, ninguém lhe explicou isto de forma a que percebesse - nem a ele nem aos outros, porque também Maniche continua a exagerar na agressividade que já lhe valeu um vermelho e dois jogos de castigo. O FC Porto não tem de procurar muito para perceber onde falhou esta época.

Disciplina:
Imagem sim, imagem não


O FC Porto esquece a Comissão Disciplinar e recorre directamente ao Conselho de Justiça do castigo a McCarthy, para não distrair a Comissão da alegre campanha que vai fazendo, ora recorrendo às imagens para ilibar um, ora ignorando as imagens para condenar outro, ora questionando um amarelo por ser pouco para a cotovelada de Fabiano, ora aceitando um vermelho porque McCarthy não merece que se lhe faça justiça. E desta vez os juízes tiveram sorte: o cartão poupou-lhes o incómodo de ler mais comentários desagradáveis ao sumaríssimo que Benni teria levado.

José Manuel Ribeiro in Ojogo.