segunda-feira, dezembro 18, 2006

O fantasma de Mourinho

Álvaro Magalhães, escritor no JN:


O Chelsea-F. C.Porto dos oitavos da Champions é um prato suculento cozido por muitos fogos. Melhor, isto é, mais intenso e apropriado, era impossível.

Depois de dois anos de vil e apagada vida europeia, ainda paira por aí o fantasma de Mourinho. Os Superdragões lançaram-lhe uma maldição que garante que ele não voltará a ser campeão europeu (a menos que regresse ao F. C. Porto, é claro) e, tal como os restantes adeptos, suspiram pela chegada de um novo Messias, capaz de inspirar a repetição de feitos heróicos.

Compreende-se a essência deste anseio. Se voltar o brilho e a glória do tempo de Mourinho, sem Mourinho, saber-se-á, enfim, que foi o F. C.Porto que fez dele campeão europeu, não contrário, e o seu fantasma extinguir-se-á de vez. Por outro lado, ultimamente tem sido visto por aí o grande F. C.Porto do passado, o próprio Jesualdo nos alertou para essa evidência, e até os mais cegos viram pelo menos reflexos da saudosa equipa de Mourinho no jogo com o CSKA ou mesmo nos jogos com o Benfica e o Nacional, em que emergiu o mesmo carácter indomável. Pois bem, a estas coincidências ou semelhanças podem ser acrescentadas muitas outras, como as existentes entre Mourinho e Jesualdo.

Mourinho veio de uma equipa média e chegou com os bolsos vazios nada tinha ganho. E Jesualdo? Também.

Mourinho treinou o Benfica e foi rapidamente escorraçado. E Jesualdo? Também.

Mourinho força a transcendência de alguns jogadores, despertando neles potencialidades ocultas. E Jesualdo? Este Postiga, que é apenas o melhor exemplo disso, garante-nos que sim, que também.

Mourinho, lembram-se?, cerrava os dentes depois de um empate em casa e ia ganhar fora. E Jesualdo? Também acabámos de o ver a fazer isso em Moscovo.

Mais semelhanças?

As equipas de Mourinho assentam na solidez defensiva e na transição atacante fulminante e letal. Há nelas um modo de agilidade que rasura acções supérfluas, incluindo a posse de bola inútil, e que produz um poderoso efeito de síntese. E as equipas de Jesualdo? Também.

Afinal, ambos adoram deuses com os nomes de Simplicidade e Eficácia e se cingem ao essencial, afirmando o mesmo desprezo pelo espectáculo, que é meramente acessório. "Espectáculo é ganhar", ambos sabem isso.

Pois bem, todas estas semelhanças e coincidências fizeram com que os portistas passassem a olhar Jesualdo de forma diferente. Será, pois, também possível que seja ele o Messias redentor tão aguardado? Afinal, além da arrogância e do sobretudo "Armani", o que lhe falta para ser outro Mourinho? Talvez deixar de fumar, e, claro, ser campeão europeu. Ora, da primeira condição já o presidente anda a tratar e da segunda, bem mais difícil, tratou o sorteio da última sexta-feira, reduzindo, e muito, a enormidade da tarefa. Agora Jesualdo só precisa de eliminar o Chelsea e caçar o fantasma. Mais nada.