AS RAZÕES À VISTA DE ADRIAANSE
Não vejo que vantagem possa haver em pedir a Co Adriaanse que ponha a equipa a jogar com base num sistema que depende do sector em que ela é mais fraca. Se não sabe defender, a umca coisa que o FC Porto pode fazer é atacar.
Nas semanas em que há jogos europeus a desvantagem de escrever no início da semana, como eu, é que os jogos europeus já estão desactualizados face aos jogos do campeonato que, entretanto, tiveram lugar ao fim-de-semana. É o caso, agora: para um portista o grande tema de meditação, esta semana, não pode deixar de ser a incrível derrota europeia frente àquela equipa com nome de agência de publicidade, e as subsequentes declarações que, sobre ela, fez o treinador Co Adriaanse, bem como as inúmeras reflexões que essa derrota e os comentários do treinador portista inspiraram. Só que, entretanto, houve o jogo da Madeira, susceptível ou não de mudar as conclusões que já teriam sido tiradas.
Ora bem. Sucede que, por acaso, eu acho que nem é assim. A derrota contra o Artmedia, o empate contra o Marítimo e as declarações de Adriaanse de que não iria mudar a sua filosofia e o seu estilo de jogo, apesar das sucessivas desilusões motivadas pelos descalabros defensivos dos portistas, permitem um julgamento comum sobre as razões do treinador do FC Porto. Os factos (os resultados) dão-lhe ou não razão, na sua crença de que o futebol de ataque é a solução adequada — em geral e, em particular, para o caso desta equipa do FC Porto? Há ou não razão para lenços brancos?
A minha opinião é que Co Adriaanse tem razão — e julgo que comigo está a generalidade dos adeptos portistas. No geral porque é mil vezes preferível, como espectadores, um futebol de ataque, que traz espectáculo, emoção e beleza ao jogo, que aquele futebol completamente estéril e passivo que a equipa jogava no ano passado. No particular porque, olhando para a actual equipa do FC Porto, é fácil perceber que, face àquela defesa de gelatina, a melhor defesa possível... é o ataque.
Muita gente criticou Adriaanse por ele não saber defender os resultados, ter uma estratégia suicida de ataque, nunca parar em busca do maior número de golos possível. Para esses espíritos desassossegados por tanta coisa nova e diferente Adriaanse deveria ter posto o FC Porto à defesa assim que chegou ao 2-2 em Glasgow e deveria ter parado de atacar assim que chegou ao 2-0 contra o Artme-dia, em lugar de continuar à procura do 3-0. Pois, mas os factos podem ser vistos de outra perspectiva, onde os críticos perdem a razão: mesmo a jogar com 10 o FC Porto teve duas oportunidades de chegar ao 3-2 em Glas-gow e, se o tem conseguido, pelo menos não acabaria a perder o jogo; teve uma oportunidade inacreditavelmente desaproveitada de chegar ao 3-0 contra o Artmedia e, se o tem conseguido, pelo menos não perdia o jogo; e, da única vez que recuou e defendeu o resultado — no Funchal a jogar contra 10, a um quarto de hora do fim —, acabou por consentir o empate. Moral da história, do meu ponto de vista: com uma defesa que, seja contra quem for, sofre habitualmente dois ou três golos, a única salvação possível é que o ataque e o meio-campo ofensivo consigam pelo menos marcar três e, de preferência, quatro.
Deixemos de parte o recente e estranho jogo contra o Marítimo, em que, a par da pior exibição da época, o FC Porto foi surpreendido (como todos fomos) por um Marítimo que, em quatro dias de trei-nador novo, ressuscitou da nulidade e apareceu pujante de futebol e de energia, correndo sem parar, ao ponto de, a jogar com 10, ter conseguido encostar o FC Porto lá atrás a 15 minutos do fim. Vamos ver se esta extraordinária e instantânea ressurreição se confirma e em que termos nos jogos seguintes. (Só dois apartes, para contrariar as verdades feitas: o golo anulado ao Marítimo foi, tal como o golo anulado ao FC Porto, bem anulado, porque entre o jogador do Marítimo e a linha de golo só havia um portista no momento do passe — o Bruno Alves; o invocado penalty que terá sido sofrido por um sujeito do Marítimo que se viria a distinguir por cuspir na cara dos adversários e entrar a matar sobre eles depende da vontade de cada um — para mim trata-se de um .penalty à João Pinto, um estafado número que consiste em adiantar a bola para onde já não se pode ir buscá-la e depois arrastar a perna deliberadamente para encontrar a perna do defesa que tenta cortar a bola.)
Mas, à parte esse atípico jogo com o Marítimo, o que o marcante jogo contra o Artmedia mostrou foi apenas aquilo que já se sabia. O que falta a este FC Porto, em minha opinião, é aquilo que aqui escrevi a seguir ao jogo contra o Glasgow Rangers: o fim do azar e uma defesa minimamente capaz. Compare-se com o Sporting, contra o Halmstads. Perdeu também por 2-3 mas o adversário ainda poderia ter marcado outros três. Já o Artmedia e o Rangers chutaram, cada um deles, quatro vezes à baliza do FC Porto, acertaram três vezes e das três foi golo. Em contraste, o FC Porto chutou 28 vezes à baliza do Artmedia, 25 à do Rangers, perdeu quatro ou cinco oportunidades flagrantes em cada um dos jogos, teve 62% de posse de bola no primeiro jogo e 68% no segundo, teve seis vezes mais ataques e seis vezes mais cantos que ambos os adversários... e perdeu os dois jogos. Independentemente dos erros defensivos, é forçoso reconhecer que apenas um pouco menos de azar e as histórias teriam sido outras.
Agora sobeja a outra verdade incontornável. O FC Porto tem o terceiro ataque entre as 32 equipas Liga dos Campeões, é a equipa que mais ataques fez, mais remates fez, mais posse de bola teve. E a pior defesa. Nenhuma equipa com aspirações europeias se pode dar ao luxo de marcar quatro golos em dois jogos e perder ambos. Ou de sofrer oito remates à baliza e encaixar seis golos. É simplesmente impensável.
Ao longo das últimas décadas o FC Porto habituou os seus adeptos a ter sempre um ou dois grandes defesas-centrais em acção, trás para a frente, foram os ciclos de Ricardo Carvalho, Jorge Andrade, Aloísio (10 anos!), Geraldão, Celso, etc. Nunca, que me lembre, o FC Porto iniciou uma época sem ter um grande central, pelo menos. Aconteceu este ano, em que o melhor deles, Jorge Costa, está, ainda por cima, encostado ou lesionado. A dupla dos últimos jogos — Ricardo Costa e Bruno Alves — é a pior de todas, com a agravante de ter nos flancos dois laterais adaptados. E, quando assim é, não há milagres. Ricardo Costa bem pode justificar dizendo que a responsabilidade de defender é de todos e não apenas dos defesas: é tão verdade como dizer que a responsabilidade de marcar golos é de todos. O que sabemos é que a frieza dos números demonstra que o ataque tem cumprido a sua obrigação, a defesa é que não.
O problema só tem solução de fundo e esta só pode chegar em Dezembro e cara. Daqui até lá, porém, decide-se o destino do FC Porto na Liga dos Campeões. Para que ele seja feliz é preciso que a sorte mude e a defesa portista seja capaz, ao menos, de não encaixar dois ou três golos todos os jogos. Entretanto, não vejo que vantagem possa haver em pedir a Co Adriaanse que ponha a equipa a jogar com base num sistema que depende do sector em que ela é mais fraca. Se não sabe defender, a única coisa que o FC Porto pode fazer é atacar. E quanto mais melhor.
Ora bem. Sucede que, por acaso, eu acho que nem é assim. A derrota contra o Artmedia, o empate contra o Marítimo e as declarações de Adriaanse de que não iria mudar a sua filosofia e o seu estilo de jogo, apesar das sucessivas desilusões motivadas pelos descalabros defensivos dos portistas, permitem um julgamento comum sobre as razões do treinador do FC Porto. Os factos (os resultados) dão-lhe ou não razão, na sua crença de que o futebol de ataque é a solução adequada — em geral e, em particular, para o caso desta equipa do FC Porto? Há ou não razão para lenços brancos?
A minha opinião é que Co Adriaanse tem razão — e julgo que comigo está a generalidade dos adeptos portistas. No geral porque é mil vezes preferível, como espectadores, um futebol de ataque, que traz espectáculo, emoção e beleza ao jogo, que aquele futebol completamente estéril e passivo que a equipa jogava no ano passado. No particular porque, olhando para a actual equipa do FC Porto, é fácil perceber que, face àquela defesa de gelatina, a melhor defesa possível... é o ataque.
Muita gente criticou Adriaanse por ele não saber defender os resultados, ter uma estratégia suicida de ataque, nunca parar em busca do maior número de golos possível. Para esses espíritos desassossegados por tanta coisa nova e diferente Adriaanse deveria ter posto o FC Porto à defesa assim que chegou ao 2-2 em Glasgow e deveria ter parado de atacar assim que chegou ao 2-0 contra o Artme-dia, em lugar de continuar à procura do 3-0. Pois, mas os factos podem ser vistos de outra perspectiva, onde os críticos perdem a razão: mesmo a jogar com 10 o FC Porto teve duas oportunidades de chegar ao 3-2 em Glas-gow e, se o tem conseguido, pelo menos não acabaria a perder o jogo; teve uma oportunidade inacreditavelmente desaproveitada de chegar ao 3-0 contra o Artmedia e, se o tem conseguido, pelo menos não perdia o jogo; e, da única vez que recuou e defendeu o resultado — no Funchal a jogar contra 10, a um quarto de hora do fim —, acabou por consentir o empate. Moral da história, do meu ponto de vista: com uma defesa que, seja contra quem for, sofre habitualmente dois ou três golos, a única salvação possível é que o ataque e o meio-campo ofensivo consigam pelo menos marcar três e, de preferência, quatro.
Deixemos de parte o recente e estranho jogo contra o Marítimo, em que, a par da pior exibição da época, o FC Porto foi surpreendido (como todos fomos) por um Marítimo que, em quatro dias de trei-nador novo, ressuscitou da nulidade e apareceu pujante de futebol e de energia, correndo sem parar, ao ponto de, a jogar com 10, ter conseguido encostar o FC Porto lá atrás a 15 minutos do fim. Vamos ver se esta extraordinária e instantânea ressurreição se confirma e em que termos nos jogos seguintes. (Só dois apartes, para contrariar as verdades feitas: o golo anulado ao Marítimo foi, tal como o golo anulado ao FC Porto, bem anulado, porque entre o jogador do Marítimo e a linha de golo só havia um portista no momento do passe — o Bruno Alves; o invocado penalty que terá sido sofrido por um sujeito do Marítimo que se viria a distinguir por cuspir na cara dos adversários e entrar a matar sobre eles depende da vontade de cada um — para mim trata-se de um .penalty à João Pinto, um estafado número que consiste em adiantar a bola para onde já não se pode ir buscá-la e depois arrastar a perna deliberadamente para encontrar a perna do defesa que tenta cortar a bola.)
Mas, à parte esse atípico jogo com o Marítimo, o que o marcante jogo contra o Artmedia mostrou foi apenas aquilo que já se sabia. O que falta a este FC Porto, em minha opinião, é aquilo que aqui escrevi a seguir ao jogo contra o Glasgow Rangers: o fim do azar e uma defesa minimamente capaz. Compare-se com o Sporting, contra o Halmstads. Perdeu também por 2-3 mas o adversário ainda poderia ter marcado outros três. Já o Artmedia e o Rangers chutaram, cada um deles, quatro vezes à baliza do FC Porto, acertaram três vezes e das três foi golo. Em contraste, o FC Porto chutou 28 vezes à baliza do Artmedia, 25 à do Rangers, perdeu quatro ou cinco oportunidades flagrantes em cada um dos jogos, teve 62% de posse de bola no primeiro jogo e 68% no segundo, teve seis vezes mais ataques e seis vezes mais cantos que ambos os adversários... e perdeu os dois jogos. Independentemente dos erros defensivos, é forçoso reconhecer que apenas um pouco menos de azar e as histórias teriam sido outras.
Agora sobeja a outra verdade incontornável. O FC Porto tem o terceiro ataque entre as 32 equipas Liga dos Campeões, é a equipa que mais ataques fez, mais remates fez, mais posse de bola teve. E a pior defesa. Nenhuma equipa com aspirações europeias se pode dar ao luxo de marcar quatro golos em dois jogos e perder ambos. Ou de sofrer oito remates à baliza e encaixar seis golos. É simplesmente impensável.
Ao longo das últimas décadas o FC Porto habituou os seus adeptos a ter sempre um ou dois grandes defesas-centrais em acção, trás para a frente, foram os ciclos de Ricardo Carvalho, Jorge Andrade, Aloísio (10 anos!), Geraldão, Celso, etc. Nunca, que me lembre, o FC Porto iniciou uma época sem ter um grande central, pelo menos. Aconteceu este ano, em que o melhor deles, Jorge Costa, está, ainda por cima, encostado ou lesionado. A dupla dos últimos jogos — Ricardo Costa e Bruno Alves — é a pior de todas, com a agravante de ter nos flancos dois laterais adaptados. E, quando assim é, não há milagres. Ricardo Costa bem pode justificar dizendo que a responsabilidade de defender é de todos e não apenas dos defesas: é tão verdade como dizer que a responsabilidade de marcar golos é de todos. O que sabemos é que a frieza dos números demonstra que o ataque tem cumprido a sua obrigação, a defesa é que não.
O problema só tem solução de fundo e esta só pode chegar em Dezembro e cara. Daqui até lá, porém, decide-se o destino do FC Porto na Liga dos Campeões. Para que ele seja feliz é preciso que a sorte mude e a defesa portista seja capaz, ao menos, de não encaixar dois ou três golos todos os jogos. Entretanto, não vejo que vantagem possa haver em pedir a Co Adriaanse que ponha a equipa a jogar com base num sistema que depende do sector em que ela é mais fraca. Se não sabe defender, a única coisa que o FC Porto pode fazer é atacar. E quanto mais melhor.