Futebol português: lamentamos, mas nada há a fazer
-José Mourinho viu mal o lançamento de Rui Jorge, no lance que originou o golo do empate sportinguista. Naquela altura só estava junto à linha um jogador portista, Jorge Costa, e mesmo esse em conversa com o lateral esquerdo. A preocupação com o estado de João Pinto já tinha passado. É evidente nas imagens o esforço de Lucílio Baptista para fazer com os jogadores regressassem ao terreno (Pedro Barbosa era o mais preocupado), assim como é inequívoco o sinal para que Rui Jorge executasse o lançamento. Mourinho exagerou.
-Liedson teve duas ou três intervenções profundamente irritantes, sobretudo para quem acha que o futebol é um assunto sério, onde não há lugar para quem tenta vencer enganando. Mas isso não é razão para que o melhor treinador europeu, para a UEFA, acabe o jogo agarrado à cara do goleador da equipa adversária. Ou seja, Mourinho esteve pior do que Liedson. E é pena, porque assim deu balas aos que ciclicamente o atingem por não suportarem a evidência da sua capacidade acima da média.
-No intervalo destas cenas houve um jogo de futebol emotivo, genericamente correcto, e que terminou bem empatado. Pode ser impressão minha, mas os sportinguistas pareceram demasiado satisfeitos com o resultado e os portistas mais desiludidos do que era suposto.
-Uns minutos depois de o jogo terminado, o administrador do Sporting, José Eduardo Bettencourt, foi à sala de imprensa falar sobre episódios passados, segundo diz, nos corredores de acesso aos balneários. Na prática, derramou gasolina sobre a fogueira. Fê-lo numa altura em que os adeptos portistas ainda estavam no interior do estádio. Portanto, sem medir as consequências.
-Em Guimarães, jogadores e dirigentes do Vitória e do Boavista envolveram-se em insultos e pancadaria.
Cerca de 30 adeptos do Vitória retardaram em quinze minutos a saída da equipa de arbitragem do relvado. À sua passagem arremessaram cadeiras arrancadas de um estádio do Euro. Só a polícia de intervenção pôs cobro às ameaças.
Estas cenas aconteceram exactamente uma semana depois de um jogador de futebol ter morrido ali, no relvado de Guimarães.
Na prática, isto significa que o futebol português enlouqueceu. José Mourinho demonstrou que não está preparado para os dias em que a sua equipa não vence. José Eduardo Bettencourt deu um mau exemplo ao preferir a arruaça à elevação que, apesar de tudo, o assunto devia merecer. Os jogadores de Vitória de Guimarães e Boavista falharam no respeito que lhes devia merecer a memória de um colega de profissão. Os adeptos exibiram preocupantes sinais de violência, perda de controlo e frustração.
Infelizmente, o futebol português não se resolve. Os dirigentes são os mesmos há anos e o passar do tempo só refina os defeitos.
Claro que ajudaria a desanuviar o ambiente se Mourinho pedisse desculpa pelo que disse de cabeça a ferver; se Bettencourt pensasse duas vezes antes utilizar a sala de imprensa; se os jogadores compreendessem o estatuto social que têm; se os adeptos tivessem uma vida melhor e não precisassem dos estádios de futebol para expor as suas mágoas.
Como nada disto aconteceu ainda, resta-nos esperar que ao menos uma vez alguém consiga exercer a autoridade. Sem medo.
Os cobardes adoram linchamentos
Há 8 horas