JOSÉ MANUEL RIBEIRO
O FC Porto sofreu este fim-de-semana um ataque de tranquilidade, sem anestesia geral nem recurso a sedativos, muito menos sintomas que pudessem ter ajudado os médicos a prevenir o repentino acesso de paz interior, na noite do último sábado, logo depois do jantar. Em suma, nada se podia ter feito para o evitar, pelo menos a vítima não podia, porque a descontração súbita lhe chegou com a mesma transcendência de uma pancada na cabeça - de resto, o único movimento comparável. Alguém pôs o FC Porto a ver estrelas, no bom sentido da expressão, cuja existência eu próprio desconhecia até o ter inventado. Portanto, estava o Porto levemente inquieto, preocupado com a necessidade de gerir esforços na SuperLiga, quando o Sporting o pôs em sossego daquela maneira trágica e pelo motivo que, tradicionalmente, está na origem de oitenta por cento dos casos clínicos: a ignorância. O Sporting desconhece que é possível aguentar uma vantagem mínima durante um quarto de hora com apenas dez jogadores em campo, contra um adversário que passou trinta jornadas a provar, repetidamente e muito para além do que exige a validação científica, que não sabe fazer golos. Só consegue por acaso. O Sporting também desconhece que os árbitros são ainda mais fracos nesse campo: podem dar uma boa ajuda, mas também não marcam, no significado literal do termo. Foram mesmo Frechaut e Fary quem soube marcá-los e foi o mesmo o Sporting quem soube sofrê-los. Nesse aspecto, nota dez no capítulo da cultura geral. Como sempre tenho escrito a respeito do FC Porto, o árbitro é uma saliência, uma irregularidade mais ou menos perceptível no relvado; a parte encharcada no campo, o cordão de uma bota por atacar, diarreia súbita em todo o plantel; em suma, um factor aleatório que é preciso contornar, como o vento e a chuva. Às vezes, é uma tempestade, mas podem crer que quem pôs o FC Porto a dormir na noite do último sábado não foi o som da água a bater no vidro: foi a canção de embalar criancinhas que o Sporting entoa até ao vómito.
A IDEIA
Quando custa um bilhete? E quanto custa um sócio?
Constadine Tagaroulias, jornalista australiano, descobriu a pólvora. E olhem que não estou a gozar, nem com a expressão, normalmente achincalhadora, nem com o nome, que é mesmo Tagaroulias. Constadine Tagaroulias pediu mas não obteve credencial para cobrir o FC Porto-Corunha de amanhã. Tentou comprar bilhete e disseram-lhe que só havia alguns disponíveis para sócios. E o que fez o meu brilhante colega? Preencheu uma proposta, pagou 50 euros de jóia, mais cinco pelo cartão, três meses de quotas (um total de 77,5 euros) e é agora o sócio nr. 104766, dono de um bilhete para a primeira mão das meias-finais da Liga dos Campeões, a jogar no Dragão. E pensar nos galegos que anteontem estavam dispostos a vender partes importantes do corpo para ter um igual...
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