Carlos Machado in Ojogo
José Mourinho perdeu a sua primeira competição nacional desde que assumiu o comando técnico do FC Porto. Independentemente da derrota na Taça de Portugal, José Mourinho revelou uma faceta que lhe era desconhecida. E não foi o mau perder, que de alguma forma até poderá entender-se como próprio de quem se habitua a ganhar, mas sim o facto de ter feito uma escolha pouco lógica para a baliza. E que até relança uma discussão muito mais ampla do que a simples titularidade de Nuno numa final. Tal como aconteceu no Mundial da Coreia/Japão em relação a Ricardo, no Jamor ouviu-se dizer - inclusivamente Vítor Baía - que Nuno, guarda-redes suplente a quem o treinador tinha dado sucessivos votos de confiança nos jogos da Taça, merecia jogar a final. Assim mesmo, merecia. Não foi dito que ia jogar porque era o melhor, mas porque merecia. Ora, nos enunciados do próprio José Mourinho é normal que o termo merecimento seja entendido como sinónimo de ser melhor.
Paulo Ferreira merece jogar sempre por ser o melhor na posição que desempenha, não por ser bom rapaz, aplicado, bem educado ou estar à espera de vez. Isto porque a vez é dos melhores. Mourinho não se cansa de dizer que o azar de Nuno reside no facto de Baía ser o melhor. Mas pôs a jogar Nuno, que não pode, nem de perto nem de longe, ser responsabilizado pela derrota. O guarda-redes não jogou mal nem se lhe pode ser assacado qualquer erro determinante, mas a verdade é que há muito não se via uma defesa do FC Porto tão intranquila como a que defrontou o Benfica na final da Taça. Então os centrais parecia que pisavam areias movediças, como se não ouvir a voz de comando habitual, a de Baía, os deixasse à beira de um ataque de nervos.
Ter voz de comando é uma das principais qualidades de um guarda-redes, a par dos reflexos, velocidade de reacção e leitura de jogo. Os defesas precisam de saber que atrás deles está alguém em cuja palavra podem confiar cegamente e essa é uma das qualidades principais de Baía, cuja capacidade de comando e leitura de jogo permite à equipa defender 20 a 30 metros mais à frente. E, pelo que se tem visto ao longos dos anos, é fácil para os defesas perceberem-no. Basta lembrar que Jorge Costa e Aloísio, que formaram dupla durante anos a fio, renderam sempre mais quando tinham Baía nas costas. Mesmo há quatro anos, quando ambos sabiam que o guarda-redes, em pleno processo de recuperação, precisava de jogar a finalíssima da Taça para ir ao Europeu, contra o Sporting, deram as mãos e seguraram as pontas. Por solidariedade? Com certeza, mas também porque confiavam mais nele do que em qualquer outro.
Pela mesma razão António Oliveira entregou a baliza a Baía no Mundial'2002. Disse-se então que, depois de ter feito a fase de qualificação, Ricardo merecia ser titular. Merecia pelo que tinha feito ou era a melhor solução de jogo envolvido numa defesa que tinha três jogadores - Fernando Couto, Jorge Costa e Rui Jorge - que confiavam mais em Baía do que nas alternativas? É que mesmo que o merecimento fosse retroactivo a escolha teria de ser a mesma, porque era um apuramento contra dez anos de bons serviços.
No Jamor, a defesa portista tremeu mais do que o costume, sofreu dois golos estranhos e perdeu. O verbo merecer é estranho... Até porque na época passada, mesmo depois de para além do campeonato ter vencido a Taça UEFA, quem jogou a final da Taça, contra o Leiria, foi Baía.
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