José Manuel Ribeiro no Ojogo:
Alguém chamou ontem a atenção para a terceira final europeia que Deco disputa em quatro épocas. Está quase certo. É a quarta: duas Ligas dos Campeões, uma Taça UEFA e o Euro'2004. Quatro finais, mais duas do que Mourinho. Não rouba quota ao "special one", mas talvez até explique as dificuldades deste último para repetir, com o Chelsea, o que conseguiu fazer no FC Porto. Há por aí menos Decos do que pensavam, por exemplo, os dois últimos seleccionadores do Brasil, mau grado os competentíssimos observadores que colaboram com o primeiro deles, segundo declarações transcritas por toda a Imprensa desta terça-feira.
Deco escapou à rede de malha fina "desde sempre" usada sob camuflagem por Scolari. Na altura, tal como sucedeu depois com Parreira, o treinador que não vai aos estádios porque tem olhos em todo o lado - outra confissão de anteontem - intuiu que como ele havia centenas no Brasil. Havia centenas de jogadores no Brasil capazes de coincidir em quatro finais europeias noutras tantas épocas. Se fosse verdade, significaria que Portugal não tem a menor hipótese de discutir o campeonato do Mundo, porque não há melhor do que Deco na selecção portuguesa, pelo menos que ainda esteja dentro do prazo de validade: tetracampeão nacional, vencedor de uma Taça UEFA, candidato hoje, em Paris, à segunda Liga dos Campeões, e vice-campeão da Europa num torneio que, após dois anos de jogos particulares e observações atentas do seleccionador, começou no banco.
Nesse arranque inolvidável que tantos se apressaram a esquecer, esteve sentado ao lado dele outro jogador duvidoso, o Quaresma de 2004, salvo por milagre à selecção olímpica por um qualquer erro de cálculo, se é que estão recordados: Cristiano Ronaldo. Vinte e quatro meses e uma fase de apuramento depois, estes dois são apenas os valores mais altos da equipa Scolari, cuidadosamente pensada, reflectida e amadurecida pelo seleccionador nos últimos 45 minutos de um período de dois anos durante os quais, por azar, nunca testou um onze sequer remotamente parecido com o que depois o carregou até à final do Europeu. Em suma, confiemos em Deco.
Cassetes e amigos
Acreditem que ponderei muito antes de decidir escrever isto, para tentar perceber se é apenas a minha má vontade ou se esta dúvida faz mesmo sentido: então, cinco meses depois do sorteio do Mundial, a menos de um mês do primeiro jogo, o seleccionador diz que acabou de receber uma cassete do Irão e podia dizer, "para quem não conhece, que se trata de uma selecção respeitável, com uma qualidade técnica muito boa", e a seguir que um amigo lhe contou que o México vai ser uma das atracções da prova? Com os 23 jogadores decididos, como se pôde ver, há uma eternidade; com os Sub-21 entregues à "hierarquia", porque é que Scolari precisa de invocar cassetes e amigos para poder dizer estas coisas? Faltou-lhe tempo?