quarta-feira, janeiro 25, 2006

Reinaldo Teles perdoa-lhe...ele nao sabe o que diz

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Reinaldo Teles:

"O presidente sempre me disse que Veiga era um mercenário"

Frustrado por Pinto da Costa nunca o ter deixado ser profissional do FC Porto: é esta a moral da história que o administrador da SAD aceita contar a respeito dos alegados tempos de sã convivência entre o ex-empresário e o presidente dos dragões. "Chegou a expulsá-lo do gabinete, à minha frente".




"Remorso" é o estado de alma encontrado por Reinaldo Teles para ilustrar o reconhecimento público que decidiu fazer em resposta às últimas declarações de José Veiga, elas próprias já uma reacção a palavras anteriores de Pinto da Costa. "O responsável por alguma confiança que o presidente chegou a dar-lhe sou eu", assumiu ontem, a O JOGO, o administrador da FC Porto SAD, depois de ter aceite explicar em que consistiu, afinal, esse relacionamento entre Veiga e os dragões que subitamente explodiu numa guerra já de incontáveis estilhaços. Chamando a si o papel de patrono do ex-empresário ao tempo da sã convivência, o histórico braço direito de Pinto da Costa descreve o actual director-geral do Benfica como um portista frustrado por nunca lhe ter sido permitido exercer funções profissionais no clube e assegura que os motivos pelos quais isso não aconteceu está ele agora a confirmá-los um por um.

Reinaldo Teles reclama, acima de tudo, legitimidade para abordar o tema.
"Estou à vontade para falar do Zé"
, sustenta.
"Conheço-o dos tempos de emigrante, em que organizava excursões para acompanhar as saídas do FC Porto ao estrangeiro".
Tempos esses que talvez até possam inserir-se nos vastos conhecimentos alegadamente adquiridos por Veiga entre os azuis e brancos, embora a actual excelência das excursões do Benfica não tenha ainda chegado ao primeiro plano: quando vem à baila essa bagagem cultural, é de outro período da história, um pouco mais adiantado, que se está a falar. E desses dias Reinaldo Teles fornece um retrato diferente daquele que se costuma ter por certo.
"Sei da frustração que o Zé sente pelo facto de o presidente nunca o ter deixado ser profissional do clube. Pediu-me insistentemente que o convencesse a aceitar. Mas, mais do que uma vez, o presidente respondeu-me: 'Reinaldo, não se esqueça de que esse tipo não tem princípios. Hoje diz que está aqui e amanhã diz estará acolá. É um mercenário. O futuro o dirá'".


À laia de prova de que a relação José Veiga/Pinto da Costa nunca foi um romance cor de rosa, o administrador dos dragões recorda um episódio ocorrido aquando de uma reunião em que participou juntamente com "um colega da administração". O "colega", que fica por nomear, desentendeu-se com o então empresário e teve de ser o presidente do FC Porto a resolver o problema: "Expulsou-o do gabinete". Noutro registo, o próprio Reinaldo Teles diz que se sente "usado".
"Cheguei a ajudar o Zé monetariamente, mas, como o dinheiro não fala, já estou mentalizado de que nunca mais o vejo".


Sem resposta completa, fica a origem do estado actual das relações entre Veiga e Pinto da Costa. Sobre o assunto, Reinaldo Teles só diz que compreende o comportamento recente do antigo protegido:
"Qualquer pessoa que não seja benfiquista terá de se insurgir contra o presidente do FC Porto, se quiser cativar os adeptos do Benfica".



"Penhoraram-lhe o ordenado! No FC Porto, não há disso"


Da longa lista de acusações feita ontem por José Veiga, ou antes, das várias perguntas que o director-geral do Benfica gostaria de ter visto respondidas por Pinto da Costa no discurso da véspera, em Espinho, Reinaldo Teles retira uma "grande ilegitimidade" para puxar semelhantes assuntos.
"É bom que as pessoas não se esqueçam de que ele não foi empossado administrador do Benfica por não ter os impostos em dia e não é só isso: penhoraram-lhe o ordenado. Ninguém no FC Porto tem problemas, posso garantir, que levem a penhoras de ordenados. E já que fala em perguntas sem respostas, o Zé que explique porque é que não paga os impostos se tem casas e carros em off-shores".
Tema puxa por tema, sem travões, Reinaldo Teles salta de off-shore em off-shore para chegar ao Estoril, que considera "um escândalo". "Durante um ano", sublinha,
"foi encoberta a identidade do proprietário das acções. Como é possível? O último campeonato ficou manchado pelo jogo Estoril-Benfica, tal como este se arrisca a ficar pelos episódios do Fonte e do Marcel, que toda a gente tem considerado vergonhosos. Para dizer as coisas como ela as disse, perguntas sem resposta há muitas e não dizem respeito ao FC Porto".


"Anda nervoso por causa dos incidentes nos treinos do Benfica"


Se a responsabilidade pela guerra verbal é de Veiga, para que serve? Que interesse tem ele nisso? Reinaldo Teles sustenta que é estratégia para seduzir benfiquistas, mas junta-lhe outras vantagens que, na sua perspectiva, o director-geral do Benfica também tira das actuais circunstâncias.
"As preocupações dele devem concentrar-se nos incidentes que têm acontecido nos treinos do Benfica. Isto serve para desviar as atenções desses episódios, que o andam a pôr nervoso. Um dia destes tem de chamar o primo para dar uns estalos aos jogadores, a ver se resolve o problema".


"O Zé não tem memória para se lembrar disso tudo"


Os casos Guímaro e Calheiros: quinhentos contos mencionados numa conversa telefónica e uma viagem ao Brasil paga pelo FC Porto. Dois temas ressuscitados por José Veiga na página anterior a estas e postos na forma de pergunta a Reinaldo Teles, tal como exigira o director-geral do Benfica, mas a resposta do administrador da SAD portista não tinha por onde esticar.
"O Zé não sabe que a justiça já se pronunciou. É tão simples quanto isso: os processos estão encerrados e arquivados. O FC Porto foi ilibado de quaisquer acusações"
Mas Veiga também está absolvido , pelo menos deste pequeno erro.
"Conheço muito bem o Zé. Sei perfeitamente que ele não tem memória para falar destas coisas todas, por isso, o que ele está é mal assessorado. Quem lhe deu o material esqueceu-se de que lhe dizer que esses casos já não são casos".


"Pinto da Costa nunca jantou com Devesa Neto"


A meio da conversa, Reinaldo Teles acrescenta um pedido: quer reiterar as acusações de Pinto da Costa a Veiga no que diz respeito ao célebre jantar deste último, em Penafiel, com o antigo árbitro-assistente Devesa Neto:
"É mesmo um mentiroso, como o presidente lhe chamou. Ele e o Rui Cartaxana, que escreveu mentiras a respeito das pessoas com quem o presidente janta. Posso garantir que o presidente nunca jantou, nem tomou café sequer, com o Devesa Neto. E nunca tomará, porque o considera uma pessoa sem qualquer credibilidade".



Jose Manuel Ribeiro no Ojogo:

O burro



Em Portugal, ter fama de corrupto comporta grandes vantagens. É o topo de gama das reputações. Traz os extras todos: tecto de abrir, fecho centralizado e uma impressão de competência à prova de míssil. Os corruptos incompetentes estão presos ou são pobres; não há que saber. Formalmente, corrupto talvez nem seja a palavra adequada. São homens com recursos. Se forem mesmo bons, são homens com recursos superiores. Outro enorme benefício da condição de corrupto, ainda que corrupto virtual, é nunca se ser tomado por burro. Pelo contrário, o malandro está um degrau acima do inteligente. Se for esperto, um dirigente de futebol obtuso fomenta o boato de que é corrupto. Sussurra aos amigos que comprou um árbitro em leasing ou no e-bay; entrega um envelope (pode ser o da conta da TV Cabo) a um dirigente da arbitragem em público e pisca-lhe o olho várias vezes para ter a certeza de que toda a gente viu. Sendo burro até pode enganar-se no árbitro: se não for o do próximo jogo, melhor; todos vão ficar convencidos da complexidade das suas maquinações. Se for do clube certo, quanto mais burro e descuidado maior o efeito. A desfaçatez gera a sensação de impotência nos adversários. A única coisa que cresce sem comprimidos, a partir daí, é o fatalismo.

AS ACÇÕES DE VEIGA
Onde, como, quem?


Não quero saber das discussões entre os dirigentes do FC Porto e do Benfica. Dentro delas, não quero saber das respostas que José Veiga queria ouvir de Pinto da Costa e também não ligo nenhuma aos jantares das outras pessoas. Desconheço se isso faz de mim um leitor tipo, mas se fosse um leitor tipo quereria saber de que forma é suposto ficar esclarecido com a resposta do director-geral do Benfica à questão das acções do Estoril que se eclipsaram. Falta o quê, quando, como, quem e onde que é suposto constar das notícias.

MÁ-FÉ
Sermão aos crentes


Outra nota ainda sobre as acções do Estoril. Veiga diz que quem escreveu ou falou sobre isso fê-lo de má-fé. Má-fé essa, digo eu, que deve estender-se à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários e aos inquilinos de determinada morada de Londres, onde negaram que habitasse quem Veiga lá indicou. Mas, pronto, aos poucos vai-se confirmando que é mesmo para crentes que o director-geral está a falar. E nesses a fé nunca é má.

A GENTE ACREDITA, PÁ


"Desde 2004 que não tenho os 80 por cento das acções do Estoril e nem vou perder mais tempo"

José Veiga