segunda-feira, junho 09, 2008

A CAIXA DE PANDORA - ÁLVARO MAGALHÃES




Não adianta agitar o exemplo dos clubes italianos, que envolvem negócios chorudos de transmissões televisivas e movem montanhas. Romenos, russos, portugueses e outros que tais é que têm de se pôr a pau.

Já os aviso: quem escreve esta crónica é o adepto ferido de morte. Mágoa e revolta é o que vai por aqui, mesmo que Pinto da Costa aconselhe a serenidade budista e garanta que a procissão ainda vai no adro. Irá, mas não estou entre os que crêem numa reviravolta. A menos que o presidente esteja também a contar com o recurso final para a justiça divina, em que tanto confia.


É quase evidente que a UEFA não perderá esta oportunidade dourada para erguer um exemplo à custa de um clube que, mesmo já tendo sido campeão europeu, pertence a um pequeno país periférico, sem peso ou influência. E não adianta agitar o exemplo dos clubes italianos, que envolvem negócios chorudos de transmissões televisivas e movem montanhas. Como se tem visto, romenos, russos, portugueses e outros que tais é que têm de se pôr a pau.


Pois bem, registe-se, antes de mais, que nada disto teria acontecido se os juristas da SAD do F.C.Porto não tivessem também contribuído para o desastre. Pinto da Costa defendeu, na SIC, a sua estratégia indefensável com a repetida exibição de pareceres de grandes sumidades, mas também me parece que não é preciso ser uma sumidade para se saber que a defesa, neste caso, teria sido o melhor ataque. E quem é tão gravemente acusado pode ter outra saída senão a de se defender por todos os meios?


Apalpemos agora aquela zona da questão onde mais nos dói. Tudo isto seria mais suportável se não coroasse a acção subterrânea dos dirigentes do Benfica, que, aliás, nunca pensaram ser tão amplamente recompensados. Mas habituaram-se depressa à ideia e passaram, num ápice, da expectativa envergonhada à defesa excitada do que já consideram seu. E lá vão eles (se forem, é claro), todos contentes, para uma Liga que é "dos campeões", apesar de virem de um esforçado quarto lugar, atrás de um clube acabado de chegar da Liga Vitalis,". Ao menos, haja pudor.

E agora? O que virá aí? O pior, seguramente. Afinal, trata-se de futebol, a mais ígnea das matérias, besta negra da irracionalidade e do desnorte. Pior ainda, trata-se da ancestral guerra entre F. C. Porto e Benfica. Com bola palavras ou pareceres jurídicos, nos relvados, na comunicação social e nos tribunais, ela prossegue incessantemente. Antes de encerrar a crónica lanço um olhar aos jornais sobre a mesa e leio: "Luis Filipe Vieira diz que Gilberto Madail tem de se demitir se o F. C. Porto não for castigado pela UEFA". E, mesmo ao lado: "SAD do F. C. Porto acusa Benfica de exercer pressão inadmissível sobre Conselho de Justiça e Gilberto Madail". Não se duvide: aconteça o que acontecer, o mal está feito e já anda à solta por aí: abriu-se a Caixa de Pandora.
in JN, edição em papel