JORGE MAIA
Luís Filipe Vieira quer que Fernando Gomes se retrate. A coisa é mais ou menos assim: ou o administrador da SAD portista se retrata - e não se trata aqui de tirar um autoretrato - ou o Benfica não cede nem um bilhete ao FC Porto para o clássico da próxima jornada. Pode parecer uma medida drástica, talvez até dramática, mas só pode ter uma boa justificação. Afinal, Luís Filipe Vieira é uma pessoa razoável.
Tenho a certeza disso desde que, há cerca de um ano e meio, disse que o Benfica havia de ser o maior clube do Mundo num prazo de... três anos. Ora, sendo Luís Filipe Vieira uma pessoa razoável, só faz sentido que Fernando Gomes tenha dito algo de muito grave, de forma leviana, perfeitamente injustificada e certamente ofendendo a grande instituição que o Benfica já é, mesmo que ainda não seja o maior clube do Mundo.
E o que disse, afinal, Fernando Gomes a propósito da intenção manifesta pelo clube encarnado de ceder apenas 1008 bilhetes ao adversáro?
Que "se o Benfica não vai cumprir os regulamentos, isso preocupa, de uma forma geral, a indústria do futebol". Mas não se ficou por aqui no descaramento e acrescentou que "o espectáculo do futebol é para ser vivido de forma intensa entre a equipa visitada e a visitante e coartar a possibilidade dos adeptos desta última estarem no estádio não é forma de defender a actividade". Mas a gota de água terá sido quando atirou que "o FC Porto, no estrito desempenho daquilo que a si lhe cabe, fará o que está ao seu alcance para que os regulamentos sejam cumpridos".
Um abuso. Era só o que faltava pretender que os regulamentos sejam cumpridos. Qualquer pessoa razoável, como Luís Filipe Vieira por exemplo, ficaria chocado perante tais afirmações. Aquilo que é razoável esperar de Fernando Gomes agora é que diga, acrescentando o devido pedido de desculpas, que se o Benfica não cumpre os regulamentos faz muito bem porque as regras não são, obviamente, para cumprir. São apenas sugestões bem intencionadas cujo cumprimento deve ser deixado ao critério e bom-senso de cada qual. E mais, o administrador da SAD portista deve sublinhar que impedir a entrada dos adeptos adversários no estádio de cada um é a melhor forma de defender o espectáculo.
Ficam as bancadas muito mais bonitas, todas da mesma cor, a pressionar a equipa adversária e a insultar o árbitro em uníssono, sem ninguém a destoar.
Ora, ironias à parte, é evidente que Luís Filipe Vieira não espera que Fernando Gomes se retrate. O presidente do Benfica pura e simplesmente inventou um argumento tão remendado como um lençol num bordel para não ceder bilhetes ao FC Porto para o próximo clássico. Fica-lhe bem.
Com o estádio cheio de benfiquistas pode, pelo menos durante 90 minutos, alimentar a ilusão de que não só o Benfica já é o maior clube do Mundo, ano e meio antes do prazo, como é o único clube do Mundo.
Por uma hora e meia pode fazer de conta que Salazar não caiu da cadeira, que não houve 25 de Abril, que o Eusébio ainda joga e que Angola ainda é nossa.
Quanto aos portistas, sempre podem dar graças pelo facto dos jogadores do FC Porto não precisarem de bilhete para ir à Luz. Vão lá estar, onze contra onze, no relvado. Nas bancadas, o Benfica vai ganhar de certeza.
Os cobardes adoram linchamentos
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