sexta-feira, janeiro 30, 2004

JORGE MAIA no Ojogo

JORGE MAIA

Nós pagamos!

Dias da Cunha acha que as leis não são para cumprir. Pelo menos as que não dão jeito. Ficou claro no discurso inflamado de ontem à tarde que, para o presidente do Sporting, os regulamentos da Liga não passam de linhas genéricas de orientação ou de sugestões mais ou menos bem intencionadas que só se aplicam a quem não puder pagar as multas correspondentes. É verdade que os regulamentos dizem que o FC Porto tem direito a 30 por cento dos bilhetes enquanto clube visitante no jogo de amanhã, mas, como o Sporting está disposto a pagar a coima prevista no caso de não garantir o número de ingressos devido, os regulamentos que se lixem. São um detalhe. No fundo, o facto de o Sporting ter gentilmente cedido cerca de 1 700 bilhetes aos adeptos portistas não pode deixar de ser encarado como um acto magnânimo de generosidade, só ao alcance de quem flutua pelo menos uns centímetros acima dos comuns mortais. Se quisermos ser justos com os dirigentes de Alvalade percebemos que, já que vão pagar a multa e vão, podiam muito bem ter ficado com os bilhetes todos. Pensem nisso. Mas não. Eles pagam a multa e ainda cedem uma mão cheia de bilhetes que, por maioria de razão, lhes pertencem.
Ainda há gente boa, senhores!

Mais preocupante do que isto só a sensação de que, no País, há mais quem pense que as leis só se aplicam a quem não puder pagar as multas, uma certa noção de que o dinheiro garante a impunidade, pessoas a quem palavras feias como "proibido" ou "obrigatório" não se aplicam. Pessoas que, como o presidente do Sporting, se sentem violentadas quando as autoridades do País os obrigam a cumprir as regras. Mas com que autoridade? O Sporting tinha espalhado os adeptos do FCPorto pelo estádio com a segurança no pensamento.
E depois, se alguma coisa corresse mal, podia sempre pagar-se a multa, não é?