Jorge Costa:
"Este ano não tem sido o FC Porto que eu estou habituado a admirar"
"Esta época houve muitas mudanças e por vezes é muito difícil mudar a mentalidade de alguns jogadores, quando eles não querem"
ANTÓNIO TAVARES-TELES in OJOGO
Era obviamente importante fazer nesta altura uma entrevista com Jorge Costa. Pela razão que vai aqui exposta ao lado no Aparte - os 299 ou 300 jogos que vai completar no próximo Sporting-FC Porto em Alvalade - mas também pelos acontecimentos recentes da vida desportiva do FC Porto (as derrotas com o Nacional - esta de facto espantosa - e com o Inter de Milão, para a Liga dos Campeões), suas causas e consequências. Pelo menos na perspectiva do muito respeitado "Bicho", ainda por cima, como se sabe, um veterano do clube do Dragão e capitão da equipa portista.
E ele prestou-se a essa entrevista, que aqui segue, pois.
- Que é que se passa? Então, em Alvalade vão completar-se 300 jogos no Campeonato, ou agora na SuperLiga, ou não? O JOGO diz que são só 299...
- Sinceramente, eu não sabia disso, se não tivesse lido essa notícia num jornal.
- De qualquer forma, 299 ou 300 jogos, é muita fruta...
- Sim, é um número considerável, e que consegui completar apesar de todos os contratempos que tive, especialmente relacionados com lesões.
- Sim, é verdade que você foi operado duas vezes...
- Três, fui operado três vezes ao ligamento cruzado.
- Da primeira vez, quando se soube que você recuperou em quatro meses, houve mesmo um médico da especialidade que me disse que, a ser assim, ou você não tinha tido tal lesão, a sua lesão não podia ter sido exactamente essa, ou então você era um fenómeno...
- É curioso, também houve que me tivesse dito a mesma coisa, porque a recuperação fazia-se habitualmente em 6, 7, 8 meses, e eu consegui fazê-la em 3 meses e meio.
- Entretanto, neste ponto da sua carreira, qual foram os pontos mais altos? A vitória na Taça UEFA e na Liga dos Campeões, presumo...
- É claro, mas também foi muito importante termos ganho o tri pela primeira vez e, na passada, o tetra, e sobretudo o penta.
- Ponto mais baixo?
- A minha saída do FC Porto durante seis meses, ainda por cima provocada da forma como se processou.
- Mas voltou a logo e foi capitão de novo... como sentiu o voto de Vítor Baía a seu favor, ele que era o capitão desde que você saíra para o Charlton?
- O que se passou foi que nem sequer houve propriamente uma votação, porque antes de começarmos a votar e no fundo só havia dois nomes para capitão - o do Vítor e o meu - o Vítor disse que, se o seu voto tinha algum valor para a decisão de voto dos outros, ele declarava desde logo que votava em mim, pelo que, perante isso, já nem sequer se votou.
- Mas, o que sentiu nesse momento?
- Senti que era o reconhecimento, por parte de todos, de tudo aquilo que se passara comigo, o que me deu um orgulho e um prazer enormes, tal como me deu um orgulho e um prazer enorme que o Vitor Baía tivesse tomado a atitude que tomou. Pelo que me senti de imediato de novo muito bem vindo por todos os meus colegas.
- Mas vamos a outra coisa: o que é que se passa esta época com o FC Porto?
- Esta época também está a ser um ponto baixo. Porque este FC Porto não é o meu FC Porto, não é a equipa que eu, como jogador e como adepto, estou habituado a admirar. Vamos lá ver contudo se ainda somos capazes e salvar esta época, ganhando a SuperLiga...
- Como se diz agora, tem de facto sido uma época muito atípica, com três treinadores em poucos meses, um número infindável de entradas e saídas de jogadores...
- Tudo começou mal, de forma como diz realmente atípica, saíram de facto e entraram muitos jogadores, os jogadores que estiveram no Euro chegaram atrasados, logo de seguida outros foram para os Jogos Olímpicos, depois foi o sai um treinador, entra outro, enfim... Só resta esperar que esta época ainda consigamos chegar ao título e que a próxima época seja muito mais condizente com o nome e o prestígio do FC Porto.
- Couceiro, que tal? Está satisfeito com ele?
- Estou, estamos todos. Mas é como eu digo: no futebol não há milagres, há valor, há trabalho, há necessidade de tempo, e quem tiver isso por si normalmente ganha. Ele aliás sabia isso mesmo, quando assumiu o risco de vir para o FC Porto. Mas tem tido uma desvantagem: o tempo corre contra ele, quero dizer, não tem tido tempo. Mas temos todos muita confiança nas capacidades dele.
- Qual o papel dos "velhos" - Jorge Costa, Baía, Costinha - nisso tudo?
- O papel dos jogadores mais velhos é esse mesmo: dar confiança aos novos e tentar integrá-los o mais rapidamente possível no grupo e no espírito do grupo. Só que, de facto, esta época houve muitas mudanças e por vezes é muito difícil mudar a mentalidade de alguns jogadores quando eles não querem. Pelo que têm de ser eles a verem, antes seja de quem fôr - treinador, mesmo directores, ou os jogadores mais velhos - aquilo que estão a fazer mal. Embora com o apoio de todos, é claro.
- Alvalade?
- Bom, se antes do jogo com o Nacional um empate com o Sporting já poderia ser considerado razoável, agora temos mesmo de ganhar. Ai ter que ser.
- Como foi aquilo com o Nacional?
- Foi um pouco a imagem da nossa época: entrámos desconcentrados, cometemos logo à partida um erro gravíssimo, o árbitro pelo visto não se apercebeu de um penálti que nos daria o empate e depois foi a terrível eficácia do nosso adversário.
- E com o Inter, o Inter ali tão perto...
- Pois, o Inter, uma equipa boa mas perfeitamente ao nosso alcance... Só que, mais uma vez, sem tirar mérito aos nosso adversários, perdemos por culpa própria.
"Este ano não tem sido o FC Porto que eu estou habituado a admirar"
"Esta época houve muitas mudanças e por vezes é muito difícil mudar a mentalidade de alguns jogadores, quando eles não querem"
ANTÓNIO TAVARES-TELES in OJOGO
Era obviamente importante fazer nesta altura uma entrevista com Jorge Costa. Pela razão que vai aqui exposta ao lado no Aparte - os 299 ou 300 jogos que vai completar no próximo Sporting-FC Porto em Alvalade - mas também pelos acontecimentos recentes da vida desportiva do FC Porto (as derrotas com o Nacional - esta de facto espantosa - e com o Inter de Milão, para a Liga dos Campeões), suas causas e consequências. Pelo menos na perspectiva do muito respeitado "Bicho", ainda por cima, como se sabe, um veterano do clube do Dragão e capitão da equipa portista.
E ele prestou-se a essa entrevista, que aqui segue, pois.
- Que é que se passa? Então, em Alvalade vão completar-se 300 jogos no Campeonato, ou agora na SuperLiga, ou não? O JOGO diz que são só 299...
- Sinceramente, eu não sabia disso, se não tivesse lido essa notícia num jornal.
- De qualquer forma, 299 ou 300 jogos, é muita fruta...
- Sim, é um número considerável, e que consegui completar apesar de todos os contratempos que tive, especialmente relacionados com lesões.
- Sim, é verdade que você foi operado duas vezes...
- Três, fui operado três vezes ao ligamento cruzado.
- Da primeira vez, quando se soube que você recuperou em quatro meses, houve mesmo um médico da especialidade que me disse que, a ser assim, ou você não tinha tido tal lesão, a sua lesão não podia ter sido exactamente essa, ou então você era um fenómeno...
- É curioso, também houve que me tivesse dito a mesma coisa, porque a recuperação fazia-se habitualmente em 6, 7, 8 meses, e eu consegui fazê-la em 3 meses e meio.
- Entretanto, neste ponto da sua carreira, qual foram os pontos mais altos? A vitória na Taça UEFA e na Liga dos Campeões, presumo...
- É claro, mas também foi muito importante termos ganho o tri pela primeira vez e, na passada, o tetra, e sobretudo o penta.
- Ponto mais baixo?
- A minha saída do FC Porto durante seis meses, ainda por cima provocada da forma como se processou.
- Mas voltou a logo e foi capitão de novo... como sentiu o voto de Vítor Baía a seu favor, ele que era o capitão desde que você saíra para o Charlton?
- O que se passou foi que nem sequer houve propriamente uma votação, porque antes de começarmos a votar e no fundo só havia dois nomes para capitão - o do Vítor e o meu - o Vítor disse que, se o seu voto tinha algum valor para a decisão de voto dos outros, ele declarava desde logo que votava em mim, pelo que, perante isso, já nem sequer se votou.
- Mas, o que sentiu nesse momento?
- Senti que era o reconhecimento, por parte de todos, de tudo aquilo que se passara comigo, o que me deu um orgulho e um prazer enormes, tal como me deu um orgulho e um prazer enorme que o Vitor Baía tivesse tomado a atitude que tomou. Pelo que me senti de imediato de novo muito bem vindo por todos os meus colegas.
- Mas vamos a outra coisa: o que é que se passa esta época com o FC Porto?
- Esta época também está a ser um ponto baixo. Porque este FC Porto não é o meu FC Porto, não é a equipa que eu, como jogador e como adepto, estou habituado a admirar. Vamos lá ver contudo se ainda somos capazes e salvar esta época, ganhando a SuperLiga...
- Como se diz agora, tem de facto sido uma época muito atípica, com três treinadores em poucos meses, um número infindável de entradas e saídas de jogadores...
- Tudo começou mal, de forma como diz realmente atípica, saíram de facto e entraram muitos jogadores, os jogadores que estiveram no Euro chegaram atrasados, logo de seguida outros foram para os Jogos Olímpicos, depois foi o sai um treinador, entra outro, enfim... Só resta esperar que esta época ainda consigamos chegar ao título e que a próxima época seja muito mais condizente com o nome e o prestígio do FC Porto.
- Couceiro, que tal? Está satisfeito com ele?
- Estou, estamos todos. Mas é como eu digo: no futebol não há milagres, há valor, há trabalho, há necessidade de tempo, e quem tiver isso por si normalmente ganha. Ele aliás sabia isso mesmo, quando assumiu o risco de vir para o FC Porto. Mas tem tido uma desvantagem: o tempo corre contra ele, quero dizer, não tem tido tempo. Mas temos todos muita confiança nas capacidades dele.
- Qual o papel dos "velhos" - Jorge Costa, Baía, Costinha - nisso tudo?
- O papel dos jogadores mais velhos é esse mesmo: dar confiança aos novos e tentar integrá-los o mais rapidamente possível no grupo e no espírito do grupo. Só que, de facto, esta época houve muitas mudanças e por vezes é muito difícil mudar a mentalidade de alguns jogadores quando eles não querem. Pelo que têm de ser eles a verem, antes seja de quem fôr - treinador, mesmo directores, ou os jogadores mais velhos - aquilo que estão a fazer mal. Embora com o apoio de todos, é claro.
- Alvalade?
- Bom, se antes do jogo com o Nacional um empate com o Sporting já poderia ser considerado razoável, agora temos mesmo de ganhar. Ai ter que ser.
- Como foi aquilo com o Nacional?
- Foi um pouco a imagem da nossa época: entrámos desconcentrados, cometemos logo à partida um erro gravíssimo, o árbitro pelo visto não se apercebeu de um penálti que nos daria o empate e depois foi a terrível eficácia do nosso adversário.
- E com o Inter, o Inter ali tão perto...
- Pois, o Inter, uma equipa boa mas perfeitamente ao nosso alcance... Só que, mais uma vez, sem tirar mérito aos nosso adversários, perdemos por culpa própria.