skip to main |
skip to sidebar
Anderson: O Sub-17 MELHOR DO MUNDO numa entrevista adulta.
"Quero ser o melhor do Mundo" Anderson vai aterrar em Portugal no próximo mês de Janeiro com a mala carregada de ilusões... O genial médio-ofensivo da selecção brasileira de Sub-17 promete "trabalho e muito humildade" no FC Porto, até porque sabe que tem de "continuar a evoluir" para se poder tornar no melhor jogador do Mundo. E tudo porque quer fazer as pessoas felizes com o seu futebol e ajudar as os mais pequenos a sonhar, tal como ele já sonhou um dia...
PEDRO MARQUES COSTA, enviado-especial a Lima, no Peru in Ojogo
O JOGO Como tem vivido os últimos meses antes de viajar para Portugal?
Anderson As expectativas que vou levar para o FC Porto são muito elevadas, pelo que é normal que a ansiedade vá crescendo com o aproximar da hora de chegar a Portugal. Mas, apesar de tudo, sinto-me tranquilo, até porque tento sempre concentrar-me totalmente no local onde me encontro a trabalhar. Para já tenho estado na selecção e depois ainda vou regressar ao Grémio, que espero ajudar a subir à Série A. Só depois chegará o FC Porto. No entanto, tenho procurado manter-me informado sobre os resultados da minha futura equipa, da classificação, de como jogam...
P O que espera encontrar no FC Porto e em Portugal?
R Espero, sobretudo, continuar a aprender e evoluir a cada dia que passa. Esse é o meu principal objectivo. Sei que vou encontrar um futebol mais duro, mais à base da força e da marcação, e que vou ter de continuar a trabalhar o corpo para me tornar mais forte, de forma a aliar isso à minha capacidade técnica. Estou certo de que vou aprender muito no FC Porto e de que vou ficar mais forte a cada dia que passe.
P Quais são os seus sonhos profissionais?
R Dois deles já estão concretizados, que era um dia chegar à selecção brasileira e jogar no futebol europeu. Agora o próximo é tornar-me num jogador totalmente profissional e estar num Campeonato do Mundo.
P Sente que algum dia se pode tornar no melhor jogador do Mundo?
R Penso que esse é o desejo de todos os jogadores. Para já tenho procurado subir passo a passo na minha carreira; já cheguei à selecção e sou muito acarinhado no Grémio. É um bom começo. Mas é lógico que quero ser o melhor jogador do Mundo, mas sei que ainda tenho de ultrapassar muitas etapas até lá chegar. Mas queria ser conhecido mundialmente para tentar ajudar os mais desfavorecidos, como acontece, por exemplo, com o Ronaldinho. Ele consegue fazer sonhar muitas crianças, tornar muitas pessoas felizes com o seu trabalho, e isso é que realmente me encanta.
P E como tem convivido com a constante comparação com Ronaldinho?
R O Ronaldinho é o melhor jogador do Mundo, é um fora de série. Nem tenho palavras para o caracterizar... Eu sou apenas um miúdo, e todos os miúdos sonham em ser como os melhores. Sei que as pessoas gostam de comparar, mas eu tento não pensar muito nisso e seguir o meu próprio caminho. Ainda estou a crescer e nem sei se vou ser um jogador a sério, pelo que tenho de me limitar a continuar a trabalhar e a procurar o meu espaço.
"Vou adaptar-me facilmente ao estilo de jogo europeu"
P O futebol europeu é diferente do brasileiro e há muitos jogadores conceituados que chegam a Portugal e não se conseguem adaptar. Como vai ser com o Anderson?
R Vai ser fácil. Não tenho dúvidas de que me vou adaptar facilmente ao estilo de jogo europeu, que é mais à base da força e da velocidade, duas das minhas principais virtudes. Tenho também uma boa técnica individual e consigo fazer a bola rodar rapidamente, que é importante na Europa. Posso sentir algumas dificuldades no primeiro mês, se calhar também no segundo, mas depois tenho a certeza de que vou embalar.
P Para a posição de organizador de jogo o FC Porto conta com Diego. Acredita que podem jogar os dois na mesma equipa?
R Claro que sim. Tudo depende da vontade do treinador e da forma como ele colocar a equipa em campo. Mas o importante no futebol são sempre as vitórias do clube, e nunca a vontade pessoal de um jogador. Comigo, com o Diego ou com os dois o importante é que os bons resultados apareçam.
P Existe a possibilidade, pelo menos numa fase inicial, de ser desviado para o lado esquerdo do ataque...
R Para mim não há muita diferença. Eu quero é jogar, e penso que me adapto bem a qualquer posição de frente de ataque.
P No entanto, qual é a posição em campo que se sente mais à vontade?
R Gosto mais de jogar solto no ataque. Solto, mas atento à marcação... Hoje em dia, um jogador que não marca não tem muitas hipóteses. Gosto mais de jogar atrás do ponta-de-lança, a cair nas alas, a procurar espaços, a tentar furar a defesa adversária com as minhas arrancadas.
"Não é o cabelo que joga futebol..."
P Co Adriaanse, treinador do FC Porto, é conhecido por privilegiar o colectivo em detrimento do individual. Como encaixa o jogador brasileiro nessa filosofia?
R Acredito que encaixa bem, porque a questão não está na nacionalidade do jogador, mas sim na sua personalidade e forma de jogar. Sou da opinião que no futebol moderno todos os jogadores têm de marcar... Atacar com 11, defender com 11, sempre em bloco. A defesa começa no ataque, e se todos os jogadores contribuírem nas tarefas defensivas a missão da própria equipa fica muito mais facilitada.
P O treinador do FC Porto também não gosta muito de jogadores com cabelos muito excêntricos...
R Cada treinador tem a sua opinião. Sinceramente, não acredito que isso atrapalhe um jogador em campo, mas se ele me pedir para tirar as tranças ou cortar o cabelo eu faço-o sem problemas. Ele é que é o chefe e nós temos de aceitar as suas normas. Para além disso, não me faz grande diferença, até porque não é o cabelo que joga futebol.
"A bola é mesmo o meu melhor amigo"
P Disse uma vez que a bola era o seu melhor amigo...
R E é verdade... Sempre disse isso. A bola é mesmo o meu melhor amigo, porque foi ela que me ajudou a ser o que eu sou hoje, que me ajudou a estar onde eu estou. Para além disso, foi através da bola e do futebol que fiz muitas amizades, não só quando era criança, mas também actualmente, pois alguns dos meus melhores amigos são jogadores. Mas nunca dormi com ela (risos)...
P O que lhe dá mais prazer no futebol?
R É a alegria dos adeptos. Ouvi-los a cantar, a puxar pela equipa, por nós... Todo o jogador do futebol tem a possibilidade de fazer as pessoas sorrir, e isso é fantástico. É uma sensação incrível, porque sentimos que podemos melhorar a vida de algumas pessoas, nem que seja por alguns momentos.
P Já se imaginou a jogar na Liga dos Campeões?
R Sim, claro. Aquela música é fantástica... Até dá arrepios quando a ouço na televisão. É uma das melhores competições do mundo, onde estão presentes os melhores jogadores e uma prova acompanhada por todo o planeta. Vou sentir uma grande alegria quando tiver a oportunidade de jogar uma partida da Liga dos Campeões.
P Já sabe como vai festejar o primeiro golo ao serviço do FC Porto?
R Nunca sei antecipadamente como celebro os golos, pois não tenho uma forma específica de festejar. Faço sempre o que me apetece naquele momento, apesar de gostar particularmente de reunir a equipa toda e abraçar os meus companheiros.
"Fui reconhecido nas ruas do Porto"
P Quando esteve na cidade do Porto chegou a falar com alguém ligado ao clube?
R Não falei com ninguém, nem estive com ninguém. Na altura estavam todos de férias. Só estive no estádio, que é mesmo muito bonito, para além de ter passeado pela cidade, que também me pareceu muito agradável e diferente do que estou habituado no Brasil. Por exemplo, em Portugal todos os carros param nas passadeiras... No Brasil é sempre um perigo (risos). Pareceu-me, sobretudo, uma cidade mais organizada do que Porto Alegre.
P E que referências tem do clube?
R Por enquanto só falei com o Cláudio Pitbull, que me disse maravilhas do FC Porto. Falou-me da boa estrutura clube e das pessoas que estão sempre disponíveis para ajudar, mas também que cobram muito em campo. E é mesmo assim que tem de ser.
P Depreendo que tenha passado despercebido durante a sua curta estadia em Portugal...
R Não, longe disso. Por incrível que parece, houve muita gente que parava na rua e me reconhecia. Aliás, fiquei muito surpreendido com isso. Foi muito engraçado.
"Fartei-me de chorar a caminho do hospital"
P Que análise faz ao Campeonato do Mundo de Sub-17 que se realizou no Peru?
R Para começar, acho que o grupo de trabalho está de parabéns, apesar de não termos vencido a competição. Temos vindo a trabalhar todos juntos há mais de dois anos e somos uma equipa vencedora, a melhor com quem eu já tive oportunidade de conviver. Queríamos chegar pelo menos à final, e isso conseguimos, embora depois nunca se espere perder um jogo daqueles. Mas o futebol é assim mesmo.
P Mas parece que esta equipa não consegue vencer sem o Anderson em campo... Pelo menos foi assim durante este Mundial...
R Nunca se pode ver uma equipa apenas pelo que faz um jogador. O grupo é todo forte, e tem muitos jogadores que fazem a diferença, como por exemplo o Ramon ou o Celso... Mas são coisas que acontecem e o facto de não termos vencido sem mim não é mais do que uma coincidência.
P Qual é a sensação de ser considerado o melhor jogador do Mundo de Sub-17?
R Não é muito boa, porque não conseguimos vencer o campeonato...
P Mas a nível individual é um momento inesquecível...
R Claro. Fico feliz por ter sido eleito o melhor jogador do Mundial, mas este prémio também pertence aos meus companheiros, que me ajudaram a conquistá-lo.
P O que sentiu no momento da lesão?
R Antes de mais tentei voltar ao jogo. Já tinha jogado com um braço partido, mas desta vez não aguentei mesmo as dores. Nem conseguia pousar o pé no chão; e quanto mais forçava mais a lesão piorava. Depois, a caminho do hospital fartei-me de chorar... Era um momento muito bom da minha vida, sentia-me bem, estava muito motivado, mas aconteceu aquele azar, que me tirou da final. E o que mais me chateia é que nunca mais vou poder vencer um Mundial de Sub-17...
P E como está a equipa?
R Está triste, mas já lhes disse para levantarem a cabeça, porque vamos ter muitas finais pela frente. Não podemos desanimar e temos de continuar a acreditar nas nossas qualidades.
"Já imaginei a torcida a gritar pelo meu nome"
P Vai chegar a meio da temporada, supostamente com uma equipa já formada. Pensa que esse aspecto lhe pode ser prejudicial?
R Julgo que isso faz parte do futebol. Considero-me, porém, um jogador com facilidade de se integrar num grupo de trabalho. E quando chegar vou ser apenas mais um para ajudar, sabendo de antemão que vou precisar de algum tempo para me ambientar.
P Afinal porque optou por ingressar no FC Porto?
R É um grande clube, o actual campeão do Mundo, e é o clube que escolhi com muito carinho. Optei pelo FC Porto porque quero continuar a crescer, e é onde espero continuar a dar muitas alegrias aos adeptos, da mesma forma que o tenho feito no Grémio.
P Conhece algum jogador do FC Porto?
R Conheço a maioria dos jogadores, mas apenas pelo que leio na internet ou vejo pela televisão... Por exemplo, no outro dia vi um golo fantástico do Quaresma, um golaço de três dedos, no jogo frente ao Rio Ave. Sempre que posso vejo as partidas do FC Porto.
P E que ideia tem ficado da forma de jogar em Portugal?
R Nossa, é só porrada... (risos) Porrada por todo o lado.
P E a equipa do FC Porto?
R Gostei. Denotam bom toque de bola e um jogo veloz. Fiquei satisfeito com o que vi.
P E houve mais alguma coisa que lhe tivesse chamado à atenção?
R Sim, houve. Gostei imenso da claque. Adorei quando um deles dizia alguma coisa e os outros todos repetiam. É uma loucura. Comecei logo a imaginar a torcida a gritar pelo meu nome... Estava a ver um jogo com o amigo, e até comentei isso. Estou sempre a imaginar esse tipo de coisas...
P O que já conhece do futebol português?
R Conheço poucas coisas e apenas o que leio na internet. Neste momento, o meu pensamento está concentrado na selecção e no Grémio, e depois quando chegar a Portugal vou tentar saber tudo sobre o clube e o país.
"Os adeptos devem cobrar sempre mais"
P As expectativas em torno da sua chegada ao FC Porto são elevadas...
R É assim a vida de um jogador e temos de saber lidar com esse tipo de situações. No Brasil, uma das coisas mais difíceis de alcançar é um lugar na selecção, e eu já o consegui, sem nunca ter sentido problemas para lidar com a pressão. No Grémio passa-se precisamente o mesmo. Assumo sempre as minhas responsabilidades e vou para o FC Porto com a mesma humildade de sempre e com o intuito de fazer bem o meu trabalho.
P Mas os adeptos do FC Porto costumam ser muito exigentes...
R É o trabalho deles. Apoiar sempre a equipa, mas também exigir bons resultados e boas exibições. É assim em todo o Mundo, até porque para mim um adepto que não exige mais dos jogadores não é um verdadeiro adepto. Deve cobrar sempre mais, embora com respeito. Aliás, qualquer pessoa me pode vir cobrar... Não tenho nenhum tipo de problema com isso, porque sempre consegui aceitar muito bem as críticas, que também nos ajudam a crescer.
P O FC Porto pagou muito dinheiro pelo seu passe. Não sente o peso da responsabilidade, tendo em conta que tem apenas 17 anos?
R Comecei a jogar no Grémio com apenas 15 anos, numa altura em que a equipa estava com muitas dificuldades, e nunca senti problemas para assumir as minhas responsabilidades. Esse é um aspecto que não me preocupa. Todo o jogador tem de ter uma personalidade forte no seu trabalho, e eu acredito que tenho.
P Como jogador profissional, tem de ter uma vida diferente dos restantes rapazes da sua idade...
R Por vezes fico chateado com isso... Mas faz parte da carreira de um jogador, e temos de saber que tudo tem uma hora própria. Não é muito fácil lidar com a situação, mas tenho aprendido a viver com isso.
"Ainda tenho muito para aprender"
P Como foi a sua infância? Jogar futebol sempre foi o seu sonho?
R O meu pai faleceu em 2002 e fui criado com a minha mãe, apesar de passar a maior parte do tempo sozinho. Nunca quis estudar e sempre procurei ser jogador de futebol. Passei por momentos bons, outros menos bons, momentos de felicidade, outros mais tristes, mas felizmente consegui aquilo que sempre foi o meu objectivo de vida: ser jogador de futebol. Ou melhor, espero vir a ser, porque ainda não me considero um jogador totalmente profissional...
P Como assim? Ainda não se considera um jogador no verdadeiro sentido do termo?
R Não... Sinto apenas que sou um jovem que tem de trabalhar muito para ser profissional a tempo inteiro... Se calhar, só quando tiver 35 anos é que posso dizer que sou um profissional de futebol (risos). Ainda sou muito pequeno, tenho ainda muitas coisas para aprender.
P Nasceu e foi criado num dos bairros mais pobres de Porto Alegre. De que forma isso influenciou a sua forma de ser?
R Nasci no meio do povo, num dos bairros mais pobres da cidade, mas onde deixei muitos amigos, e onde tenho muitas pessoas que me ajudaram a ser o que sou hoje. Aquele bairro faz parte da minha vida e foi lá que comecei a jogar futebol. Pensava 24 horas por dias em jogar à bola. E jogava com os meus amigos num campo pelado. Aprendi muitas habilidades naqueles joguinhos de rua.
P E sempre teve jeito para o futebol?
R Sinceramente, não sei. Sempre aprendi com os mais velhos, mas recordo-me que no início eles não me deixavam jogar, porque tinham medo que me magoasse. Desatava logo a chorar e só me calava quando entrasse na partida... E foi assim que fui aprendendo.
P Como é o Anderson fora do campo?
R É um rapaz muito sossegado. Gosto muito de jogar computador, sobretudo o Football Manager, que é um simulador de treinador de futebol. Agora estou a treinar o Real Madrid, onde tenho uma super-equipa: Zidane, Ronaldinho, Robinho, Raúl, Ronaldo e eu, claro! No entanto, quando estou num estágio procuro concentrar-me mais para o jogo, tentar saber tudo sobre o adversário, perguntar coisas ao treinador. E quando tenho um tempinho livre na minha cidade vou directo para o McDonalds... Sou louco pela comida de lá, e conheço todos os de Porto Alegre. Gosto também de estar junto com os amigos e com a minha namorada, que é muito importante para mim.