1. Duas suspeitas: esta época,
o FC Porto teria feito pior sem Baía e
o Sporting talvez tivesse feito tremendamente melhor sem Ricardo. As provas são circunstanciais, demasiado até para um tema que passa por ser o equivalente português da abolição da escravatura, responsável pela guerra civil americana, ou do assassinato do arquiduque Francisco Fernando, detonador da I Guerra Mundial. O FC Porto não pode escolher partidos nesta discussão. Ao contrário dos participantes indirectos na batalha, que falam, escrevem e teorizam sem ter o rabo em causa, ao ex-campeão nacional e europeu não cabe simplesmente decidir que Baía não é e nunca foi importante, muito menos mantê-lo reduzido às comparações desmesuradas com Ricardo que o têm achincalhado nestes últimos dois anos. Se um especialista resolve escrever que Baía acumulou vinte e oito títulos por acaso, só arrisca pagar alguma da credibilidade que, provavelmente, já não tinha; se o FC Porto se convence disso, corre o risco de perder uma peça-chave de um momento para o outro sem, como já aconteceu antes, estar prevenido contra a falta que ela fará. Nos jornais e nas televisões,
a discussão Baía/Ricardo é teórica, para não dizer poética ou cómica; no âmbito do FC Porto, é factual. A contratação de Helton é uma excelente medida profiláctica contra o adeus de uma figura demasiado grande para ser menosprezada por quem, fatalmente, terá de passar sem ele cinquenta jogos por ano. E não apenas sete ou oito como a selecção nacional.
2. Um cronista reputado, cujo nome não tem a mínima importância para o caso, escreveu no "Independente" que "os portugueses celebraram", nestes últimos dias, "a derrota do FC Porto, a humilhação do sr. Pinto da Costa e a vingança sobre a arrogância dos dirigentes e adeptos portistas". Encontro nesta leitura o mesmo sentimento que percebi há semanas numa declaração de Rui Rio sobre os pobres do concelho do Porto. Era qualquer coisa como "ou nós tratamos deles ou eles tratam de nós". Isto é, nem os pobres são cidadãos portuenses nem os adeptos do FC Porto são cidadãos portugueses. Melhor: como não houve adeptos do Sporting, nem do Belenenses, nem do Boavista a festejar o título, concluo que, na opinião deste amável contribuinte para o complexo de perseguição dos portistas (coisa que lhes há-de atirar à cara na primeira oportunidade), todos os portugueses são do Benfica. Os adeptos do FC Porto ficam à espera que o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras os expulsem.
A fórmula do êxito
"É o chicote. É o meu segredo e é do que os jogadores precisam. Levo-o para Portugal"
Resposta alegadamente dada por Co Adriaanse a um amigo que lhe pergunta como conseguia ter tanto sucesso
José Manuel Ribeiro no Ojogo