Jesualdo Ferreira
"Não me sinto feliz porque ficou muita coisa por fazer"
JORGE MAIA / ALCIDES FREIRE
O professor Jesualdo Ferreira que é campeão nacional é muito diferente do professor Jesualdo Ferreira que não era?
Não, absolutamente nada. Não havia nenhuma razão para ser diferente. Em absoluto. Nem encontro motivos para poder ser diferente.
O título não mudou nada? Não sente que acrescentou finalmente o que faltava à sua carreira?
Não sei se faltava alguma coisa na minha carreira. Sei que este título permitiu-me alcançar alguma coisa que não tinha conseguido nunca antes. Quer queiramos, quer não, para a avaliação das pessoas, especialmente em futebol, os títulos são fundamentais. Quem não ganha não é reconhecido e, às vezes, mesmo ganhando também não. É mais um elemento que junto ao meu trabalho e à minha carreira que é longa, diversificada, nem sempre numa linha de continuidade que todos gostaríamos e poucas pessoas se podem gabar disso. Mas do ponto de vista pessoal não mudou absolutamente nada.
O professor, nos últimos tempos, não parece uma pessoa feliz. Sente-se injustiçado com as criticas? Está zangado com o futebol?
Zangado, nem por isso. Se me perguntar se estou eufórico, não estou. Estou satisfeito, mas não estou feliz. É um risco do meu temperamento. Também quando me viram perder nunca me viram no buraco, nem deprimido. Não me sinto feliz porque acho que ficou muita coisa por fazer. A dada altura tivemos tudo na mão para fazer muito melhor do que fizemos. Aliás, algumas criticas considero justas. Aceito-as perfeitamente. São justas pelo que as pessoas vêem, mas que não o sejam na causa, que lhes escapa. Depois, há outras críticas com as quais perco pouco tempo, que são de ataque pessoal e de estratégia montada. Aquelas que fizeram ao FC Porto na pessoa do treinador, ao balneário, tentativas para levar até ao fim truques para o FC Porto não ser campeão. Deu-me raiva não conseguir prolongar aquele estado de superioridade evidente.
"Falei aquilo que tinha de falar"
É quase uma tradição deste clube haver um "blackout" por ano. Este ano não houve, mas o professor acabou por ficar algo isolado nas intervenções públicas. Sentiu esse isolamento?
Sentiria se fosse um isolamento interno. Houve uma estratégia do FC Porto de ter pouca intervenção exterior. O treinador do FC Porto falou aquilo que tinha de falar, antes e depois dos jogos. O normal, mesmo que houvesse mais gente a falar.
Mas gostaria que isso tivesse acontecido?
A questão não é essa. Durante muito tempo, muitos anos, toda a gente se habituou a ter figuras do FC Porto a aparecer a dizer coisas. Este ano não aconteceu por razões estratégicas. Teria sido preocupante se não houvesse apoio interno, mas isso nunca aconteceu. Tive sempre o apoio da estrutura que me estava próxima, sobretudo do presidente.
"Eliminação com o Atlético condicionou segunda volta"
Historicamente, o FC Porto tem acusado um abaixamento de forma depois das férias de Natal. Há uma explicação para isso?
Há dois tipos de explicação. Uma sob o ponto de vista metodológico e outra sob o ponto de vista do que é o futebol na sua generalidade. Não há nenhuma equipa no Mundo que consiga manter um registo alto de rendimento durante o campeonato inteiro. Se conhecerem alguma e quiserem referir, eu agradeço. Não é possível. O FC Porto teve uma entrada em cena difícil para os jogadores por razões que são claras. Os jogadores foram fantásticos na maneira como se adaptaram a ter que ganhar e fantásticos na forma como perceberam rapidamente àquilo que o treinador queria. Em conjunto, mais dificuldade, menos dificuldade, fomos capazes de fazer um FC Porto forte, que jogava bem, que ganhava.
E o que que aconteceu depois?
Nessa altura já era visível que havia jogadores que estavam, face aos quatro ou cinco meses que tinham feito, a necessitar de algum descanso. Depois entraram as férias de Natal, entrou o calendário e entrou a confusão.
Mas o professor foi um defensor das férias do Natal, não foi?
Vamos por partes: a dada altura foi claro que se tentou passar a ideia cá para fora de que o responsável pela coisa era eu. Ora, isso é uma coisa irreal. O que se passou foi simples: eu era treinador do Braga e a Liga mandou para todos os treinadores dos clubes, para todos, um pedido para dar a opinião sobre se deveria haver ou não férias, qual era o período e depois qual era o posicionamento dos jogos. E eu fui favorável a que houvesse uma pausa de oito dias para os jogadores, que o campeonato parasse no Natal e recomeçasse a 7 de Janeiro. Agora, não tive interferência nenhuma no posicionamento dos jogos e, especialmente, não fui eu que reduzi o campeonato de 34 para 30. Palavra de honra.
Essa redução foi determinante?
Com a redução do campeonato, a Taça de Portugal assumiu outra importância, de tal maneira que ocupou domingos, algo que não acontecia no passado. No reposicionamento final do calendário apareceu a 7 a Taça, a 14 uma jornada, a 21 a Taça, a 28 jornada, 13 outra vez a Taça, depois paragem para a Selecção Nacional. Houve aqui uma série de situações, que do ponto de vista metodológico entendi que podiam ser boas para o FC Porto.
Porquê?
Porque o FC Porto vinha de uma paragem de oito dias que do ponto de vista da perca de ritmo não é nada de especial e do ponto vista mental era fundamental. O FC Porto tinha reiniciado o seu trabalho um pouco mais intenso e teria depois mais uma semana até à Taça com o Atlético, que na nossa opinião era um jogo para ganhar mesmo que os jogadores sentissem alguma dificuldade. Depois vinha a Liga, de novo a Taça, e mesmo admitindo que aqui o grau de dificuldade seria maior, os jogadores já estariam noutro patamar de preparação... Havia espaços competitivos suficientes e bons para que pudéssemos fazer uma preparação progressiva e termos mais quatro meses normais e de rendimentos superiores. Aliás, eu disse várias vezes que o FC Porto ia ser mais forte a seguir.
E o que sucedeu?
O que sucedeu foi que nessa altura o FC Porto teve algumas lesões, nomeadamente, Lucho, Pepe e Bruno Alves. Houve jogadores que tiveram mais dificuldade em recuperar por razões que se prendem com as suas próprias características e finalmente, aconteceu a eliminação com o Atlético, que teve duas consequências: uma de natureza psicológica porque o FC Porto não perdeu um jogo, perdeu um título e depois porque isto arrasa do ponto de vista do bem estar. Apesar disso o FC Porto recupera, ganha ao Aves e repõe as diferenças para os adeversários mas a seguir há tem Taça outra vez e fomos obrigados a parar, o que mexeu com o nosso planeamento. A seguir chegou a Leiria e fez o jogo que vocês conhecem. O FC Porto entrou forte e deveria ter ganho, mas foi claramente prejudicado nesse jogo e aconteceram situações que me obrigaram a falar pela primeira vez em arbitragem. Depois foi a derrota em casa com o Estrela da Amadora. Essas três derrotas num espaço curto de tempo, com as férias como cenário, levaram as pessoas a concluir pela falta de preparação da equipa, que nunca existiu.
RUI MOREIRA
Se o Quaresma for vendido, o FC Porto jogará em 4-4-2?
"Toda a gente sabe que esse é o sistema de que gosto. Sabemos também que são os jogadores que potencializam um sistema. O Quaresma, goste-se ou não, foi considerado o jogador mais valioso do campeonato. Se ficar no FC Porto, vamos de ter de o aproveitar ao máximo; se em 4-4-2 ou 4-3-3, vamos ver. Os jogos que fizemos em 4-4-2 foram bons: Naval e Nacional, no Dragão, Benfica na Luz e Chelsea em Inglaterra. A optar por esse 4-4-2, terá de ser trabalhado".
RODOLFO REIS
Tendo sido Paulo Assunção um dos jogadores mais regulares da época, por que motivo o excluiu da convocatória do último jogo, o da festa?
"Naquela altura, entendi que o Raul Meireles podia desempenhar melhor aquele papel e também porque pretendia ter no banco jogadores para outras alternativas. O Rodolfo Reis, que foi treinador, sabe que essas questões são importantes e que há perguntas que não se devem fazer. E há respostas que não se devem dar".
PÔNCIO MONTEIRO
Encontra alguma explicação para que o FC Porto, que tem tradições a esse nível, não tenha conseguido, nos últimos anos, tirar partido da formação?
"A ascensão dos jogadores numa equipa de topo é sempre mais difícil. Depois, acho também que há muitas deficiências na formação em Portugal, não é só um problema do FC Porto. A eliminação das equipas B foi um erro crasso. Em Portugal, 99 por cento dos jogadores que acabam os juniores não têm condições para jogar numa equipa principal. Não por falta de qualidade, mas por não estarem preparados para aquele nível de exigência. Se uma equipa estiver em reconstrução, como era o caso deste FC Porto, torna-se ainda mais difícil, porque a sustentabilidade de um jogador novo exige que a equipa tenha respostas para permitir uma evolução tranquila. Basta ver na história do FC Porto em que moldes se processaram as entradas de um Jaime Magalhães, João Pinto, Ricardo Carvalho, Jorge Costa, Sérgio Conceição".
MIGUEL SOUSA TAVARES
Teve conhecimento prévio e assume a responsabilidade pelas contratações de Mareque e Renteria?
"Assumo-a em absoluto".
MIGUEL GUEDES
Considerou correcta a insistência em Lucho González, apesar das evidentes dificuldades físicas? Gostaria de saber também se sentiu o que o FC Porto é um clube acossado.
"Pela forma como o FC Porto jogava, entendia que, mesmo não estando a cem por cento, Lucho desempenhava melhor essas funções. Quanto à segunda parte, senti esse ambiente e julgo que vou sentir mais no futuro. O Miguel sabe que, para se ter consciência dessas coisas, é preciso sentir muito o clube e, neste momento, grande parte dos jogadores têm poucos anos de FC Porto. O processo de se saber o que é perder ou ganhar no FC Porto é diferente de outro clube qualquer".
ÁLVARO MAGALHÃES
Apesar de ter ganho o campeonato, ainda não conseguiu conquistar os adeptos do FC Porto. Tem alguma explicação para isso?
"Não tenho. Não consegui conquistá-los, mas fui campeão".
"Valoriza-se quem perde e desvaloriza-se quem ganha"
Dizem que o FC Porto tinha de ser campeão porque investe mais, porque tem o plantel mais caro. Sentiu essa pressão?
Não sei se o plantel é mais caro. Há muitas maneiras de fazer contas. Pelo que sei, se calhar não é. É uma forma de pôr o problema. Se calhar por essa lógica não podia ter sido campeão europeu, porque é seguramente mais barato do que os adversários com que jogou naquela altura. São argumentos para desvalorizar. Em Portugal, há muito a ideia de desvalorizar quem ganha e valorizar quem perde. E como são sempre os mesmos que ganham, são sempre os mesmos que beneficiam desses argumentos. Quem são as três equipas que lutam pelo título? Quais são as que assumem maior responsabilidade nessa luta? FC Porto e Benfica. Todos percebemos onde se joga mais forte e onde se ganha mais vezes. O FC Porto é o que ganha mais vezes, os outros passam um pouco ao lado desta linha. O Sporting perdeu o campeonato e, apesar disso, toda a gente saiu extremamente valorizada desta temporada. O FC Porto ganhou o campeonato, a Supertaça, chegou aos oitavos-de-final da Liga dos Campeões e, curiosamente, sai desvalorizado.
Mas essa falta de pressão não pode ser nefasta para os outros grandes, desresponsabilizando-os?
Eu tenho dificuldade em lidar com o empate e fico doente quando perco. Fui sempre assim. Por isso, muitas vezes, noutros clubes, no momento em que sentia que não pode ir mais além, tentei esticar a corda mas não havia mais fazenda para rasgar. Como profissionais estamos sujeitos à pressão e é o melhor que pode existi para evoluir. Este contexto existe no FC Porto e só quem cá esta pode perceber isso. O FC Porto tem um leque de conquistas que dificilmente o treinador que venha para cá bate, só soma. É um quadro diferente do que existe nos outros clubes portugueses.
"Chelsea mostrou que tínhamos qualidade para jogar na Europa"
Depois da primeira experiência como treinador na Liga dos Campeões, qual é a sensação que fica?
Fiquei com a sensação que o FC Porto não era tão fraco como faziam querer. Vi com satisfação o facto do FC Porto não ter sido esmagado pelo Chelsea. Durante um mês a imprensa preparou páginas fantásticas: Era o Mourinho em cima, eu em baixo a olhar para o rei; Vem aí a máquina trituradora e o treinador campeão que vai esmagar o FC Porto e o Jesualdo. Em vez de promover o seu produto, a imprensa portuguesa preferiu inverter essa lógica apoiando uma equipa estrangeira. Depois o FC Porto fez um bom jogo no Dragão e, de um momento para o outro, já tinha a obrigação de ganhar em Londres. A verdade é que fizemos um excelente jogo. Jogámos com uma das equipas melhores do Mundo e só ficamos em desvantagem a oito minutos do fim, depois de sofrermos um golo inexplicável. Os jogadores aprenderam que não há limites para se ser ambicioso e se poder ser campeão.
Acredita que teria sido diferente se o adversário não fosse o Chelsea? É que o FC Porto podia ter ganho ao Arsenal...
Não sei. Não sou capaz de responder a essa pergunta. Tenho de admitir que talvez sim. O que foi importante para o FC Porto e para mim foi ter jogado com o Chelsea. Com o Chelsea fomos capazes de perceber que tínhamos capacidade para competir na Europa apesar de virmos de um processo normal de reconstrução. O FC Porto fechou um ciclo ganhando a Liga dos Campeões e no ano seguinte mudaram-se muitas coisas. Agora estamos a reconstruir uma equipa para podermos voltar a sonhar com esse tipo de palcos.
Acha que poderia ter sido melhor jogar a UEFA?
É sempre melhor jogar no alto. Ir à Liga dos Campeões, mesmo sendo-se eliminado, é melhor. É dançar num salão diferente. A música é outra. Quem quer crescer tem de crescer nesses ambientes. Deixe-me só dizer uma coisa. Curiosamente, a dada altura os jogadores diziam-me que embora o Benfica estivesse na UEFA e nós na Liga dos Campeões, parecia pelo que dizia a imprensa que nós é que estávamos numa competição inferior. Também isto, do ponto de vista da motivação, tem alguma graça.
A razão para os 2562 minutos do argentino
"Não tinha mais ninguém como o Lucho"
Lucho não poderia ter descansado? Foi dos mais utilizados e houve alturas em que parecia nitidamente cansado...
Lucho saiu em algumas partes dos jogos. Foi poupado em alguns jogos. Não terá tido o rendimento idêntico ao do ano passado, mas foi fundamental para o FC Porto. Marcou 12 golos: nove no campeonato e três na Liga dos Campeões. Assim se percebe porque é que ele jogou tanto e porque é que eu entendi que devia jogar.
Mas então não havia uma alternativa no plantel?
Na estrutura da equipa, com as características do Lucho e para aquilo que exigo de um médio que joga naquelas condições, o FC Porto não tinha mais ninguém a não ser o Jorginho e por isso mesmo é que o Jorginho, a dada altura, apareceu mais vezes. Não apareceu mais cedo porque esteve lesionado muito tempo, mas o 4-3-3 do FC Porto obriga os médios interiores e os laterais a serem jogadores de grande profundidade e isso tem custos.
"FC Porto vai precisar de jogadores mais robustos"
Não fez o plantel, por isso pergunto: faltavam-lhe jogadores com características diferentes no plantel?
Disse e insisti que o plantel do FC Porto era o que eu queria e foi com ele que fui campeão. Estes jogadores são os que eu gosto, mas, trata-se danatural evolução, o FC Porto vai ter que introduzir outro tipo de jogadores, para manter indíces de estabilidade mais altos.
Que tipo de jogadores?
O FC Porto vai ter que acrescentar à sua estrutura jogadores mais robustos do ponto de vista físico e mental para ter uma equipa mais competitiva. E isso sem abandonar aquilo que é fundamental, que são jogadores evoluídos táctica e tecnicamente. O futebol de hoje tem um tempo de decisão cada vez mais curto, tem cada vez mais intensidade táctica e precisa de jogadores capazes de decidir rápido. Quando acontece esse equilíbrio entre capacidade física e capacidade de decisão, as equipas são mais competitivas. Aliás, tradicionalmente, este clube sempre se habituou a ter equipas muito agressivas e competitivas. E isso faz parte do que é a história do FC Porto. É preciso chegar a esses patamares com os jogadores que temos e com alguns que possam entrar.
Tem medo de perder alguns?
Há dois sentimentos que tenho. Tenho algum receio de perder alguns jogadores de que se fala muito. É um sentimento de perda de que ninguém gosta, porque ninguém gosta de perder coisas boas. Mas há outro, porque tenho satisfação por ver que o nosso trabalho serviu para valorizar os nossos jogadores a nível internacional, por forma a poderem constituir um bom negócio para o FC Porto.
Quaresma seria uma perda irreparável, por exemplo, ou permitir-lhe-ia jogar em 4-4-2, o seu sistema favorito?
Tenho o meu sistema favorito, nunca o escondi e tenho os métodos definidos para isso. O FC Porto defende zona e é uma equipa de transições rápidas. Não é uma equipa que procure o ataque posicional como regra, é uma equipa que apoia os espaços na exploração das alas e na zona frontal. O FC Porto tem mais dificuldades quando tem menos espaço, como qualquer equipa, e aí são fundamentais duas coisas: capacidade para fazer circular a bola, e temos jogadores para isso, e reservar-se defensivamente, para manter o equilíbrio. Jogar em 4-4-2 ou 4-3-3 depende sempre dos jogadores disponíveis para isto, mas o método não vai mudar. Agora, tendo jogado a época toda em 4-3-3 rotinou posições, estruturas e combinações de ataque, trabalhou para o 4-3-3.
Dos que entraram agora, como avalia Lino e Nuno Espírito Santo?
Não quero falar muito de falar sobre os jogadores que entram nem sobre os que saiem. Para falar do Lino e do Nuno, vamos ter muito tempo.
E sobre os miúdos, Castro, Ventura e Rui Pedro?
Sobre eles posso falar, porque são jogadores que trabalharam muitas vezes connosco durante o ano. São jogadores que eu reconheço e que coorporizam um projecto do FC Porto. Estarem connosco não é uma maquilhagem. São jogadores de qualidade, e que precisam de um espaço de afirmação. O percuros deles na formação terminou, mas o espaço nos seniores ainda é muito exigente e temos que fazer uma trasição tranquila para não se perderem jogadores.
O FC Porto não tem conseguido fazer essa transição de uma forma regular. Porquê?
Porque a responsabilização no FC Porto é maior. Quando a responsabilização é menor, é mais fácil os miúdos com mais jeito aparecerem a jogar, porque se as coisas correrem mal, a cobrança é menor.
"Houve jogadores que evoluiram muito"
Sente-se orgulhoso pela evolução de alguns dos jogadores do FC Porto?
Acho que, de uma maneira geral, houve jogadores que evoluíram muito esta temporada, desde que nos vimos pela primeira vez. E cito o caso do Bosingwa, que era um jogador indefinido na última temporada. Este ano definiu-se como lateral, com um potencial tremendo e ainda muito jovem. O Pepe também fez evolução espantosa. Deixou de ser jogador sozinho e passou a ser um jogador de colectivo. Passou a jogar numa estrutura que é o normal no futebol da Europa e do Mundo. Integrou-se muito bem, com estabilidade emocional muito grande e um domínio táctico muito bom. O Bruno Alves fez a evolução que eu esperava que fizesse. A ideia que eu tinha dele era a de um potencial enorme à espera de explodir e foi o que aconteceu, dando origem a um grande central, capaz de dominar a sua emotividade.
Custou não pôr o Pedro Emanuel a jogar com o Aves?
Custou muito, mas não podia fazer outra coisa. Era um jogo que tínhamos de ganhar para garantirmos o campeonato, e por isso mesmo era um jogo em que tínhamos de utilizar os nossos jogadores em melhores condições. O Pedro Emanuel não tinha as condições para estar num jogo com essas características. Se o FC Porto já tivesse garantido o título, seria certamente utilizado. Ele e o Paulo Ribeiro, que não jogou mas treinou sempre como se fosse o titular. Para mim, são campeões também.
O que acontceu com Adriano? Em Dezembro dava-se por perdido e aparece a ser decisivo nesta fase final da temporada...
O Adriano entrou na equipa no início, passou por um momento menos bom e o Postiga ganhou a posição. Ainda por cima lesionou-se, voltou apenas nos finais de Novembro início de Dezembro e nessa altura, como não jogava, começaram a correr as notícias de que ia sair. Houve uma altura em que falei sobre isso com ele e em que ele me disse que não estava interessado nas propostas que existiam e que queria ficar. E ficou.
Perguntaram-lhe se era dispensável?
Não. A verdade é que ele foi muito solicitado por outros clubes nessa altura. Falei com ele sobre isso. Disse-lhe que achava que ele tinha de jogar, no FC Porto ou fora e que a decisão final era dele. Decidiu ficar, e acabou por entrar na equipa.
Em contrapartida, Postiga quebrou na segunda volta. O que aconteceu?
Sinceramente, não sei, não tenho uma explicação clara para o que aconteceu. Talvez a falta da pré-temporada, porque houve uma altura em que entrou em défice físico, com nítidas dificuldades para recuperar e a demonstrar falta de frescura. E depois, no reinício depois do Natal, não conseguiu pegar e acabou por entrar numa crise de confiança que acabou por ser decisiva naquela altura.
"Se Renteria marcasse ter-se-ia consagrado"
Renteria e Mareque foram os reforços contratados em Dezembro, mas nenhum se conseguiu afirmar. Tem uma explicação para isso?
Na pausa de Inverno, tentámos fazer o reforço dos jogadores do meio-campo. O Anderson estava fora, havia outros lesionados e quisemos acrescentar outro vigor ao meio-campo. Não foi possível e voltamos a atenção para preocupações futuras. O Marek Cech é um jogador que também faz meio-campo, até mais talhado para isso do que para lateral. De resto, é agressivo, sobe bem e podia ser o importante no ataque. E nesse sentido precisávamos de um lateral. A contratação do Lucas, passava pela tentiva de encontrar um lateral com algumas características ofensivas e que garantisse alguma evolução. Mas não é fácil comprar no mercado de Inverno. Não é fácil os sul-americanos chegarem cá nessa altura e conseguirem afirmar-se de imediato. O mesmo aconteceu com Renteria. Foi um dos melhores jogadores do Mundial sub-20, tem um potencial enorme, mas deparou-se com uma concorrência forte no interior do plantel pela posição.
Renteria podia ter mudado tudo se tivesse marcado na Luz?
Já disse isso. Na Luz o que se passou foi simples. O Benfica tinha grande potencial no losango de meio-campo, especialmente num jogador chamado Petit.A estrutura habitual do FC Porto libertava-o, ou então obrigava o recuo de um avançado e isso diminuiria a pressão sobre os centrais do Benfica, que na altura demonstravam algumas fragilidades. Entendemos que devíamos preencher uma zona intermédia para pressionar o Petit e nesse sentido fizemos entrar Jorginho. E dominámos o jogo. Na segunda parte, o Benfica canalizou o jogo pelo lado esquerdo, criando perigo. Tinha duas hipóteses. Uma era largar o Petit e fechar a direita, ou manter o Petit fechado e deixá-los subir na esquerda. A decisão foi fechar a direita, forçando o Benfica a investir mais jogadores no ataque e abrindo espaços para o nosso contra-ataque pelo meio. O Jorginho entrou por aí uma vez e podia ter feito golo. Renteria, pelo seu potencial físico podia jogar nas diagonais longas e podia encontrar essa zona. Foi para isso que entrou e foi isso que quase conseguiu naquele lance. Se o tem feito, ter-se-ia consagrado. Assim, saímos todos mal, ele e eu.
Equipa técnica é para manter
"Não há razões para mudanças"
Vem sendo noticiadas possíveis alterações na equipa técnica, nomeadamente a saída de Carlos Azenha...
A equipa técnica trabalhou toda a época com fantasmas. Alguma imprensa, jornalistas e jornal foi montando as coisas e ficou uma coisa de fora, a peça do Carlos Azenha. Isso do Azenha devia ter entrada muito antes. Só se foi para prejudicar o jogo com o Leixões.
Depreendo que não estão previstas alterações
Neste momento não. Se o quadro se mantiver como está neste momento, não há razão para mudanças.
Uma semana depois de ser campeão foi questionado publicamente se continuaria no FC Porto.
Quando me perguntaram isso não respondi e fui embora. Essa pergunta até tem lógica perante o que foi sendo publicado na imprensa. tem lógica. Agora, era o que faltava eu andar com as mãos no ar a dizer que era mentira.
"Foi indecente o que fizeram a Baía e à equipa técnica"
Qual foi realmente o papel de Vítor Baía durante a época?
Há dois aspectos que gostaria de comentar sobre Vítor Baía. Primeiro, a importância dele enquanto jogador e capitão; em segundo, o que se quis fazer à volta de Vítor Baía e da sua posição no FC Porto. São coisas diferentes.
Como assim?
Quando entrei no FC Porto a situação de Vítor Baía não era fácil. Não é uma situação confortável ser o jogador titulado que é e estar numa situação de subalternidade. Não é fácil em final de carreira manter-se um comportamento irrepreensível, mas ele teve-a em relação a treinadores, jogadores, dirigentes e, essencialmente, a sua relação com o FC Porto instituição. Como jogador cumpriu as funções, sempre foi um enorme profissional.
Mas, no seu entender, o que foi que se quis fazer acerca da posição de Baía no FC Porto?
Essa é a outra parte da resposta. A dado momento o Vítor Baía foi colocado como adjunto, até como treinador. Sem saber, era um mister aqui dentro. Ora, todos sabemos, da equipa técnica fazem parte dois ex-jogadores do FC Porto de grande prestígio, o João Pinto e o Rui Barros, pessoas que não mereciam isto. O Wil Coort, seu treinador específico, também não merecia. E havia ainda dois treinadores, o Jesualdo e o Azenha, que tinham funções claras. A equipa técnica foi, durante algum tempo, colocada em causa por um fantasma que quiseram criar. Portanto, todo e qualquer relacionamento com o Baía era considerado como algo negativo. Acho que isso foi indecente para o Baía, porque se serviram dele para tentar chegar a outras áreas e para a equipa técnica, que é boa, fantástica e formada por elementos de grande qualidade humana e técnica.
A eventual saída do plantel é algo que o preocupa?
Essa é algo que diz respeito ao Baía, à administração e só depois, eventualmente, poderei dar alguma opinião.
Mas não lhe preocupa, por exemplo, a gestão de balneário?
Esteja ele ou não, teremos de fazer essa gestão. Não vamos entrar em stress, no momento próprio resolveremos.
Mas, sem Baía, Pedro Emanuel poderá ser importante?
O FC Porto viveu uma situação atípica. Dos quatro capitães, Baía não jogava, embora estivesse sempre presente, o Pedro não jogava e passou boa parte do tempo no departamento médico, e o Ricardo Costa não jogava. Apenas o Lucho fazia parte do onze. Mas também isso o grupo foi capaz de vencer. Este plantel foi fantástico, de uma seriedade e capacidade profissional impecável, mostrando-se capaz de resolver coisas negativas, conflituosidades que foram resolvidas de forma serena.
Uma dessas conflituosidades conhecidas foi o caso de Bosingwa. Como a resolveu?
Naturalmente. Esteve fora alguns jogos, voltou, voltou bem e agora está na Selecção. Fantástico. Há situações em que as pessoas tem um comportamento menos ajustado e nós fomos resolvendo. Agora, fico satisfeito por o ver na selecção.
A reacção de Rui Costa após o Benfica-FC Porto
"Acho que não merecia"
O que aconteceu no túnel do Estádio da Luz entre si e Rui Costa?
É muito simples de explicar. Tive sempre muito carinho e respeito por ele, trabalhámos juntos desde quando ele era um menino, ainda no início da carreira dele. Durante muito tempo mostrávamos essa consideração quando os encontros se proporcionavam. Nessa dia, aconteceu que ainda ia a caminho da entrevista rápida, o Rui Costa estava muito perto dessa zona e eu dirigi-me a ele para o cumprimentar. A verdade é que ele, e há testemunhas, teve uma atitude desabrida, pouco educada até, falando de diversas coisas, acusando-me de já não ser o mesmo. Acho que não merecia isso. Se eu tivesse ripostado, entrando na mesma telenovela, teríamos tido uma coisa fantástica. O que eu disse, perante a reacção dele, foi que falaríamos depois, ao que o Rui Costa respondeu que não, que falava já, que eu já não era o mesmo. Depois disso fui falar para a televisão e quando voltei o Rui Costa já lá não estava.
O que transpareceu cá para fora é que não o cumprimentou...
Isso não corresponde à verdade. Aliás, fui eu que o quis cumprimentar. Depois também criou-se a ideia de que eu não queria falar ali, o que também não é verdade.
Tem alguma explicação para o sucedido?
Não tenho, talvez o Rui Costa tenha lido ou ouvido alguma coisa que eu tivesse dito e não gostasse. Ou, se calhar, o empate e a não decisão do Benfica foi perturbador.
Acha que terá havido nalgumas pessoas do Benfica a expectativa de que o professor não defendesse o FC Porto da forma como defendeu?
Não faço ideia. Devo dizer que, em relação ao Rui Costa, fiquei surpreendido. Em nenhum momento do meu trajecto, antes de entrar no FC Porto ou depois, dei algum motivo para que o Rui Costa tivesse uma reacção daquelas. Admito que exista, mas, se existiu, ele deveria reagir de uma forma diferente.
"A primeira volta foi das melhores de sempre da história do clube"
A conquista do título de campeão foi mais complicado do que o que chegou a pensar que poderia ter sido? Em Dezembro toda a gente pensava que o FC Porto já era campeão...
Creio que o campeonato este ano foi atípico. Foi atípico na primeira volta: toda a gente percebeu que as 15 jornadas iriam mudar a face do campeonato. Aliás, eu disse isso algumas vezes. Também se percebeu, a dada altura, que o os jogos fundamentais iam ser discutidos entre os três grandes, o que normalmente não acontece. A segunda volta melhorou um pouco. Acho que as equipas com o tempo foram melhorando também. E aquilo que se notou mais foi o decréscimo de pontos e de qualidade do jogo do FC Porto durante essa segunda volta. A verdade é que perdemos muitos pontos, mas também é verdade que os outros nunca conseguiram chegar acima de nós.
Não acha que é normal, considerando aquela vantagem em Dezembro, que as pessoas sublinhem a quebra do FC Porto na segunda volta ?
É normal, mas vocês têm de concordar comigo: se calhar o que foi menos normal foi a primeira volta do FC Porto, ainda que tenha sido justa. A primeira volta do FC Porto indiciava um claro campeão. Recordo-me perfeitamente a imprensa naquela altura dizia: acabou o campeonato, o FC Porto é campeão. Eu, pelo contrário, sempre disse: atenção, não acabou o campeonato, atenção porque os outros adversários são muito fortes, o campeonato ainda tem mais 15 jogos e as dificuldades vão aumentar nas últimas dez jornadas.
Já disse que é normal as equipas terem uma quebra. A quebra do FC Porto surge numa altura perigosa, demasiado perto do fim...
Eu acho que a queda do FC Porto, ou melhor, o abaixamento do FC Porto também tem a ver com aquilo que foi a anormalidade da primeira volta do FC Porto. Não se podem fazer comparações, porque uma coisa é fazer 15 jornadas, outra é fazer 17, mas creio que quando o FC Porto virou a primeira volta com 13 vitórias, um empate e uma derrota, isso constituía um dos melhores registos de sempre da história do clube. Acho que o FC Porto fez uma primeira volta muito boa, por responsabilidade nossa e também por falta de qualidade competitiva de grande parte das equipas com quem nós jogámos, o que já não foi verdade na segunda volta. A própria oscilação do FC Porto também foi aumentada pelas dificuldades que as outras equipas criaram, nomeadamente, a subida do Benfica e, a sete jornadas do fim, só a sete jornadas do fim, a subida do Sporting. As outras equipas como o Braga, o próprio Belenenses, ficaram a 20 pontos, mais ou menos, do FC Porto. Essas equipas nunca entraram na corrida directamente , o que não aconteceu em anos anteriores.
Houve mais equilíbrio entre os três grandes?
Que me recorde e tirando como excepção o campeonato de há dois anos, em que o Benfica ganhou o campeonato, não me recordo nos últimos anos de termos as três equipas grandes a discutir o campeonato até ao fim. Objectivamente, no ano passado, o FC Porto teve a concorrência do Sporting até quatro jornadas do fim, mas o Benfica nunca existiu como competidor directo. Se formos ao ano anterior o Benfica é campeão, mas se formos ao outro ano anterior nem Sporting nem Benfica conseguiram acompanhar o FC Porto. Há quatro anos, ficaram a dez, a sete ou a onze. Essa subida de rendimento dos adversários também influenciou o campeonato. Afinal, o FC Porto fez 69 pontos e se não estou em erro dá 2,3 pontos por jogo. É uma média muito boa. Não sei se outros campeonatos terão campeões com médias dessas.
Sentiu que se fez justiça naquele jogo com o Aves?
Quando os nossos adversários directos dizem que o FC Porto foi o justo campeão, não posso ter outra opinião. O FC Porto foi melhor do que o Sporting e o Benfica durante nove ou dez meses. Se tivemos momentos maus, eles também tiveram, só que eles tiveram mais.
"O FC Porto não é uma equipa alta"
Nos pontapés-de-cantos a equipa do FC Porto defende toda, à zona. Treina assim durante a semana?
Trata-se de uma bola parada contra nós e a primeira preocupação que tenho é não sofrer golo. Das duas, ou optamos por defender bem ou pensamos que naquele lance podemos fazer golo. O FC Porto, nas primeiras 15 jornadas do campeonato e seis da Champions, sofreu um golo de bola parada. Foi com o Benfica aqui. A partir do jogo com o Marítimo, o FC Porto sofreu mais de bola parada. Mas não é nada significativo.
Para além dos golos sofridos, não tem a sensação que a defesa do FC Porto é excelente e parece muito mais frágil nos lances de bola parada?
A questão das bolas paradas prende-se com a equipa toda. Ou defendemos só com os quatro defesas e o guarda-redes e o adversário mete lá seis jogadores e não sei como se resolve o problema, ou metemos lá outros jogadores que não são defesas, são médios, avançados e extremos. Por isso é que falei sempre em defender bem como equipa. O FC Porto não é uma equipa alta. E a altura, o peso e a robustez física são fundamentais no futebol actual.
Mas é evidente que os centrais têm o domínio do jogo aéreo durante a maior parte do jogo, mas perdem-no nos lances de bola parada…
Porque nas bolas paradas não defendem da mesma forma, não defendem na mesma posição, estão parados. Os lances exigem outro tipo de concentração. É muito difícil de treinar porque ninguém gosta de defender. Os dois centrais do FC Porto são altos, os laterais são relativamente altos mas dominam bem o jogo pelo ar, mas daí para a frente os jogadores não são muito altos e esses lances reflectem isso mesmo.
Mas a defender normalmente acontece o mesmo, é necessário um bom posicionamento táctico…
Exactamente, porque os jogadores do FC Porto não são jogadores particularmente agressivos, nem vigorosos, nem fisicamente potentes. Não são jogadores de choque. Para defendermos bem, tínhamos que ter uma grande agressividade táctica para substituir essa agressividade natural.
"Magoa-me um bocadinho a colagem ao Benfica"
Na entrevista à SIC a sua opinião sobre os adeptos do Benfica criou alguma celeuma. Acho que isso poderá afastá-lo da imagem que criou no Benfica?
Eu percebo onde quer chegar. Magoa-me um bocadinho que tentem servir-se do meu passado como treinador para fazer uma colagem ao Benfica pela negativa. Custa-me, não gosto. Posso entender que as pessoas se refiram a isso, já não aceito muito bem que constituam uma linha de comportamento por ter sido treinador do Benfica, como se a minha vida tenha de ficar para sempre ligada onde trabalhei, onde cumpri o meu contrato, fiz as minhas obrigações. Sei que farão a mesma coisa quando um dia sair do FC Porto. São situações que me criam alguma mágoa enquanto treinador do FC Porto, clube onde tenho um enorme prazer em estar. Acho que ficou claro a minha satisfação por ter chegado aqui. Não sou uma pessoa de fazer grandes cenas, acho que sou, nessas situações, uma pessoa clara, aberta. Sou puro.
Mas no futuro...
Quanto ao futuro... Tenho a idade que tenho, são 33 anos no futebol, penso continuar no futebol mais algum tempo. Não perspectivo a minha carreira em Portugal para além do FC Porto, mas o que vier a seguir não constituirá problema. Agora, uma coisa é certa: estou no FC Porto, sou do FC Porto e defendo a minha equipa até aos limites. Aí não dou hipóteses.
"Ganhar no FC Porto triplica a satisfação"
Dias depois do FC Porto-Benfica disse que tivera a premonição de que o Anderson se lesionaria. Foi mesmo assim?
Disse isso relacionado com o que o Fernando Santos dissera depois do jogo do Benfica com o Estrela, em que pressentira ao intervalo que um jogador seria expulso. Não considerei correcta essa expressão e por essa razão também tive um pressentimento. Houve quem entendesse que estaria a fazer uma acusação ao Katsouranis, o que não corresponde minimamente à verdade. O Benfica não gostou e eu também não gostei de ouvir que o jogo ia acabar com dez e determinado jogador não iria estar no Dragão. Mas por se tratar de uma lesão, a frase ganhou outra dimensão. Mas o que disse foi claro, não me parece que foi nada do que as pessoas comentaram.
Já agora, o que sentiu no momento da lesão de Anderson?
O que achei pior foi não ter havido falta, nem punição disciplinar. Foi uma jogada normal. Isso é que me preocupou e ainda mais preocupado fiquei quando, algumas jornadas depois, vi o Quaresma abrir os braços para se libertar, bater na cara do adversário e ser imediatamente expulso. Não achei muito normal, como não achei que o Tixier não tivesse visto o amarelo quando partiu o maxilar do Quaresma.
Considera que a presença do FC Porto no processo Apito Dourado acaba por influenciar os árbitros?
Sobre isso só me posso reportar ao que vocês foram escrevendo durante a época. Muita gente escreveu e disse isso objectivamente, que o FC Porto estaria a pagar, não sei bem o quê, que não estaria a ser devidamente julgado.
Preferíamos saber o que pensa
O que senti é que houve muitos jogos em que os árbitros reagiram com critérios diferentes. Por que razão? Não sei.
Sentiu-se prejudicado em caso de dúvida?
Houve muitos lances em que, em caso de dúvida, sabíamos que o FC Porto não iria beneficiar desses lances.
Após o jogo em Leiria referiu-se, pela primeira vez na época, ao desempenho da equipa de arbitragem
De facto falei duas vezes em arbitragem durante toda a época. Em Leiria e cinco dias depois do Benfica-FC Porto, quando me perguntaram se achava que o golo do Benfica tinha sido em fora-de-jogo. Como não sou cego, disse que sim. O que resultou numa polémica tremenda. Como deu polémica, aproveitei para dizer mais algumas coisa de que não gostei nesse jogo. Foram dois jogos determinantes nesse aspecto de condução de arbitragem. Estou seguro que mesmo o senhor Pedro Henriques, árbitro muito liberal, teria marcado falta, se fosse fora da área do Sporting, na entrada do Polga sobre o Pepe que ocorreu mesmo no final do jogo. Só que na altura era complicado e passou. Quando vejo durante toda a época um clube falar sistematicamente no Apito Dourado e outros falarem do lance da mão do Ronny... E mais, como por exemplo ler que o Sporting teria sido campeão se este campeonato tivesse sido disputado no sistema de dois pontos por vitória...
O que pensa disso?
São coisas ridículas, mas dentro da campanha que foram fazendo relativamente à campanha do FC Porto. Então essas contas dos dois pontos, bem, de facto nunca me preocupei com isso. Mas, não percebo que o golo do Ronny tivesse percorrido todo o campeonato.
A expressão tantas vezes utilizada por responsáveis do FC Porto "de que foi uma vitória contra tudo e todos" é apenas um lema ou, no seu entender, reflecte uma realidade?
Acho que o FC Porto, como clube grande que é, o clube que nos últimos 20 anos mais títulos ganhou, é aquele que é menos apoiado pelo que faz. Senti desde que trabalho aqui que ganhar no FC Porto redobra, triplica a satisfação, mas também obriga todos a trabalhar ainda mais. Sentimos que para ganhar temos que ser muito mais fortes. E o FC Porto tem sido...
Mercado português e jogadores "europeus" são os que mais interessam
"Plantel com menos de 27 jogadores"
Questões práticas: o plantel terá 27 jogadores?
Menos, à partida. Somando ou subtraindo os miúdos, não chegará a esse número.
Pretende jogadores com conhecimento do futebol português? Isso é relevante?
Há que manter um equilíbrio da equipa. Por outro lado, é importante não perdermos de vista o mercado e o FC Porto tem uma porta aberta para efectuar transacções. Sentimos que é mais difícil, num patamar intermédio, escolher bons jogadores entre milhares. É bem mais fácil escolher entre cinco ou seis, como acontece com os maiores clubes. Isso obriga-nos a ter um departamento de prospecção, que foi notável, a funcionar todo o ano. Queremos encontrar soluções que produzam efeito rapidamente. Os mercados português e o dos jogadores que já estão na Europa são os que mais nos interessam, porque não há adaptação, nem um processo de aprendizagem tão longo. Há rotinas e métodos assimilados, o que é diferente quando se recorre ao mercado africano ou ao sul-americano. Mas, o FC Porto nunca recusa um bom negócio, venha ele de onde vier.
Mas a intenção é ter um FC Porto mais forte...
Admitimos que possa até ser um FC Porto diferente, porque, atenção, o fim da linha desta fase de mercado é apenas a 31 de Agosto. O processo tem de ser equilibrado: a linha de pensamento tem de ser contínua e conjunta para evitar o erro.
Preferência pelo mercado português e europeu
Sobre contratações Jesualdo Ferreira disse quer "encontrar soluções que produzam efeitos rapidamente", em detrimento de jovens que necessitem ser trabalhados. Mas não é tudo. Também houve elogios para o departamento de prospecção. "É difícil escolher, num patamar intermédio, bons jogadores entre milhares de possibilidades. É bem mais fácil escolher apenas entre cinco ou seis, como acontece nos grandes clubes. Isso obriga-nos a ter um departamento de prospecção de grande qualidade, como é o caso", começou por referir, antes de entrar numa análise mais detalhada. "Queremos encontrar soluções que produzam efeitos rápidos. Os jogadores que estão em Portugal ou na Europa são os que mais nos interessam, porque não necessitam de tempo de adaptação. Há rotinas e métodos assimilados, o que não acontece quando se recorre ao mercado africano ou sul-americano. Mas o FC Porto nunca recusa um bom negócio, venha de onde vier". Jesualdo referiu ainda que, "à partida", o plantel terá menos de 27 jogadores, mesmo somando os "miúdos" Castro, Rui Pedro e Ventura.
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