segunda-feira, maio 08, 2006

Vulgaridades

José Manuel Ribeiro no OJogo:

A conjugação do último relatório da "Deloitte" com o deleite que foram Anderson e Ibson anteontem no Bessa inspirou-me uma pergunta: se os jogadores são a parte vulgar deste negócio, ou melhor - e peço perdão pela redundância -, se os jogadores são "vulgares jogadores", a quem devemos reverência? Aos presidentes que são postos às escâncaras pelas contas de analistas independentes? "O Benfica, num esforço de reforçar a base de sócios, e no seguimento da iniciativa Kit Novo Sócio, alcançou um total de 92 270 sócios pagantes", diz a "Deloitte", embora apenas a respeito da época 2004/05. Da actual, veremos para o ano e aposto uma parte importante da anatomia de um voluntário que veremos pouco mais. A questão não importa, aliás é mesmo por não interessar a um santo que a intrometo neste comentário, espero que devidamente lubrificada. Nestes meses, Liedson, Anderson, Ibson, Quaresma, Simão, Miccoli deram-nos ziguezagues, fintas, penteados indecifráveis, coisas para gravar em DVD, mas o que nos ofereceu Vieira para o acharmos menos vulgar do que eles? Esgotámos a semana com as deficiências de carácter de Koeman, pouco saudáveis e no entanto iguais às que nos passam a todos pela cabeça de vez em quando - ser genuíno é um emprego mal pago em Portugal - e depois caímos em cima do inimputável LFV pela razão errada. Ao defender o treinador da insinuação de que o Rio Ave abrira a baliza ao Sporting, Vieira chamou a Liedson "vulgar jogador"; no rescaldo, o pessoal disléxico trocou a ordem das palavras e censurou-o por considerar o brasileiro vulgar, maroteira da qual o senhor está absolutamente inocente. O que ele fez de facto foi muito pior. Na linha daquela outra frase que só profere quem tem muita vontade de parecer astuto - o que importa não é fazer contratações, é ganhar lugares na Liga -, pôs no fundo da escala alimentar as figuras de quem a gente realmente gosta. Eles, os jogadores, são os vulgares. Importante é um colarinho branco que todas as semanas, arrebatados pelo orgulho de ser também portugueses, vemos competir num campeonato de sócios do qual, mesmo sem fermento nos números, é de longe o melhor atleta do Mundo. E único.


PEDRO HENRIQUES
A fúria do herói

Ao contrário do que pensa Pedro Henriques, olear o espectáculo não se faz ignorando infracções: consegue-se, por exemplo, interferindo com amarelos na sucessão de pequenas faltas com que os árbitros portugueses permitem que as equipas defendam. Claro que é inútil dizer-lho. Não consigo sequer imaginar o que será uma pequena falta para alguém que acha normal usar-se as mãos numa carga de ombro - e força suficiente para fazer voar um frigorífico. No entanto, já agora, uma tentativa de persuasão: eu sei que esse detalhe não consta dos filmes do Rambo, mas no futebol inglês não são os árbitros que ignoram faltas; são os jogadores que as inventam menos.