segunda-feira, setembro 05, 2005

O verbo mudo

A saída de Leandro e a contratação de Marek Cech forçam uma pergunta: com que outros jogadores, para além do brasileiro, não está o treinador do FC Porto totalmente feliz? A troca prova que nem sempre Co Adriaanse diz a verdade, em nome de uma fé que já dera sinais de professar quando apontara ao Benfica o erro de mencionar constantemente a necessidade de reforços.

Se Nuno Gomes teve dezenas de motivos para se considerar um titular transitório até o fecho do mercado lhe ter dado sossego por mais uns meses (a menos que a equipa consiga reafinar os cruzamentos para aproveitar o poderoso jogo aéreo de Miccoli, bem entendido), já Leandro deve a César Peixoto a benesse de ter levado com a notícia de mansinho; isto supondo que sofre da tradicional incapacidade para a auto-análise, caso contrário, terá percebido logo no Torneio de Amesterdão, durante o jogo com o Arsenal, que nas esquinas da Europa pode não estar sempre um Salazar mas há-de haver, pelo menos, um Ljungberg mal intencionado.

Na perspectiva dos adeptos do FC Porto, as omissões de Adriaanse indiciam que o holandês está, afinal, a ver o mesmo que toda a gente; uma conclusão preciosa para os muitos que já perderam tempo a imaginar os estragos que Adriano e Figo poderiam (poderão) fazer se Adriaanse levasse cem por cento a sério o idealismo ofensivo de que tem falado. Só não escrevo que é uma grande notícia para os portistas a descoberta de que o treinador é mentiroso, primeiro, porque não é coisa que se chame às pessoas por motivos tão levianos, depois, porque nunca chegou a haver mentira nenhuma; só uma inconfessada pulga atrás da orelha. Será mais justo e correcto dizer o que o homem não é. Cego, evidentemente.


LATERAL-ESQUERDO
A solução imperfeita

Os laterais são raros. Os laterais-esquerdos mais raros ainda, porque há menos canhotos. Não é um problema exclusivo do FC Porto ou Ronald Koeman não teria posto a jogar no Benfica, em duas jornadas consecutivas, um defesa-central e o jogador que acabara de contratar para alinhar na direita. Qualquer que venha a ser a opção futura de Co Adriaanse, em princípio equivalerá sempre a um desequilíbrio, para a defesa ou para o ataque, que a equipa precisará de compensar.

José Manuel Ribeiro in Ojogo