quinta-feira, abril 08, 2004

Seguir o dragão rir do Milão

CARLOS FLÓRIDO no Ojogo

Uma pessoa que muito prezo faz parte daquele extenso lote que embirra com José Mourinho. Chama-lhe "vaidoso", "convencido" e dedica-lhe outros mimos daquele género que qualquer mulher arrumaria com a simplicidade que só elas, quando querem, sabem pôr nas coisas: é convencido e tem razões para isso, ponto final parágrafo. Mas, e porque aqui me interessam as embirrações com o treinador do FC Porto, essa mesma pessoa reconhece nele uma virtude única. Colocou os dragões a jogar de uma forma que nunca havia visto em equipas portuguesas. Sem medos, seja qual fôr o campo. De peito aberto, por mais sonante que seja o nome do adversário. O FC Porto, acrescentaria eu, é uma equipa de personalidade forte e por isso ganha o que ganha.

Mas tenho para mim que Mourinho, mais do que um "revolucionário" do futebol português nesta matéria, será sobretudo o seu expoente máximo. Por ver o FC Porto jogar desinibido em todas as ocasiões; por ter alegria no seu futebol, como muito bem pediu o seu treinador antes da viagem para Manchester; e também por verificar que isso acontece, sem intervalos ou quebras, há duas épocas. E que nos raros momentos em que os portistas são encostados à sua área, como na primeira parte de ontem, é porque o adversário a isso obriga. Como bem soube reconhecer, humildemente, Mourinho.

E chamo-lhe expoente porque também vou registando, com particular agrado, atrevimentos semelhantes em outras equipas da SuperLiga portuguesa. Não sempre. Nunca ao nível a que o FC Porto o faz. Mas entre um dragão que actua desinibido em Marselha, Madrid, Manchester e Lyon, ou um Rio Ave que perde o respeito a Sporting e Benfica, só para dar um exemplo, as diferenças não são muitas. A atitude, afinal o mais importante, é a mesma.

Aqueles que considero sinais positivos do futebol português, e que apenas gostava de registar com mais consistência, deixam-me duplamente satisfeito quando vejo o contraste com maus exemplos vindos de campeonatos ditos superiores. Como o italiano. Porque me vinha irritando ver uma equipa que tanto admiro, com um plantel ainda mais poderoso do que o do Real Madrid - Dida, Cafú, Nesta, Maldini, Pirlo, Gattuso, Seedorf, Kaká, Inzaghi e Shevchenko, mais Rui Costa no banco e Rivaldo dispensado, não será isto verdadeiramente galáctico?... -, jogar apenas e só para o resultado. Ontem levaram quatro e fiquei a rir-me. Na esperança de que lhes sirva de emenda. E que coloquem os olhos em gente com mérito indiscutivelmente superior. Como os jogadores do FC Porto...