quinta-feira, fevereiro 05, 2004

JOSÉ MANUEL RIBEIRO no ojogo

Problema virtual


Passado o vendaval, os problemas do FC Porto continuam onde sempre estiveram: fora do campo. Estavam fora dele antes do jogo com o Sporting, estiveram fora dele durante o jogo com o Sporting e lá permanecem ainda, espalhados um pouco por todo o país, excepto naquele rectângulo, onde o campeão nacional mantém um microclima à prova de..., bem, à prova de tudo quanto aconteceu no exterior nesta última época e meia. Se retirarmos da equação os acontecimentos de sábado - os que foram da responsabilidade de Mourinho e os que alegadamente terão sido -, ou seja, se imaginarmos que nada disto sucedeu, temos o FC Porto no primeiro lugar do campeonato, fortalecido por ter frustrado a principal hipótese que a concorrência tinha de lhe roer os calcanhares e ainda pelo ponto virtual a mais. Em vantagem, como sempre. Afirmações de força como a de Pedro Barbosa - "o Sporting é a melhor equipa da SuperLiga" -, continuam a ter resposta fácil. Mourinho não conseguiu manter a média de uma vitória por cada clássico jogado, mas continua a poder dizer que nunca foram capazes de o derrotar nesses jogos especiais. A própria incerteza que se nota no Sporting quanto ao valor real do empate é um galanteio ao FC Porto. Soa como um "afinal, talvez fosse possível". Quatro dias depois da partida, ainda há quem diga e escreva "fomos melhores e merecíamos ter vencido". Só diz isso tantas vezes quem precisa de se convencer ou de convencer os outros. Na perspectiva do FC Porto, esta interpretação dos acontecimentos - e assumo que pode haver outras igualmente plausíveis - devia bastar, até porque as leituras podem ser diferentes mas o cerne é indiscutível: os únicos obstáculos do FC Porto são o próprio FC Porto e/ou as minudências disciplinares permanentes em que os adversários, a meias com a Comissão Disciplinar, vão cozinhando a SuperLiga. Dentro do campo, o silêncio. E o mesmo fosso de sempre na tabela.