A profissão de vendedor de kits é tão digna como a de ‘opinador’...
Na entrevista à RTPi quis visar-me, alegadamente porque o ofendi (e com ele, que presunção!, todos os benfiquistas) no meu último artigo ‘Chuchas e kits’, cujo título tem, como é de elementar compreensão, um enquadramento específico. Basta ler. E, lendo, não deixo de concordar com aquilo que LFV afirmou na citada entrevista: “o ‘chucha--kit’ não existe”. Não existe mesmo.
Para além de muitas coisas que não lhe ensinaram quando era tempo disso é que ofensa e crítica não são a mesma coisa. Aliás, LFV pode chamar lixo às pessoas, pode levantar suspeitas não fundamentadas, pode afirmar que há jornalistas a querer fazer negócios com os jogadores, pode dizer, também, que alguns jornalistas escrevem aquilo que lhes mandam escrever, e em relação a estas duas acusações a única coisa que o desafio a afirmar, preto no branco, é que diga claramente quem anda a beber, a comer e a fumar à conta dele e de outros dirigentes; quem anda a tentar fazer negócios com transacções de jogadores. QUEM PAGA A QUEM?
O discurso não é novo e postura sobejamente conhecida. Já todos sabíamos que LFV sempre conviveu muito mal com a crítica (não é o único, mas é um dos casos mais assanhados) e parece claro que se julga com poder para banir. Deve ter lido mal os estatutos. Aliás, esse é um dos problemas do sr. Filipe Vieira. Tem muita dificuldade em ler e mais ainda, como é óbvio, em interpretar o que se escreve. Acha-se muito competente a juntar números e cifrões mas é manifestamente incompetente a juntar letras. Não vou aconselhá-lo a regressar à escola, porque isso poderia ser considerado uma ofensa e seria tempo perdido; de resto, o ensino já tem problemas suficientes a afectá-lo. Mas aconselho-o pelo menos que arranje alguém mais competente, não apenas para lhe escrever os discursos mas sobretudo para lhe traduzir os artigos. Aliás, mesmo com a assessoria que lhe é prestada, LFV tinha a obrigação de recolher melhor informação porque, ao contrário do que julga, há ‘opinadores’ que também são jornalistas. É o meu caso. Possuo a carteira profissional n.º 1199, completo em Janeiro 30 anos a escrever para os jornais, no final da década de setenta já opinava sobre questões relacionadas com o futebol juvenil e o futebol português e, ao longo deste tempo, nunca me detectaram qualquer problema do foro psicológico.
Acompanho o futebol, profissionalmente, há três decénios (entende?), promovi a modalidade pela base, investi tudo na minha profissão e, durante este longo tempo, não me recordo de o ter visto. Não sei o que ele fez no futebol nem o que contribuiu para o seu desenvolvimento. LFV não sabe nem procura saber. O que o irrita, solenemente, é que não me controla. Nem com charutos, nem com almoços, nem com jantares, nem com cães, nem com cadelas, nem com encontros privados para discutir estratégias editoriais. LFV é o presidente do Benfica e o Benfica precisa de se reerguer. Apesar do rol de promessas não cumpridas; apesar de mandar calar os seus próprios jogadores e multá-los; apesar das mentiras que diz (a propósito, saí de ‘A Bola’ por vontade própria e não estou minimamente convencido daquilo que afirma, era o que faltava!), desejo-lhe as maiores felicidades no seu trabalho. Vou continuar a fazer o meu. Não sonhe comigo que não vale a pena. O Benfica precisa da sua atenção para outros assuntos (nomeadamente para esclarecer o ‘caso Mantorras’) e não para andar à caça às bruxas. Essa mania da perseguição também concorre para ler mal e interpretar pior. O Benfica é demasiado grande para ter de suportar discursos sem nível. Só tem classe quem pode e não quem quer. Tenho pena! Muita pena mesmo! A profissão de vendedor de kits é tão digna como a de ‘opinador’. Com uma grande diferença: os ‘opinadores’, que eu saiba, não compram passes de jogadores. Os vendedores de kits compram – e são capazes de ser adeptos de diversos clubes ao mesmo tempo, deixando para trás um rasto de falência.
Os verdadeiros campeões não são aqueles que ganham títulos e fortunas na bola. Não são aqueles que passam a vida a dizer que não se servem do futebol. Os verdadeiros campeões são aqueles que são capazes de fazer bem. Genericamente, na vida. Nela há os equilibrados e os equilibristas. É um facto incontornável. A diferença, às vezes, esbate-se. E o inferno está cheio de presunçosos.
Há palavras ocas e feias que representam muito pouco na boca de certas pessoas, mesmo quando elas se acham donas de tudo. Apesar das dúvidas lançadas a este respeito na sociedade portuguesa, ainda penso que vale a pena recorrer aos tribunais para que não se crie a sensação de que o poder de certos cargos pode concorrer para a destruição de direitos inalienáveis consagrados na Constituição. O sr. presidente do Benfica talvez pense que também pode controlar a Justiça e os Tribunais do mesmo modo como pensa que é capaz de controlar a Liga, a Federação, a Arbitragem, a UEFA, a FIFA, os Partidos Políticos, as Forças Armadas, a Assembleia da República e o Papa. Ele parece não perceber o que é viver em democracia mas nós, que aprendemos todos os dias, temos a obrigação de transmitir os ensinamentos que a vida nos proporciona. Esse é o meu modesto contributo porque, também perante a ignorância, devemos mostrar magnanimidade.
2. Considerando o que aconteceu em Braga, o Benfica tem, entre muitos outros, um problema para resolver. Que vai fazer com Simão? A melhor proposta que se conhece, do Liverpool, situa-se nos 15 milhões de euros e data de fim de Agosto. Os ingleses não parecem dispostos a dar muito mais e têm alternativas a Simão. Significa que, se não houver propostas atractivas de maneira a satisfazer o clube da Luz e o jogador, os responsáveis têm sempre o argumento de que o Benfica precisa de conservar os seus melhores atletas. A verdade é que, nessas circunstâncias e numa situação desportiva mais difícil, vão ter de compensar Simão, que viu em Agosto goradas as hipóteses de ver engordada a sua conta bancária.
Por outro lado, é tempo de se perceber o que está a acontecer no Departamento Médico dos ‘encarnados’. Esticar até estourar?
Rui Santos in CM, Hilariante...