sábado, fevereiro 14, 2004

SISTEMA

JOSÉ MANUEL RIBEIRO no Ojogo

Os dirigentes do Sporting e do Benfica continuam sem perceber que menosprezar a importância, a dimensão e o carácter nacional do FC Porto faz deles ineptos e incompetentes. Ineptos porque, alegadamente, se deixaram enganar, durante duas décadas, por um mero chefe tribal, que, pelo menos uma vez por semana, reconhecem ser incapazes de travar, apesar de muito importantes, muito grandes e muito nacionais. Incompetentes porque, se são importantes, grandes e nacionais, têm forçosamente mais meios à disposição, com os quais conseguiram, juntos, sete campeonatos e duas finais europeias perdidas nos últimos vinte anos, contra doze campeonatos, uma Taça UEFA, uma Taça dos Campeões Europeus, uma Taça Intercontinental, uma Supertaça europeia, uma final da Taça das Taças perdida, a supremacia na Taça de Portugal e na Supertaça portuguesa, e um rendimento internacional que quase triplica, em número de pontos, os de Sporting e Benfica somados. O problema do sistema anteontem denunciado por Dias da Cunha é que passa as fronteiras. Pinto da Costa e Valentim Loureiro não chegam para o explicar: é preciso juntar-lhe um Lennart Johansson, que justifique também a inexistência internacional dos dois maiores clubes portugueses. Para usar a terminologia do presidente do Sporting, a negra influência dos "pequenos" vândalos circunscritos ao Norte de Portugal estende-se à Europa. A muito elogiada entrevista de Dias da Cunha à RTP1 tem sempre explicação jornalística possível, mas um único objectivo: dar ao entrevistado a possibilidade de limpar a imagem. E ele fê-lo seguindo o mais original dos caminhos: árbitros, dinheiro sujo e Pinto da Costa. Com essa mensagem vazia de conteúdo, de provas e de concretização, igual ao seu discurso de sempre na forma e na letra, mereceu notáveis aplausos. "Até que enfim, um homem de coragem". Onde?


O estudo: Quatrocentos milhões de adeptos

Segundo Dias da Cunha, o Sporting tem um estudo "muito sério" que prova a existência de 3,5 milhões de adeptos do Sporting e 4,2 milhões de adeptos do Benfica. É o regresso aos números doidos. Há outro estudo, menos sério, encomendado à Deloitte & Touche pela Liga, que para além de colocar de parte a hipótese de haver oito milhões de adeptos de futebol num país com dez milhões de habitantes - como qualquer pessoa que consiga viver sem psicotrópicos acaba por perceber - dá ao FC Porto vantagem sobre o Sporting. O estudo separa simpatizantes e adeptos, sendo os segundos participantes activos e os primeiros simples interessados. No primeiro capítulo, o relatório afirma que "o FC Porto e o Sporting têm sensivelmente o mesmo peso", à volta dos 20 por cento dos simpatizantes de futebol no país; no segundo, atribui aos dragões 24 por cento contra 20 dos leões. Ainda bem que não é um estudo assim muito, muito sério.