terça-feira, dezembro 20, 2005

Textos a ler e reler

1- Rio avaliza interesse municipal do Dragão

Novo estatuto foi ontem aprovado por unanimidade, em reunião do executivo camarário portuense, depois de uma proposta apresentada pelo vereador da Cultura e do Turismo. E com o voto favorável de Rui Rio

Depois do reconhecimento nacional e internacional, com a atribuição dos mais variados prémios ao longo dos últimos dois anos, chegou finalmente a altura de ser a cidade que alberga o Estádio do Dragão a render-se ao "interesse" que a obra tem despertado por esse mundo fora. E entenda-se por "cidade" tão somente os órgãos municipais, que ontem aprovaram por unanimidade uma proposta desencadeada pelo FC Porto no sentido de catalogar o recinto do Dragão como um Imóvel de Interesse Municipal. O mesmo é dizer que o estádio passou a representar "uma mais valia para o Município do Porto, pelo seu valor enquanto símbolo e testemunho de um acontecimento relevante (Euro'2004) e pela sua concepção arquitectónica".

Esta proposta foi apresentada ontem na reunião do executivo camarário por Fernando Almeida, vereador da Cultura e do Turismo do executivo de Rui Rio, e aprovada por unanimidade, com os votos favoráveis de todos os vereadores: sete da coligação PSD/CDS-PP, cinco do PS e um da CDU. A mesma proposta considera que o Estádio do Dragão "constitui um exemplar de uma nova concepção de equipamentos desportivos multiusos", para além de ser "uma peça essencial no Projecto Urbano das Antas, enquanto elemento de referência urbanística".

Depois das muitas críticas iniciais, que chegaram a colocar em causa o projecto, Rui Rio acabou agora por valorizar, através do seu voto favorável, aquela que já é considerada por muitos como uma das mais emblemáticas obras da cidade do Porto.

in Ojogo


Ainda sobre o mesmo assunto, Fernando Santos no Ojogo:

Sua Excelência

Assinale-se o gesto contemporizador - bom senso? - de Rui Rio ao viabilizar a proposta de transformação do Estádio do Dragão em Imóvel de Interesse Municipal


O excelentíssimo presidente da Câmara Municipal do Porto terá esbanjado ontem uma parte substancial da imagem de coerência e de credibilidade de que gozava na opinião publicada a partir de Lisboa, o centro decisor e investido dos galões do exclusivo do pensamento no País. Rui Rio, imagine-se!, deu o seu contributo através do voto à aprovação unânime em executivo autárquico para se encetar o processo de catalogação do Estádio do Dragão como Imóvel de Interesse Municipal.

A desconfiança sobre o acto de Rui Rio é grande para os seus críticos. Agora "sentado" numa maioria absoluta resultante das eleições deste ano, terá tido o homem um raro momento de lucidez? - inquirir-se-ão muitos, sólidos na ideia de que tamanha magnanimidade não invalida nem apaga todo o protagonismo de Sua Excelência no controverso processo de construção do Estádio do Dragão e no qual, à custa de alguma demagogia, ensarilhou, acabando por o cosmetizar, o Plano de Pormenor das Antas - sem o qual não haveria estádio.

Percebo que haja alguma desconfiança sobre as verdadeiras razões de tão benemérito gesto ontem protagonizado; entendo inclusive a existência de quem nele veja uma tentativa de aproximação de Rui Rio aos seus mais empedernidos adversários portistas por forma a que um destes dias monte mais juntinho ao estádio um dos barracões-mamarrachos que tem espalhados pela cidade com os calhambeques que o fazem feliz, sponsorizados pelo Continente...

Confesso: nem sequer tentei aclarar as dúvidas e obter um putativo esclarecimento sobre as convicções de Rui Rio. Para o excelentíssimo presidente, como é público, os jornalistas (não confundir com os seus "aparatchiks" do Gabinete de Imprensa...) são aparentados a produtos menores que se devem usar e deitar fora e recuso-me ao beija-mão, convicto de que os ditadores estão em vias de extinção na Europa...

Sejam quais forem as conjecturas, assinale-se o gesto contemporizador de Rui Rio ao viabilizar a proposta de transformação do Estádio do Dragão em Imóvel de Interesse Municipal - tão assinalável nesta altura como o pré-aviso de greve dos jogadores do Setúbal para o jogo com o Benfica ou as polémicas em redor da Arbitragem. Por distracção, regeneração ou mero taticismo, o excelentíssimo presidente da Câmara Municipal do Porto acaba por perder uma parte da auréola junto dos opinadores-mordomos sediados em Lisboa mas isso agora também não interessa nada. As próximas eleições estão à distância de quatro anos...



2- As fantásticas crónicas de José Manuel Ribeiro in Ojogo:

A dignidade de Jorge Costa

1. Há um argumento de ferro por detrás do direito moral que o Benfica tem de exigir ao FC Porto absoluto respeito pela verdade desportiva no dossiê Maciel: na época passada é possível que o seu director-geral tenha permitido ao Estoril a utilização de uma equipa inteira. Do seu bolso. Duas vezes. E ambas na condição de benemérito anónimo. Guarda-redes, defesas, médios e avançados; todos jogaram contra o Benfica. Só não pôde emprestar o campo porque a bondade de um homem tem limites.

2. Ainda assim, os regulamentos da Liga obrigam os clubes a jogar nos estádios que designaram aquando da inscrição, "sem prejuízo de, em circunstâncias especiais e de força maior, ser autorizado ou obrigado" a jogar noutro sítio. Era o caso, a avaliar pelo que Cunha Leal não fez e podia ter feito ou, pelo menos, que não perguntou e podia ter perguntado. O Estoril precisava desesperadamente de dinheiro e como, para a Liga, não há força maior nem circunstância mais especial do que essa, a troco de dinheiro vendeu, com toda a legitimidade (disse-se), uma parcela das hipóteses que tinha de discutir o resultado com o Benfica, na etapa decisiva do campeonato e não noutra qualquer.

3. Depois do jogo, o adjunto do treinador do Estoril, Carlos Xavier, acusou o director-geral do Benfica de ter despedido logo ali o seu chefe de equipa, do qual, segundo a lei, ele não podia ser patrão. Dois meses mais tarde, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, encerrou um processo já longo declarando "falta de transparência" na alienação das acções de José Veiga a duas sociedades estrangeiras. Acompanhando o processo, O JOGO bateu à porta da sede de uma delas, em Londres. No quarto andar do número 33 de Cavendish Square nunca se ouvira falar nem das empresas, nem de Estoril, nem de Veiga. A CMVM queixara-se do mesmo: escrevera cartas, mandara faxes e nada.

4. Verdade desportiva? Falou-se, escreveu-se e disparatou-se muito sobre ambas há uns anos, quando Jorge Costa marcou um golo na própria baliza, durante um jogo entre o Marítimo e o FC Porto, estando ele emprestado aos madeirenses. O mesmo Jorge Costa que nestes últimos meses sofreu uma milagrosa melhoria de carácter - de acordo com a Imprensa que se especializou no carácter das pessoas -, na altura ainda não era tão bem visto, pelo que não faltou quem lhe questionasse a dignidade. Exactamente: a dignidade. A tal que se tornou evidente e inquestionável para tantos comentadores com insuficiência de fósforo logo que ele falou em sair do FC Porto.


Fraudes descartáveis

Chamar fraude às alegadas restrições que o FC Porto impõe à utilização dos jogadores que empresta é frontalmente desonesto. Quer dizer, é desonesto de uma forma tão cristalina que até merecia outra palavra qualquer. E é tão desonesto dito por Luís Filipe Vieira como pelas beatas histéricas que o antecederam na condenação desse "hábito abominável" de interferir nos direitos das outras equipas cedendo-lhes melhores jogadores do que aqueles que elas deveriam ter. Pela parte da Imprensa, ninguém quer saber que um erro de um jogador emprestado num jogo com o FC Porto não seria propriamente bem compreendido. Não se pode suspeitar tanto de um clube e estranhar que ele se previna. Podem recusar-se a acreditar que é assim, mas é na mesma. Luís Filipe Vieira conhece muito bem esta realidade, porque seria o primeiro a chamar fraude a um frango de Bruno Vale, com a mesma indignação que usou ontem para chamar fraude a uma ausência e com o mesmo efeito nos artigos de opinião e alinhamentos televisivos. A quem estiver neste momento a fazer aquele sorrizinho condescendente de cidadão metropolitano e a pensar "lá está o provinciano com as paranóias do costume", eu antecipo a resposta que dou sempre: não se pode ter seis milhões de adeptos para uma coisa e não se ter seis milhões de adeptos para a outra. Só não devia é ser tão fácil tirar partido disso. Conforme já escrevi antes, nós, a Imprensa, não podemos deixar de perguntar o que quer José Veiga quando, depois de um FC Porto-Benfica, nos diz que só aceita falar numa zona interdita a jornalistas. E, falando em fraudes ou comportamentos suspeitos, já que estamos em fase delas, também devíamos perguntar que critérios são esses da Comissão Disciplinar e se foi feito tudo o que devia para que Petit tivesse sido castigado nos prazos impostos pelos regulamentos. Ou, já agora, porque é que o gesto de Nuno Gomes em Braga, visto por toda a gente, quer o censuremos ou não, motivou apenas um inquérito e este caso Maciel passou directamente a processo.


Encantador

Tenho um amigo que gosta de Scolari. Esteve com ele uns dias, recentemente, e voltou encantado com a simpatia do homem. Não foi o primeiro a regressar nesse estado. Eu devo ser imune ou então o vírus tem um raio de acção muito pequeno, porque acompanhei a selecção brasileira, no Japão, durante toda a segunda fase do campeonato do Mundo e, embora admita que nunca mais estive perto do homem, não entendo como se pode ver nele esse amor de pessoa de que tantos falam. O Scolari lido, pelo menos, não é simpático. De cada vez que abre a boca acentua essa ideia. O último abalo sísmico, oferecido ao site do Clube Nacional de Imprensa Desportiva, é este: "Disponho de dados técnicos e de balneário que nunca revelarei mas que poderão estar na base das minhas decisões". As "decisões", questionadas pelo jornalista, eram o desaparecimento de Baía e João Pinto das convocatórias nacionais. Ao que Scolari respondeu, não sei que nome dará o dicionário da Lisboa Editora; o da Porto Editora chama-lhe difamação.

Falar em motivos técnicos quando os mencionados são Baía e João Pinto prova apenas a ligeireza com que, em simultâneo, o seleccionador julga os assuntos e a inteligência dos súbditos portugueses. Falar em dados de balneário é uma "insinuação grave e completamente irresponsável", para usar as palavras que a assessoria de Imprensa da FPF destinou ao meu colega Jorge Maia depois dele ter comentado as conversas entre Scolari e os empresários de jogadores. Grave e completamente irresponsável é incentivar assim o boato, sobretudo porque não é a primeira, nem a segunda, nem a terceira vez. O seleccionador já o fez a respeito de Maniche, de Meira, de Sérgio Conceição e, se quisermos, até de Rui Costa e Fernando Couto, quando se lembrou de dizer que sempre teve na cabeça aquele onze do segundo jogo do Europeu mas não podia usá-lo. O simpático e humano Felipão.

Baía e João Pinto passaram, portanto, a ser culpados de tudo o que as pessoas forem capazes de imaginar. Não é que a vida deles mude por aí além, porque há muito que Scolari criara esse ambiente, mesmo sem o ter posto em tantas palavras como agora. Ou melhor, em tão poucas.


A mentira
Maus e bons suplentes

Se a palavra é balneário, a primeira ideia que ocorrerá aos leitores talvez seja a célebre indisponibilidade de Baía para ser suplente, muito comentada e tida por argumento válido para o tratamento que Scolari lhe deu. Não sei se ela corresponde à realidade, mas admito que Baía não se sinta à vontade no banco; a carreira não lhe permitiu habituar-se. O que sei é o que vi, na Coreia do Sul, minutos antes do final do último jogo da selecção nacional: Rui Costa a abandonar o banco, irritado por ter sido preterido na terceira substituição de Oliveira, e a dirigir-se para o túnel dos (reticências) balneários, onde um colega preocupado correu a impedi-lo de entrar. Meses depois, Rui Costa, que não fez nada de mal, foi apenas emotivo como qualquer de nós, viu-se fartamente elogiado e considerado imprescindível por Scolari. E assim se manteve quase até ao fim.


3- Crónica do não menos brilhante Jorge Maia do Ojogo que até mereceu uma resposta da assessoria de imprensa do escarro Cholari :

Negócios

1 Talvez seja perfeitamente normal que o seleccionador nacional fale com os empresários dos jogadores internacionais, aconselhando-os a que mudem de clube. Mas, se tem mesmo que dar conselhos, porque não o faz directa e exclusivamente aos jogadores? Bem, talvez neste caso, como em muitos outros, exista uma boa razão para explicar o fenómeno. Ou milhões de boas razões. Afinal, é verdade que a selecção não compra jogadores mas pode muito bem ajudar a vendê-los. Nos tempos que correm, o carimbo de internacional português no passaporte de um jogador pode fazer a diferença entre milhares e milhões de euros. Até que ponto isso é, ou deve ser, uma preocupação do seleccionador nacional é que já me escapa. Percebo perfeitamente o interesse de qualquer empresário de futebol em ter uma ligação directa ao seleccionador nacional, mas o inverso já não me parece tão normal. Por outro lado, sempre me disseram que eu era um bocado ingénuo.

2 Num campeonato tão irregular como este tem sido, é sempre difícil fazer previsões mas, se a Maya pode, eu também posso e nem sequer cobro nada por isso. Então cá vai: em condições normais, a 15ª jornada pode deixar o FC Porto ainda mais só no primeiro lugar do campeonato, até porque o principal perseguidor dos portistas tem um jogo complicado pela frente. O Nacional vai ao Estádio da Luz, defrontar o Benfica, e o resultado mais natural será o triunfo da equipa da casa. O que significa que, se o FC Porto vencer o Penafiel no Dragão, pode cavar o fosso em relação ao segundo classificado para quatro pontos. De resto, qualquer resultado no jogo da Luz serve os interesses dos portistas. Se o Nacional perder é bom, se empatarem também se os madeirenses ganharem não é nada mau. Deve ser por isso que se diz que a candeia que vai à frente ilumina duas vezes.


5- Para terminar em beleza...a resposta do FCPORTO no seu site às galinhas :

A piada do Luisinho

O ridículo tem destas coisas. Quando julgamos que não pode surpreender-nos, tal o cúmulo que atinge em episódios recorrentes, eis que surge nova tirada para provar que, afinal, é sempre possível soltar mais gargalhadas. Desde já, obrigado! Rir é bom para desanuviar.

Desta vez fala-se de «fraude» e defende-se que «os jogos ganham-se dentro das quatro linhas». Dá para rir. Nem La Palisse teria dito melhor na defesa cínica do futebol. Já agora, a bola é obrigatoriamente redonda e têm de ser 11 jogadores para cada lado? «E a relva é verde!», acrescentará o falso moralista.

É interessante como a ausência de um atleta num jogo de campeonato pode originar tanta piada. É curioso detectar a gritaria ofendida de quem é tolhido pela falta de memória. Se agora inventa esta pérola de humor, que peça maquinaria se, por exemplo, recordasse a época passada e desse de caras com um exemplo refinadíssimo de absurdo?

Será que toda a gente se esqueceu que um clube dito grande tinha como dirigente alguém com influência num concorrente? Alguém que pode ter escolhido directores, treinadores e atletas e que definiu projectos? Riam! Esta também é uma bela anedota, um hino ao humor negro que, pasme-se, até motivou uma estranha mudança de estádio. Ainda hoje, alguns meses mais tarde, se fica com a barriga a doer de tanto rir. Não é que uma equipa de bem perto de Lisboa decidiu receber um vizinho no Algarve, num palco muito melhor que o seu e, por conseguinte, em desvantagem? Não configurará esta situação uma das tais «fraudes», uma criação que pode ter valido um título? O humor é criativo...

E fê-lo para beneficiar quem? O turismo da região mais a sul de Portugal e os turistas nórdicos? Não é plausível. Como também não é admissível que o humorista ficasse calado caso o tal atleta que o inspirou jogasse e marcasse um golo na própria baliza. Aí, seguramente, a piada seria outra. Mas na mesma ridícula.