quarta-feira, maio 03, 2006

O "desperdício" de Diego

Manuel Martins de Sá, em Itália na rubrica Sole Mio da Abola:


O "desperdício" de Diego


1- "Quando se contrata um treinador contrata-se o seu modelo de jogo." Esta é uma afirmação que vi reproduzida um dia destes mas com a qual, se me permitem, estou em total desacordo. Extrapolando o conceito, seriamos obrigados a concluir que, se esse treinador não encontrasse no plantei os intérpretes adequados para a implementação e o desenvolvimento desse seu modelo, o clube teria de recorrer ao mercado para resolver a situação. Infelizmente, nos últimos anos é isso que se tem verificado, vide Mourinho, Wenger, Wanderley Luxemburgo, Mancini, Van Gaal... mas tal prática não significa que aquela afirmação fique assim legitimada. De modo nenhum. Se o Chelsea, Arsenal, Real Madrid, Inter, Barcelona... o puderam fazer, com resultados nalguns casos decepcionantes, a esmagadora maioria dos clubes,pelo contrário, não dispõe de capacidade financeira para corresponder às pretensões do novo técnico. Um treinador, se tem mérito, não tem o seu modelo de jogo mas sim o modelo que melhor se harmoniza ou combina com as características dos jogadores que vai orientar, a fim de obter deles ò melhor rendimento. Diz quem sabe que os jogadores de qualidade são sempre compatíveis entre si. É justamente por também pensar assim que não considero Co Adriaanse um bom treinador, não tanto pela recorrente modéstia das exibições da sua equipa no decurso da época mas sobretudo por não ter sabido tirar partido de um jogador como Diego, que é tão-só o futebolista de maior classe do FC Porto. Como se vai ver quando e onde regressar à competição.

2- Enquanto não chegam a um acordo com a UEFA para a criação de uma superliga europeia, os clubes ditos grandes vão ensaiando a estratégia dos pequenos passos para alcançarem aquela meta final. Agora é Adriano Galliani, do Milan (com o apoio para já do Bayern e do Lyon), a avançar com a proposta de, a partir dos quartos-de-final, a Champions League deixar de ter os jogos sorteados mas sim acasalados, seguindo a fórmula utilizada nos torneios de ténis: o 1.° do ranking jogaria com o 8.°, o 2.° com o 7.°, o 3.° com o 6.° e o 4.° com o 5.° Em suma, evitar duelos fratricidas entre os primeiros do ranking. A alteração será debatida em Paris no próximo dia 16, véspera da final Barcelona-Arsenal, e, se for aprovada, entrará de imediato em vigor na edição de 2006/07. Quão distantes estamos da versão original da autêntica Taça dos Campeões dos anos 50.

3- Embora o cepticismo seja obrigatório em todos os projectos moralizadores que chegam de Itália (mas tratando-se de futebol nunca há moral em lado nenhum), desta vez parece que é para levar a sério. Em assembleia extraordinária, os clubes da Série B decidiram tomar algumas medidas importantes, visando o saneamento das suas contas e a sua própria sobrevivência no futuro: a) na próxima época e nas duas seguintes os planteis serão reduzidos, respectivamente, a 22, 21 e 20 elementos, aos quais se juntam obrigatoriamente 4 feitos nas camadas jovens dos próprios clubes; b) a verba global a despender com salários não poderá ultrapassar, no mesmo triénio, 70, 65 e 60 por cento do orçamento (rigorosamente avalizado) de receitas; c) as equipas despromovidas nas mesmas três épocas receberão, durante três anos, uma indemnização, cada uma, de 500 mil euros por ano para amortecer o impacto do tombo.